O
ovo de galinha vem registrando sucessivos aumentos de preço. Somente em
março, a alta foi de 13,13%, segundo dados do IPCA. A valorização é
reflexo de fatores sazonais, condições climáticas adversas, crescimento
da demanda e elevação nos custos de insumos como milho e farelo de soja —
combinação que tem pressionado diretamente o setor de alimentação fora
do lar.
Embora
a produção nacional tenha alcançado um recorde em 2024, com crescimento
de 10% em relação ao ano anterior, o aumento dos preços não foi
contido. No quarto trimestre, a produção chegou a 1,2 bilhão de dúzias, o
maior volume trimestral da série histórica do IBGE. Ainda assim, o
impacto dos custos, somado ao aumento das exportações, sustenta a
tendência de encarecimento.
“A
alta no preço dos ovos afeta especialmente os pequenos negócios, que
são a maioria no setor”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
“Cerca de 85% dos estabelecimentos de alimentação fora do lar no Brasil
são de pequeno porte, com estrutura enxuta e margem apertada. Para esses
empreendedores, oscilações de custo como essa comprometem diretamente a
sustentabilidade do negócio”, completa.
O desafio de manter as margens
Estabelecimentos
de alimentação fora do lar que dependem do ovo em suas receitas estão
entre os mais vulneráveis à escalada de preços. É o caso da confeitaria
Bons Suspiros por Ana Salvá, em Cuiabá (MT), cuja produção exige grandes
quantidades de claras. “Não existe a possibilidade de substituir o ovo
nas minhas receitas, e isso faz com que a nossa margem, que já é
apertada, fique ainda menor”, afirma Ana.
A
empreendedora conta que ainda não conseguiu repassar o aumento dos
custos para o produto. Essa é uma realidade compartilhada com 32% dos
estabelecimentos do setor. Segundo pesquisa da Abrasel, realizada em
março, quase um terço dos empresários de alimentação fora do lar não
conseguiu repassar os preços, e 59% reajustaram conforme ou abaixo da
inflação.
“Há
um descompasso entre o ritmo da inflação e a capacidade de repasse”,
explica Solmucci. “A lógica do setor não permite aumentos automáticos de
preço, como ocorre em outras cadeias produtivas. Quem não consegue
ajustar a operação com rapidez, vê a rentabilidade desaparecer”, afirma.
O peso do ovo na operação e nas finanças
Para
compreender como o insumo afeta a operação e as finanças, Sérgio
Molinari, especialista em mercado de foodservice, destaca um ponto
crítico: “O ovo é muito perecível. Você não pode estocar por muito
tempo, o que faz com que, mesmo com preços em alta, seja necessário
comprar frequentemente, dificultando que o estabelecimento possa se
beneficiar de compras grandes para obter melhores preços e se antecipar a
novas altas”, comenta.
Ele
ressalta que é necessário entender o peso desse ingrediente nas
receitas. "De uma omelete até receitas em que é coadjuvante, a inflação
dos ovos impactará diretamente nos custos do estabelecimento", explica.
Para
ilustrar o impacto da inflação nos ovos, Sérgio Molinari elaborou um
estudo que estima a necessidade de reajustes nos preços de cardápio com
base na participação do ingrediente no Custo de Mercadoria Vendida
(CMV).
Segundo
a análise, quando os ovos correspondem a 10% do CMV, o aumento
necessário para manter a rentabilidade seria de 2,3%. Se esse percentual
sobe para 25%, o reajuste ideal passa a ser de 5,8%. Quando o ovo
representa metade do custo, o índice chega a 11,2%, podendo alcançar 17%
ou até 22,5% nos casos em que a receita depende fortemente do insumo.
O
estudo revela que, mesmo representando uma fração relativamente pequena
do custo total, a elevação nos preços dos ovos dificulta que os
estabelecimentos absorvam a alta, especialmente em um cenário de aumento
generalizado de outras matérias-primas, salários, embalagens e
serviços.
Alternativas para contornar a alta
Sérgio
Molinari defende que é fundamental adotar estratégias que minimizem os
impactos da inflação. Entre as alternativas apontadas estão o
redirecionamento das vendas para pratos com maior margem de lucro e
menor uso de ovos, a avaliação da substituição dos ovos in natura por
versões líquidas ou em pó, e o controle rigoroso sobre perdas e
desperdícios.
A
negociação com fornecedores também é vista como essencial para
conseguir melhores condições comerciais. Já nos casos em que o ovo tem
um peso significativo no CMV, ele alerta que a remarcação dos preços no
cardápio pode ser inevitável.
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