Os progressistas têm mais informação sobre a nova direita e a velha esquerda do que a velha esquerda tem da nova direita, e vice-versa. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Modéstia
à parte, acho que na minha última sequência de textos obtive sucesso em
mostrar pelo menos uma grande sabotagem interna à direita, que esteve
escondida debaixo dos narizes de todo. É Ayan, sabidamente responsável
por fake news desde 2018, não só ter ficado livre, leve e solto, como
ainda posar de especialista no assunto, junto de autoridades. Enquanto
isso, gente que não cometeu nenhum crime, e até tinha imunidade
parlamentar, vai presa no inquérito das Fake News.
Vazamento
de conversa privada é o grampo do século XXI. Acredito que Ayan tenha
planejado grampear os olavetes e os bolsonaristas, e que tenha ido
passando conversas privadas ora à imprensa antibolsonarista, ora ao
Judiciário.
Outro fenômeno concomitante é a tomada dos movimentos político-partidários de direita por um bom-mocismo identitário.
Se
você conhece o ambiente da esquerda ou é de esquerda, você já viu esse
filme antes. Abstraia o fato de as vítimas serem gente de direita sem
culpa no cartório e considere: Você já viu gente sendo detida em prisão
preventiva, sem julgamento, por mais de um ano (Marcelo Odebrecht); você
já viu o judiciário chamando alguém de blogueiro pra desrespeitar o
direito ao sigilo da fonte (Moro versus Eduardo Guimarães); você já viu,
em suma, um judiciário com proatividade inédita se mover para pegar
alguém, sob os aplausos da imprensa.
Você
não sabe, mas é bem possível que a esquerda inteira tenha sido
grampeada por um infiltrado e, em virtude do seu rabo preso, esteja sob
chantagem. E, enquanto tudo isso aconteceu, os identitários aboliram dos
partidos de esquerda a preocupação com classe social e os transformaram
num chá de dondocas. As dondocas negras ficam conversando com as
dondocas quatrocentonas sobre como os homens brancos cis hétero são maus
e a esquerda agora é isso.
Minha hipótese para a Lava Jato e a velha esquerda
Ao
meu ver, faz sentido supor que uma terceira parte se moveu para
derrubar o Foro de São Paulo no Brasil e pretendeu usar dos mesmos
expedientes contra a direita em ascensão. Mas não adiantou grampear
nada, porque a nova direita, neófita na política, não tem rabo preso.
Luciano Hang não tem nenhum papel aparentado com o de Marcelo Odebrecht.
Aí ficam fazendo escarcéu por causa de rachadinha, de zap-zap, de
“genocídio”, de offshore.
Uma
vez que a direita é movida por opinião exposta nas redes sociais, resta
prender os opinadores e minar as redes sociais. As ameaças à democracia
dão na vista – ao contrário da Lava Jato, que deteve um faraônico
esquema de corrupção golpista e ganhou simpatia instantânea de
praticamente toda a população.
Se
você é de direita, provavelmente sabe que dá pra traçar um corte entre a
nova esquerda e a velha esquerda, já que Fidel fazia campo de
concentração pra gay até ontem e homossexualidade era “vício burguês”.
Homofobia à parte, qual é o perfil da velha esquerda brasileira?
Terceiromundista, estatista, nacionalista, anticapitalista. Pegue
Geisel, subtraia o anticomunismo et voilà. Diplomacia Sul-Sul, criação
de estatais, regulação de preços.
Ao
meu ver, o homem que melhor encarnava, no Brasil, o projeto do Foro de
São Paulo era Celso Amorim, ministro das relações exteriores dos dois
governos Lula. Quando Dilma entra, ele é trocado por Antonio Patriota,
um globalista afeito a ONGs. Bajular a ONU e as ONGs em território
nacional exclui, ao meu ver, a possibilidade de bajular o Foro de São
Paulo. Ou você bota um monte de gringo ongueiro tomando conta da
Amazônia, ou você deixa as FARC em paz lá, sem ter que dividir o ouro
com nenhum ongueiro.
Creio
que o governo Dilma tenha representado a troca, na esquerda brasileira,
da submissão ao Foro de São Paulo de Fidel pela submissão ao Fórum
Econômico Mundial (WEF, em inglês), de Klaus Schwab, que patrocina essa
coisa toda de identitarismo, de neomaltusianismo travestido de
ambientalismo, de Estado policialesco e passaporte vacinal.
A
velha esquerda olhava para o WEF e dizia: isto é capitalismo, é
direita! A nova direita olhava para o WEF e dizia: isto é comunismo, é a
esquerda! E deixam de enxergar que têm um inimigo em comum.
Troca de informação é necessária
Eu
só pude escrever este texto e os precedentes por me dispor a conversar
com gente bem-intencionada de todo tipo de opinião política. Estando de
fora do olavismo, por exemplo, eu nunca poderia enxergar Ayan sozinha. E
tendo sido opositora desse movimento, estou em posição privilegiada
para afirmar que sua conduta com críticos não é a de ameaçar nem de
bater. Nenhum grupo político tem condições de enxergar o atual cenário
político do Brasil sozinho.
Não
estou sugerindo que todos os homens de bem se juntem num único
movimento político; estou propondo que todos os homens de bem conversem.
Isso deveria ser o básico numa democracia saudável – que claramente não
é o nosso caso.
Mas
é o básico para que ao menos combatamos o inimigo comum, agora bastante
visível, que é esse movimento identitário ou progressista de empresas
monopolistas globais, oposto à democracia, à liberdade de expressão, ao
direito de ir e vir e aos demais direitos humanos (os da Declaração de
1948, não os que Jean Wyllys tira da cabeça dele). Os progressistas têm
mais informação sobre a nova direita e a velha esquerda do que a velha
esquerda tem da nova direita, e vice-versa.
Creio
que a única razão para as pessoas deixarem de conversar com membros de
outros grupos políticos é acreditarem que o pertencimento a um dado
grupo faz de alguém um imoral. Essa é uma inferência válida em alguns
casos, e eu subscrevo nos casos do Foro de São Paulo e da seita de Ayan.
Conversa com a esquerda
Com
quem conversar à esquerda? Creio que os antipetistas da esquerda e os
egressos da velha esquerda orbitem em torno de Ciro Gomes, Marina Silva,
Roberto Freire e Aldo Rebelo. Todos estes são nomes que não se meteram
fundo na Lava Jato. Destes, Marina Silva e Roberto Freire se
manifestaram em prol da Lava Jato; Ciro Gomes e Aldo Rebelo, contra.
Este foi acusado pelo líder do PP de receber propina, mas a coisa não
foi adiante. Na lista da Odebrecht constavam os nomes de Aldo Rebelo e
de Roberto Freire.
Ciro
Gomes, depois de toda a sua vassalagem prestada a Lula, dificilmente
consegue convencer de que ele seria melhor do que o guru do ABC. Além
disso, ele se coloca contra os identitários. Marina é chegada em ONG
cirandeira na Amazônia e em politicamente correto. Não combate os
identitários nem mesmo sendo crente. Quanto a Roberto Freire, o herdeiro
de Prestes no papado do comunismo brasileiro, estava defendendo a
“liberdade de expressão plena”, entendendo com isso que “o Judiciário é
que deve estabelecer eventuais limites, o que está sendo feito por meio
do inquérito sobre fake news no Supremo Tribunal Federal, cuja
continuidade […] deve ser defendida pela sociedade.” Como se vê, as
críticas de Orwell à perversão da linguagem pelo comunismo continuam
firmes e fortes. O posicionamento de Freire é posterior à censura do
Antagonista e da Crusoé pelo STF no âmbito do referido inquérito.
Desses
nomes, sobra só o de Aldo Rebelo a manifestar-se contra o
identitarismo. Também está numa cruzada nacionalista contra ongueiros na
Amazônia, o que ao meu ver depõe a favor do caráter dele, já que há
infinitos incentivos financeiros e sociais para ficar lambendo ongueiro.
O PCO tem seus surtos de lucidez e defende mais a liberdade de expressão do que o Livres, mas é adorador de Lula.
Pois
muito bem: se a nova direita quiser se inteirar do ponto de vista
palaciano da velha esquerda, o grupo de Aldo Rebelo me parece o melhor. O
que não exclui figuras avulsas que se agitam em torno daqueles outros
três nomes (Freire, Marina, Ciro), desde que sejam contrárias ao lulismo
e ao identitarismo ao mesmo tempo. Essa dupla oposição, num esquerdista
ou egresso da esquerda, é o que devemos buscar.
Mudança de mentalidade necessária à esquerda
Eu
juro que só comecei a entender os olavetes direito quando foquei no
fato de Olavo ter passado pelo PCB. O ethos é o mesmo dos comunistas
pacíficos dos anos 70. Estes também eram personalistas (cultuavam
Prestes) porém capazes de discussão interna cordial. Quando a coisa
esquenta demais, tem racha e eles ficam se matando. Mas o seu maior
defeito – plenamente compreensível, na época da Repressão – é o temor do
Outro.
Então
vamos combinar que Olavo de Carvalho muito provavelmente não é um
agente da CIA, ainda que more na Virgínia e a sede da CIA fique na
Virgínia. Se vocês quiserem escolher um agente da CIA, fiquem com Ayan.
Olavo só se lasca. Vejam que o MBL pôde fazer um escarcéu chamando Deus e
o mundo de pedófilo, mas não tem indenização milionária para ele nem
Frota pagarem. Já Olavo, pimba: condenado a pagar 2,9 milhões de reais.
Aliás, vejam a cobertura que a mídia dá a Olavo e comparem-na com a dada
a nomes ligados ao MBL.
Renan
Santos já fez piadas de péssimo gosto que mais pareciam incitação a
estupro e tem registrado contra si um BO na Delegacia da Mulher que o
acusa de tentativa de estupro. Depois a vítima fez outro BO retirando a
queixa. Ignorar isso é bastante estranho, já que o ativismo feminista
abraçado pela imprensa tradicional fez de tudo para impedir retiradas de
queixas. Lembremos que o MBL é acusado pelo MP de lavar 400.000 com o
seu guru Ayan, também suspeito de possuir pornografia de menores de
idade. Essa gente é intocável para a imprensa, enquanto Olavo vai para a
fogueira.
Os
liberais são bem abertos — abertos até demais, daí a infiltração
identitária em seus movimentos políticos. Um liberal é um aliado natural
da esquerda nacionalista contra os monopólios globais. É uma confusão
plantada por Stálin a equivalência entre capitalismo e fascismo.
Se
você de esquerda está nessa, recomendo fortemente que leia “O caminho
da servidão”, de Hayek. O título é uma alusão a uma passagem de
Tocqueville e é um livro sobre democracia. Liberais “austríacos” acham
(e estou com eles nessa) que concentração de dinheiro é o mesmo que
concentração de poder – daí a sua crítica à concentração de poder
econômico nas mãos do Estado e sua defesa do livre mercado, sem
monopólios. Para vocês terem uma ideia, o Livres foi criado por gente
como este aqui, inventor do termo “antibolsonarismo psicótico”. Os
liberais estão perdidos, puxando os cabelos, sem saber o que fazer com a
invasão da beautiful people.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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