Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
Juscelino Kubitschek, presidente da República, tentou cassar o
mandato de Carlos Lacerda, o temível orador oposicionista. Este
colunista ouvia os duelos entre Carlos Lacerda e o baiano Vieira de
Mello pelo rádio de ondas curtas. Valia a pena, apesar do som horroroso.
Adhemar de Barros e Jânio Quadros eram, mais que adversários, inimigos;
insultavam-se em discursos. Jânio chamou Adhemar de “rato”. Lacerda
duelou com o temível Leonel Brizola e com o presidente Castello Branco –
de quem disse que era mais feio por dentro do que por fora. Brizola,
duro adversário político do grande senador Paulo Brossard, chamava-o de
“Ruy Barbosa em compota”.
São mais de cinquenta anos de história, com adversários bons de
briga, até com ameaças de morte. Mas, nesse tempo todo, ninguém tocou na
família do adversário, ou do inimigo. O adversário era uma pessoa a ser
combatida, mas sem chamar ao picadeiro sua esposa e seus filhos. As
ideias podiam ser destruídas, mas o tema era política. O Estado de
S.Paulo, que não suportava Adhemar de Barros, se referiu à sua esposa,
Leonor Mendes de Barros, como “senhora de peregrinas virtudes” - um
elogio e tanto.
Não dá para aceitar que, para atacar Bolsonaro, falem de sua esposa.
Ataquem-no - a ele. Quem governa é ele, não ela. O relacionamento entre
ambos não é tema de debate público. Quem faz jogo tão sujo aonde quer
chegar? Política é cruel, mas como tudo na vida tem de ter um limite
ético.
Lula lá
Duas ondas seguidas de indignação: primeiro, com o papa Francisco,
por ter recebido em audiência o ex-presidente Lula; segundo, com a
prefeita de Paris, por ter outorgado a Lula o título de Cidadão
Honorário. Certo, Lula foi condenado pela Justiça brasileira. E daí? O
papa é monarca do Estado do Vaticano, tem todo o direito de receber quem
quiser. E, sendo também um líder espiritual, tem a tarefa de oferecer
consolo aos aflitos. Não é questão de merecimento: é missão de vida. Daí
a achar que o papa é comunista, como vimos em tantos protestos, vai uma
certa distância.
A Igreja é mais antiga que Marx, sobreviveu ao comunismo e tem, ao
lado do papa, um sólido grupo de assessores católicos altamente
preparados. Quanto à prefeita de Paris, é socialista. Não ofendeu o
Brasil: festejou o correligionário. Algo que o PT fez com Césare
Battisti: deu-lhe proteção, sem intenção de ofender a Itália.
Reação brasileira
Com todos os problemas da economia internacional nesses tempos de
coronavírus, a balança comercial brasileira foi excepcionalmente bem em
fevereiro: exportamos quase US$ 3,1 bilhão além do que importamos. É o
3º maior superávit comercial de fevereiro dos últimos 31 anos. Se é
verdade que os problemas chineses reduziram as importações de lá,
reduziram também as exportações para lá.
Melhor: em janeiro houve déficit e o Brasil reagiu sem estímulos artificiais ou medidas econômicas de emergência.
Reação italiana
A Itália decidiu injetar € 3,6 bilhões (pouco mais de R$ 18 bilhões)
para combater o impacto econômico do coronavírus. O anúncio foi feito
pelo ministro da Economia, Roberto Gualtieri. A Itália é o país europeu
com mais casos de pessoas infectadas pelo coronavírus.
Agora vai!
Lembra-se do “Meu nome é Enéas”? O partido de Enéas Carneiro, o
Prona, fundiu-se após a morte de seu líder com o Partido Liberal, PL,
dando origem ao PR, Partido da República, de Valdemar Costa Neto. Pois
um companheiro de Enéas, o ex-deputado federal Elimar Damasceno, quer
recriar o Prona, “que atuará como grande reforço do Governo Bolsonaro”.
Como será seu slogan? “Meu nome é Elimar Damasceno” fica estranho.
Uma dica: a dra. Havanir Nimtz (“Meu nome é Havanir”) está no PRTB, partido de Levy Fidélix, o do aerotrem.
Razão para quem tem
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, tem toda a razão ao culpar parte
da população, que joga lixo nas ruas e nos córregos, pelo agravamento
das enchentes no Rio (isso vale também para outras cidades).
Mas há algumas perguntas a que Crivella poderia responder: a
primeira, por que uma parte da população joga lixo em lugares
inadequados? Não seria por falta de lugares adequados e de coleta
adequada? Segunda, por que, durante seu mandato, não foi aplicado R$ 1,2
bilhão, previsto em orçamento, para contenção de enchentes?
Há mais algumas coisas: como disse Crivella, a família vai para uma
área de risco e quer ficar o mais perto possível do córrego, para gastar
menos com os tubos que levarão seus dejetos à água. Talvez isso ocorra
por falta de um sistema de coleta e tratamento de esgotos. E quem
autoriza, ou deixa de proibir, casas em lugares perigosos? Não seria a
Prefeitura, a própria? Ao omitir-se, não se coloca como cúmplice dos
danos das chuvas?
A propósito, já se descobriu o que andava contaminando a água do Rio?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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