Foto: Douglas Juarez/Reuters
Venezuelanos nas ruas de Tumbes, no Peru
Apesar do impacto da Operação Lava Jato e da queda do preço das
commodities, a economia peruana tem apresentado uma rara estabilidade e
cresce em ritmo razoável – fato incomum em uma região estagnada. É
exatamente a solidez econômica o fator que mais atrai venezuelanos ao
Peru. Em fuga da crise criada pelo chavismo, 715 mil vivem hoje no país,
segundo dados oficiais do governo peruano. A enfermeira Lila Valera
saiu da Venezuela, deixando para trás as três filhas e a mãe, em busca
de dinheiro para alimentar a família, nem que fosse a milhares de
quilômetros de distância. A reportagem do Estado acompanhou a fuga de
Lila da Venezuela, em junho de 2018. Sem dinheiro suficiente para uma
passagem inteira, ela então viajou parte do trajeto em pé no veículo,
que foi alvo de pedradas de saqueadores na saída de Caracas. Dez meses
depois, a reportagem voltou a procurá-la em Lima. No Peru, ela conseguiu
uma rede de clientes como cuidadora de idosos e plantões na seção de
enfermagem de um hospital. Guarda cada trocado que pode para ajudar as
filhas. Muito magras, as meninas, às vezes, almoçam só arroz. A casa em
que vivem quase nunca tem luz, segundo Lila. “Vivo há dez meses no Peru.
Consegui trabalho e tenho conseguido sobreviver e ajudar minha família
na Venezuela. O Peru, na parte econômica, é muito melhor que a
Venezuela”, conta Lila. “No segundo dia aqui, saí para procurar emprego,
com apenas 20 soles (moeda peruana). Com outros venezuelanos,
descobrimos onde precisavam de garçonetes. E assim foi indo, até que
consegui me estabelecer como enfermeira”. O milagre econômico peruano
começou nos anos 90, com a adoção do programa de ajuste do Banco
Mundial, que pretendia tornar o país mais atraente para empresas
estrangeiras por meio de reformas, desregulamentações e privatizações.
Foi a maneira que o então presidente Alberto Fujimori encontrou para
superar a crise – a inflação chegou a 400% ao mês em 1990. Ao abrir sua
economia, as exportações dispararam e os investimentos estrangeiros
começaram a entrar, o que fez a dívida pública peruana diminuir, a
inflação ser contida e as reserva cambiais aumentarem. Em 1990, o Peru
exportava US$ 3 bilhões. Em 2010, US$ 36 bilhões. A estabilidade já dura
20 anos e tem resistido ao fim do ciclo das commodities e aos efeitos
da Operação Lava Jato nas obras de infraestrutura. Nos últimos anos, o
Peru tem diversificado sua pauta de exportações, que tradicionalmente
dependia de metais como cobre, ouro e ferro, e agora conta também com
frutas e legumes. Isso, segundo analistas, evitou uma desaceleração
maior da economia. “A diversificação veio após a queda dos preços dos
metais, em 2014”, explica o economista da Pontifícia Universidade
Católica do Peru Óscar Dancourt. “Graças a investimentos em irrigação,
com recursos provenientes do boom das commodities, tanto privados quanto
públicos, cresceu a produção de aspargos, uvas e abacates,
principalmente em razão da demanda de países ricos por uma alimentação
mais saudável”. Com a economia mais dinâmica, o consumo cresceu, assim
como o emprego formal e a construção civil. Entre 2002 e 2013, o Peru
nunca cresceu menos de quatro pontos porcentuais por ano – exceção feita
a 2009, quando a crise financeira fez a economia crescer apenas 1,1%.
“Os anos de alta do preço dos metais levaram também a uma necessidade de
ampliar a infraestrutura do país”, lembra Dancourt. “É nesse momento
que aparecem as obras envolvidas na Lava Jato. Estimava-se que a
construção do gasoduto no sul do Peru acrescentasse 1 ponto porcentual
ao crescimento do PIB (a obra foi paralisada)”. Leia mais no Estadão.
Estadão Conteúdo
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