Jones Rossi faz bem em relembrar, na Gazeta, que o tal "discurso do ódio" foi gerado na era lulista, durante a qual quem criticasse o tiranete era chamado de fascista:
"O que eu vejo? Quando eu vejo os discursos dessas pessoas, quando eu
vejo essas pessoas acharem bonito que 'tem que vender tudo o que é
público', que 'o público não presta nada', ainda bem que a natureza,
contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus.
Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que
apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises. Essa crise
do coronavírus, somente o Estado pode resolver isso, como foi a crise
de 2008."
A fala acima é de autoria de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente
do Brasil e corrupto condenado pela justiça. Como convém a um bandido, a
fala reflete o pensamento de um criminoso, que exalta uma desgraça
porque ela prejudica seus adversários políticos.
A tropa de chope petista saiu logo em defesa de Lula, usando a velha e
manjadíssima desculpa de que ele foi mal interpretado. Gleisi Hoffmann,
sua fiel escudeira, foi logo às redes sociais passar pano. “Há dois
meses Lula fala sobre coronavírus, prega solidariedade e ação do Estado
para salvar pessoas, mas isso não é notícia. Agora, de forma oportunista
e desleal, exploram frase mal formulada em que Lula só quis mostrar que
com o coronavírus temos chance de repensar o papel Estado!”
Lula e Gleisi Hoffmann são figuras da política brasileira que
deveriam pertencer ao passado. Mas essa atenção momentânea que estão
recebendo serve para relembrarmos como viemos parar aqui.
“Passar pano”, “discurso de ódio”, “robôs de redes sociais”, nada
disso nasceu com o governo Bolsonaro. O antepassado dos atuais sites
governistas é o Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim; os robôs que
defendem Bolsonaro noite e dia são versões aprimoradas dos famosos MAV
(Militância em Ambiente Virtual, que até recentemente distribuía
dinheiro para influenciadores digitais falarem bem do governo do Piauí)
do PT. Se hoje todos que se opõem ao governo Bolsonaro são tachados de
comunistas - até o ministro Sergio Moro, que fez mais contra a corrupção
em quatro anos de Lava Jato que Bolsonaro jamais fez em trinta anos
como deputado, já entrou para a lista -, é necessário lembrar que o PT
chamou praticamente qualquer um que não fosse um radical de esquerda de
fascista.
Durante anos, Lula sacou a carta do nazismo a todo momento para
atacar seus adversários. “(…)o preconceito contra nós, as injustiças…
parece que estão agredindo a gente como os nazistas agrediam no tempo da
Segunda Guerra”, afirmou Lula, se referindo aos tucanos, durante a
campanha de 2014, quando Dilma foi reeleita. Ele não parou por aí. “Eles
são intolerantes. Outro dia eu disse para eles: vocês são mais
intolerantes que Herodes, que matou Jesus Cristo por medo de ele se
tornar o homem que virou. Querem acabar com o PT, querem acabar com a
presidente Dilma, achincalhar ela, chamar de leviana.” Nazistas e piores
que Herodes: para Lula, estes são os tucanos, que por coincidência hoje
viraram alvo dos bolsonaristas.
Em janeiro deste ano, a nazista da vez, para Lula, foi a TV Globo. "O
que a Globo está fazendo com o Intercept, era capaz que o nazismo não
fizesse. Ela só teve coragem de citar o Intercept duas vezes: quando o
Intercept publicou o nome do Faustão, que acho que tinha dado aula pro
Moro, e quando foi citar o nome do Roberto D'Ávila, que tinha trabalhado
para arrecadar dinheiro para o meu filme", afirmou o ex-presidente, se
referindo a uma bobagem em voga na época. A Globo, por sinal, também
virou alvo de ataques bolsonaristas.
Gleisi, em 2018, chamou o dono da Havan, Luciano Hang, de “nazista” e
“canalha”. Gleisi também já disse que Bolsonaro é pior que Hitler. "O
discurso de Bolsonaro foi pior do que o discurso de Hitler na Alemanha
em situação semelhante antes da eleição."
Não é preciso reforçar, em 2020, que essas comparações não fazem
sentido e o único efeito prático delas é diminuir o horror nazista e
fazer pouco caso das milhões de vítimas do Terceiro Reich. Aliás, não é o
único efeito prático. Durante anos figuras-chave do PT acusaram
praticamente todos os brasileiros de serem piores que Hitler, inclusive
os que se indignaram com a ruína econômica causada pelo desastroso
governo Dilma. Quando Bolsonaro foi eleito, muito em parte ao sentimento
anti-PT que cresceu entre a população, houve quem viesse a público
dizer que o povo não sabe votar. Aparentemente o povo só tem valor
quando o PT é beneficiado.
Em 2011, a falta de qualquer pudor era tanta que a Militância em
Ambientes Virtuais do PT não era algo secreto. Pelo contrário, davam
entrevistas em jornais falando das intenções escusas. A criação dos MAVs
foi feita abertamente em um congresso do partido, com a aprovação do
então presidente do partido, Rui Falcão. Em entrevista à Folha de S.
Paulo, um militante afirmou que "quando sai algo contra um governo
petista, a mídia faz escândalo, dá página inteira no jornal. Temos que
ir para cima".
Esse discurso violento migrou do virtual para o real em outubro de
2014, quando 200 militantes picharam e depredaram a entrada da editora
Abril, em São Paulo, por causa de uma capa de Veja com denúncias contra a
então presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff. Mais uma vez,
não por coincidência, atualmente a revista atualmente também virou alvo
dos bolsonaristas.
Em março de 2016, militantes petistas se reuniram na frente da sede
da TV Globo, no Rio de Janeiro para denunciar “a perseguição dos meios
de comunicação” contra Lula. Para esses militantes, toda a história da
corrupção na Petrobras era conspiração da mídia contra o PT e Lula. “Se
atacarem Lula, estão me atacando”, era o grito de guerra. É chover no
molhado lembrar que também hoje Bolsonaro e parte de seus apoiadores
também de consideram perseguidos injustamente pela imprensa malvadona.
Lula e Bolsonaro têm muito mais em comum do que ambos gostariam. O já
infame “E daí?” de Bolsonaro ao menosprezar as mortes pela Covid-19 foi
chocante. O “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade,
criou esse monstro chamado coronavírus” de Lula serviu para nos lembrar
que nada do que está acontecendo atualmente é acaso ou coincidência.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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