Com a Covid-19 a incerteza dominará a política e a economia global no
futuro próximo, até se encontrar, e implementar globalmente, uma cura
eficaz. Artigo de Bruno Cardoso Reis para o Observador:
Estamos cansados do tema da Covid-19 e da quarentena. Queremos
acreditar que vai correr tudo bem. Infelizmente, há sinais de que nem
tudo está ou irá correr bem. Há mesmo sinais de que o mundo globalizado e
interconectado em que temos vivido, pode estar ameaçado. Há sinais de
que podemos estar a caminho de uma verdadeira guerra pelo controlo da
cura para a pandemia.
Este é, por isso, um texto mais longo do que será a regra aqui, mas
mais curto do que o tema exigiria. Espero que seja, apesar disso, um
texto suficientemente estruturado para ser claro para quem tiver a
paciência de o ler até ao fim, ou, em alternativa, facilite a tarefa de
saltar por cima das partes que não interessem tanto.
Com a Covid-19 a incerteza dominará a política e a economia global no
futuro próximo, até se encontrar, e implementar globalmente, uma cura
eficaz. A prova de coragem neste contexto não é ir para a rua assobiando
alegremente como se nada se passasse, nem ficar fechado em casa de
olhos fechados à espera que tudo passe. Temos de lidar de olhos abertos
com as implicações para o mundo de uma doença nova, para melhor lhe
podermos responder em Portugal e na Europa.
O que sabemos, o que não sabemos, e a necessidade de gerir o risco
Sabemos que a Covid-19 já matou mais de 300.000 pessoas, das quais
metade são europeus como nós. Sabemos que continuará a matar, sobretudo
os mais velhos e os afetados por doenças crónicas, até se encontrar uma
vacina ou cura eficaz. Sabemos que biliões foram obrigados a ficar em
casa na maior quarentena da história da humanidade. Sabemos que a
Comissão Europeia estima que os vários custos da Covid-19 na Europa
representarão, no mínimo, uma contração de -7% da economia europeia,
podendo ir até aos -15% ou mais. Sabemos que não temos registo de uma
queda tão abruta e tão simultânea das economias no conjunto do globo.
Mas também há muito que não sabemos, e talvez até seja o mais
interessante.
Desconhecemos ainda a duração, intensidade e geografia do impacto
final da Covid-19 e da enorme crise económica que está a gerar. Não
sabemos qual será a cura mais eficaz ou que tratamentos, medicamentos e
vacinas funcionarão ou não. Também não sabemos quais serão as melhores
estratégias de conciliação da saúde das pessoas com a saúde da economia.
Também por isso, não sabemos quanto tempo durará a pandemia ou se virá
em vagas e com maiores ou menores mutações do vírus e da sua letalidade.
Não sabemos qual será o seu custo final, em vidas e nos nossos modos de
vida. Não sabemos se a geografia final do seu impacto será aquela que
já conhecemos, com a pandemia a atingir com maior força os países mais
envelhecidos e as regiões mais densamente povoadas e conectadas do
Mundo, nomeadamente na Europa e nos EUA. Não sabemos se veremos
alterações significativas neste mapa das principais vítimas da pandemia,
como o caso do Brasil com o seu preocupante crescendo de casos poderá
indicar.
É uma crendice pensar que há algures um sabe-tudo que tem a solução
para todos os problemas criados pela Covid-19. É uma crendice perigosa
pensar que alguma vez vivemos ou poderemos viver em sociedades de risco
zero, onde um Estado todo-o-poderoso pode garantir que nada de mal nos
irá acontecer. A República Popular da China foi incapaz de impedir o
surgimento desta pandemia, apesar do Partido Comunista chinês ter
concentrado em si enorme poder.
A gestão do risco faz parte da vida de todos nós. Mas para ser feita
de forma inteligente e eficaz, é necessário termos informação de
qualidade, alguma flexibilidade e capacidade de aprender lições. Devemos
aprender com o passado – de preferência, com o passado dos outros –
para evitar erros desnecessários. Por isso me parece indispensável
aprendermos com a experiência de vários países, nomeadamente os
asiáticos, que estão numa fase mais adiantada do combate à pandemia.
Pareceu haver na Europa, na fase inicial, um certo preconceito
relativamente a aprender com a experiência de países asiáticos, veja-se a
questão do uso das máscaras. Isso é um erro que nos poderá sair caro.
Um exemplo concreto dessas lições “asiáticas” que parece merecer, no
mínimo, atenção nesta fase de desconfinamento, é a importância do uso
responsável de novas tecnologias, como apps para evitar contágios
descontrolados. A União Europeia deveria ter aqui um papel importante,
se os Estados deixarem, em encontrar um modelo que proteja direitos, mas
não nos deixe às cegas, e que seja compatível no conjunto do espaço
europeu.
Neste espírito de não continuar às cegas a nossa gestão do risco da
Covid-19, apontaria para três das questões fundamentais relativas ao seu
impacto no Mundo:
* Quem irá controlar a cura?
* A pandemia levará a uma Grande Depressão, ao fim da Globalização e a mais caos e guerras?
* A Covid-19 dará vantagem a regime autoritários?
A cura como arma geopolítica
Qual será a cura ou a vacina mais eficaz no combate à Covid-19? Quem
descobrirá e produzirá essa cura, e em que termos serão estes
tratamentos distribuídos a nível global? Não sabemos com certeza. Mas
sabemos que a maioria dos candidatos mais prováveis a providenciar um
tratamento ou uma vacina estão na China ou na EUA, e um ou duas na
Europa. E sabemos também que os melhores remédios para combater a
Covid-19 tornaram-se trunfos sem igual numa política global dominada
pela pandemia, e que se tem tornado cada vez mais competitiva.
No futuro, será fundamental que os países da Europa se coordenem para
aumentar a sua autonomia e as reservas em setores estratégicos como o
da saúde, pois, tal como Portugal, a maioria dos Estados europeus são
demasiados pequenos ou pobres para o poder fazer eficazmente e a um
custo aceitável.
Na verdade, os dois países mais fortes militar e economicamente no
Mundo de hoje, a China, quer os EUA não parecem estar a sair-se muito
bem desta pandemia. Nenhum se afirmou como líder eficaz e consensual na
resposta global à Covid. Talvez por isso os EUA e a China pareçam tão
empenhados em recuperar terreno por via do controlo da cura. Notícias
recentes de espionagem chinesa a empresas farmacêuticas norte-americanas
envolvidas no desenvolvimento da vacina apontam para a intensidade
desta competição. Mas talvez ainda mais reveladoras sejam as tensões
reportadas na imprensa entre aliados, nomeadamente, entre a Alemanha, a
França e os EUA, em torno de farmacêuticas envolvidas na investigação de
uma vacina. O efeito de países membros da NATO usarem uma vacina ou uma
cura de acordo com uma lógica puramente nacionalista, ignorando os
interesses dos seus aliados, seria terrível para a coesão e a
viabilidade futura desta aliança, que ainda é, de longe, a mais robusta
do Mundo.
Os peritos em epidemias insistem que, independentemente de questões
éticas, em última análise, estamos todos juntos nisto. Será necessária
uma percentagem muito significativa da população mundial ficar imunizada
ao vírus para ele deixar de ser uma ameaça. Mas será um grande desafio
conseguir produzir biliões de doses de uma vacina ou de outro
tratamento, portanto, o receio de que as grandes potências pensem apenas
ou sobretudo nos seus interesses é grande e parece justificado.
Esperemos que sejam rumores maliciosos, mas preparemo-nos, na Europa,
para o caso de não ser assim.
A UE e a Fundação Bill & Melinda Gates (que é uma grande potência
financeira no campo da saúde global) têm estado apostadas em contrariar
as lógicas nacionalistas, oferecendo financiamento para investigação e
produção destes medicamentos na condição de que sejam distribuídos de
acordo com critérios médicos e disponibilizados globalmente o mais
depressa possível. A Comissão Europeia organizou recentemente um apelo
global, que recolheu mais 7 mil milhões de euros para este efeito.
Muitos foram os países, as organizações e os indivíduos que
contribuíram, mas tal não foi, significativamente, o caso dos governos
da China ou dos EUA.
No futuro, será fundamental que os países da Europa se coordenem, com
a ajuda das instituições europeias, para aumentar a sua autonomia e as
reservas em setores estratégicos como o da saúde, pois, tal como
Portugal, a maioria dos Estados europeus são demasiados pequenos ou
pobres para o poder fazer eficazmente e a um custo aceitável. No
presente, é crucial que os países europeus se continuem a coordenar para
garantir que a cura quando chegar é para todos.
Evitar uma Grande Depressão
No impacto da pandemia para além do curto prazo uma coisa parece
evidente: a economia é fundamental. Nunca na história da humanidade a
economia parou praticamente ao mesmo tempo e por tanto tempo em tantos
países. Assim, é agora fundamental encontrar formas criativas de
conciliar as preocupações em evitar mortes desnecessárias com a
necessidade de evitar matar a economia. Veremos, provavelmente,
acentuarem-se as dinâmicas de inovação tecnológica e uma digitalização
ainda maior da economia. Mas, com é evidente num país como Portugal, os
setores tradicionais como o turismo ou a restauração, dominados por PMEs
não podem simplesmente ser deixados morrer.
Será fundamental que os Estados e a União Europeia avançarem com
enormes quantidades de investimento a fundo perdido para evitar que todo
o esforço de reconstrução da economia desde a crise de 2008/11 seja
perdido. Convém recordar que o Plano Marshall, de 1948, que tem sido
frequentemente referido neste contexto, não foi uma oferta caridosa dos
EUA à Europa do pós-Segunda Guerra Mundial. Ele correspondeu aos
interesses económicos norte-americanos, que precisavam de um mercado
europeu próspero para onde exportar e no qual investir. Correspondeu aos
interesses de segurança dos EUA que não queria a Europa Ocidental no
caos que a deixaria vulnerável face ao seu rival, a Rússia soviética.
Hoje não basta dizer que não queremos que a China compre toda a Europa, é
preciso encontrar alternativas credíveis.
Será que ainda teremos euros no bolso ou no cartão de crédito daqui a
uns anos ou será a moeda europeia uma vítima mais da Covid-19? Muito
dependerá da criatividade e da credibilidade do Banco Central Europeu,
apesar da sua tarefa ter sido tornada mais difícil pelo Tribunal
Constitucional alemão. Para além do BCE, também os Estados membros e a
Comissão Europeia têm de fazer a sua parte. Esperemos que a Chanceler
Merkel tenha a coragem de investir e arriscar o seu imenso capital
político para evitar o risco do colapso da economia europeia, como o fez
em 1948, George Marshall, para ajudar a Alemanha. Ninguém questiona os
sucessos alemães nas últimas décadas. Mas será bom recordar que eles
seriam impensáveis fora do contexto do euro, ou da UE.
Alguma mutualização da dívida dos países europeus parece
indispensável, e não só pela escala dos fundos necessários para evitar
uma Grande Depressão. Este será, em sim mesmo, um teste valioso para os
mercados globais perceberem se os Estados das UE estão realmente
dispostos a pôr de lado velhos tabus e a fazer de tudo para salvar a
economia europeia desta crise. Vital para o futuro economia europeia e
portuguesa será também que o plano europeu de resgate da economia seja
suficientemente vasto, generoso e flexível, e suficientemente rápido,
para ser útil. Os montantes e as modalidades deste plano de resgate da
economia europeia são pontos cruciais que ainda não conhecemos,
esperemos que não por muito tempo.
O fim da globalização sairia cara à Europa
O nacionalismo e a xenofobia são respostas habituais na história às
grandes crises, às grandes epidemias. Há, portanto, um risco real de que
a economia globalizada que conhecemos seja mais uma vítima do vírus, ou
pelo menos se torne um fantasma, uma sombra do seu passado. Há o perigo
de que organizações multilaterais como a OMS ou a OMC se transformem
numa espécie de mortos-vivos, não formalmente extintas, mas privadas de
financiamento e sem capacidade de se funcionar adequadamente. Ora, o fim
da economia globalizada que conhecemos seria um enorme desafio para o
conjunto da Europa que tem nas exportações e no turismo uma parte
fundamental do seu modelo económico, quer estejamos a falar da Alemanha
ou de Portugal.
Claro que o regresso a um modelo de maior produção e maior consumo no
mercado interno poderá trazer alguma compensação. Mas parece-me
duvidoso que seja suficientemente para compensar a perda de mercados
externos gigantescos como a China ou os EUA. As crescentes tensões entre
a China e os EUA tornam cada vez mais provável um cenário em que Pequim
e Washington tentarão criar verdadeiros blocos ideológicos e
comerciais. A UE deve procurar contrariar isso. Deve apontar como
alternativa para a reformas de organizações como a OMS ou OMC. Deve
também tratar do reforço da sua capacidade própria em setores realmente
estratégico. Deve combater práticas abusivas por parceiros comerciais
pouco honestos. Mas também deve combater as tentativas de criar
economias muradas face a tudo o que venha do exterior. Ao mesmo tempo
deve preparar-se para o pior cenário, desde logo continuando a reforçar
laços com outros países e organizações com preocupações semelhantes,
como o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália ou organizações
como a ASEAN ou MERCOSUL. Numa economia significativamente menos global,
dificilmente deixaremos de ficar significativamente mais pobres. Se a
sobrevivência do próprio mercado europeu ficasse em risco, então as
consequências seriam catastróficas. Basta pensar num Portugal dependente
apenas do turismo doméstico.
Combater a proliferação de conflitos
A nossa única grande certeza relativamente à Covid-19 é, para já, uma
enorme incerteza, e isso é em si mesmo um dado muito importante quando
falamos do seu impacto na economia ou na intensificação dos níveis de
conflito. Esta incerteza gera uma enorme volatilidade. Não há nada pior
para os agentes económicos do que fortíssimas oscilações no consumo, nos
preços, na produção, que são difíceis de prever ou contrariar. Mas pior
ainda é que uma enorme volatilidade é também um fator potenciador de
mais e mais intensos conflitos violentos. O pico da incerteza e da
volatilidade económica no século passado foi atingido a seguir a 1929
com a chamada Grande Depressão. Dez anos depois tivemos a Segunda Guerra
Mundial.
No curto prazo, o receio da Covid-19 pode ter atenuado alguns
conflitos em curso. Até o Daesh/ISIS avançou com recomendações
sanitárias para proteger os seus terroristas. E a doença poderá dar o
pretexto honroso para o início de negociações entre grupos em confronto
já anteriormente desejosos de um compromisso. Mas uma emergência destas
não levam a uma paz duradoira. Neste campo dos conflitos muito dependerá
de sabermos se teremos ou não uma longa e profunda Grande Depressão, ou
uma forte recessão que depressa levará a uma recuperação que dará
esperança mesmo àqueles mais atingidos. Quando nada se tem a perder, o
custo de recorrer à violência cai perigosamente.
O que será, em todo o caso, fundamental, é que os países da Europa
não desinvistam da Defesa nesta altura de enorme incerteza. Isso iria
criar ainda mais tensões no seio da NATO, com os EUA muito determinados a
conseguir que os seus parceiros europeus partilhem mais do esforço de
defesa coletiva. Seria um erro num contexto em que podem multiplicar-se
as situações de conflito armado ou de caos. Seria um erro porque o
investimento em defesa também pode e deve ser uma forma de estimular a
economia, de promover a inovação tecnológica e o emprego qualificado
(países como os EUA, Israel ou China têm demonstrado isso com grande
sucesso). Seria, sobretudo, um erro porque, como ficou evidente nesta
pandemia, as Forças Armadas servem para muito mais do que combater
inimigos tradicionais. Desinvestir na robustez dos seus meios e na
prontidão dos seus homens seria reduzir a capacidade de resposta dos
países europeus a uma nova emergência complexa como aquela que agora
vivemos. O que podemos e devemos fazer é, recorrendo a mecanismos que já
existem, investir de forma mais coordenada e que beneficie todos,
nomeadamente no seio da UE.
Líderes autoritários não ganham no combate à Covid-19, mas por vezes parece
Têm surgido várias listas de vencedores da pandemia ao nível da
política e da economia global. Entre os vencedores apontados estão
precisamente líderes e regimes mais ou menos autoritários, nomeadamente,
o de Xi Jinping e o PC chinês, ou, na Europa, o de Viktor Órban da
Hungria. O caso da autodesignada democracia iliberal de Orbán na Hungria
é efetivamente paradigmático do risco, na própria Europa, do abuso dos
poderes de emergência no contexto do Covid-19. É verdade, como diz o
hábil Orbán, que outros países europeus, inclusive Portugal, também
deram aos seus governos poderes de emergência. Os sinais de alerta
fundamentais, porém, são quando esses poderes de emergência não têm
limites temporais, são usados para fins que nada têm que ver com a
emergência, e escapam ao escrutínio do parlamento, dos tribunais ou de
eleições. No caso da Hungria estão presentes todos ou quase todos estes
elementos que nos devem alarmar. As instituições da União Europeia e o
Partido Popular Europeu, de que o partido de Orbán ainda faz parte,
embora esteja suspenso, têm aqui um papel importante. Devem aumentar a
pressão para garantir que o líder húngaro recue. Órban é um artista na
dança política leninista de dar um passo atrás para depois dar dois para
a frente, de testar os limites do possível. E é, por isso, provável que
acabe por anular grande parte destas medidas se perceber que há um
preço real a pagar no contexto europeu. Caso contrário, pode-se criar um
precedente perigoso para o mínimo de coesão em valores básicos que é
indispensável para uma estrutura como a União Europeia poder funcionar.
Alguns Estados, para já, responderam melhor a este duro teste. A boa
notícia é que todos eles ou quase, da Coreia do Sul até a Alemanha, ou à
Nova Zelândia, são democracias plenas (a exceção parcial seria o caso
especial de Singapura).
O segundo ponto crucial é que nenhum país, nenhum regime, nenhum
líder estava plenamente preparado para uma emergência deste tipo que é
por natureza inesperada. Talvez a dita “aliança das avestruzes” que
agruparia líderes como Trump nos EUA, Maduro na Venezuela, Bolsonaro no
Brasil, ou Ortega na Nicarágua estivesse especialmente mal preparado
para lidar com este desafio. Daí ter preferido esconder a sua cabeça na
areia, ignorar os riscos ou atirar a culpa para outros. Mas todos os
Estados tiveram dificuldades em encontrar a melhor resposta.
É claro que é possível dizer que alguns Estados, para já, responderam
melhor a este duro teste. O que têm em comum estes Estados? Têm
economias ricas e instituições sólidas. Estão bem-dotados de recursos e
reservas estratégicas. Investem em boas políticas públicas. A boa
notícia também é que todos eles ou quase, da Coreia do Sul até a
Alemanha, ou à Nova Zelândia, são democracias plenas (a exceção parcial
seria o caso especial de Singapura).
O que os regimes autoritários fazem muito melhor do que as
democracias é controlar a população. Este último aspeto pode ser uma
forma brutal, embora eficaz, de controlar uma pandemia. As ditaduras
também são excelentes a controlar o fluxo de informação. São, porém,
muito más a lidar com más notícias. Este último aspeto torna difícil
saberem atempadamente que existe uma pandemia, embora possa permitir,
depois, por via da censura e da propaganda, atenuar ou reverter os seus
efeitos negativos na perceção pública nacional e global.
Neste ponto, é fundamental a União Europeia reforçar a sua capacidade
de combate à desinformação e à propaganda hostil. Mas também, e
sobretudo, é fundamental que a UE mostre real solidariedade e uma
capacidade eficaz de resposta a esta crise. Nada melhor do que uma
Grande Depressão para facilitar o trabalho daqueles que aproveitam o
desespero das pessoas que perderam o seu modo de vida para vir oferecer
soluções simples e musculadas, mesmo que à custa do sacrífico das
liberdades. Temos de garantir, pelo menos ao nível da Europa, que esta
profecia não se concretiza.
Todas as crises são oportunidades de mudança. Será vital que a UE
perceba que tem aqui uma oportunidade para modernizar a economia
europeia e para reforçar a resiliência das sociedades europeias a este
tipo de emergências. A UE tem, em suma, uma oportunidade que não pode
perder de mostrar que consegue mudar para fazer mais pelos europeus.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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