BLOG ORLANDO TAMBOSI
Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
A
vítima já foi Elis Regina. Motivo: ela cantou o Hino Nacional num
evento oficial, e por isso tentaram “cancelá-la” – na época, queriam que
fosse arquivada num “cemitério de mortos-vivos”. Hoje é um jogador de
vôlei que não gostou de um novo personagem, filho do Super Homem Clark
Kent, que é um Super Homem bissexual. E daí? No mundo dos quadrinhos,
sempre se falou de Batman e Robin, de Mandrake e Lothar, até mesmo dos
Sete Anões.
Digamos
as coisas com clareza: Maurício Souza, desligado do Minas Tênis Club
após ter dado sua opinião, é um chato. Quem se mete na vida dos outros é
chato. E se preocupar com a vida sexual de um desenho é chatíssimo.
Quem lutou para desempregar Maurício Souza também é chato: como dizia
Millôr Fernandes, todos têm o direito de torcer pelo Vasco na
arquibancada do Flamengo. Exigir que um clube demita um atleta que é
pouco tolerante só indica que os defensores da tolerância são
intolerantes com os dissidentes.
Acabo
de rever o vídeo do Festival da Record de 1967. É um espetáculo de
tolerância: o jornalista Randal Juliano, favorável ao regime militar, em
conversa amigável com Chico Buarque, Caetano e Gil, que o regime
militar exilaria. É também um espetáculo de intolerância: a plateia
impedindo o bom compositor Sérgio Ricardo de participar da disputa, com
vaias que o levaram a quebrar o violão e jogá-lo no público. Foi o ponto
feio de um belo show.
Tolerância é tolerar quem discorda de nós. O contrário é intolerância.
A censura...
Por
um bom tempo, a censura era a marca dos regimes autoritários e de seus
seguidores. De repente, virou regra quase geral: Fulano adorava Chico
Buarque, mas agora não o aguenta mais, por divergir de suas opiniões
sobre a Venezuela e Cuba; Sicrano se recusa a admitir a competência de
Nelson Piquet, três vezes campeão mundial de Fórmula 1, porque ele é
bolsonarista.
...de volta
As
coisas vão mais longe: uma pessoa que sequer sabe a diferença entre uma
gripe e um resfriado opina sobre médicos que receitam (ou não)
cloroquina e ivermectina para Covid. Médicos cuja opinião eu respeito
não as indicam; mas transformar em vilões os profissionais que, à falta
de alternativa, tentam utilizá-las, cheira a fundamentalismo. Este
colunista sempre foi gordo. Nem se tente imaginar o que já tomou,
indicado por médicos de boa reputação, e com aprovação de Anvisa, FDA e
tudo. E, como é comum, continuo gordo.
Os
médicos agiram de boa-fé, de acordo com o que se conhecia na época.
Neste paciente não adiantou. Mas, em algumas pessoas, funcionou. Não
havia censura e alguns, ao menos, se beneficiaram.
Kassab em ação
O
apresentador José Luiz Datena anunciou sua entrada no PSD. Deixa,
portanto, de ser candidato à Presidência (o partido pretende lançar
Rodrigo Pacheco, hoje presidente do Senado). Seu alvo agora é o Senado,
na chapa de Geraldo Alckmin, que também deve entrar no PSD para se
candidatar ao Governo paulista. Gilberto Kassab, fundador do PSD, monta o
esquema: São Paulo é o décimo Estado em que o partido se apronta para
indicar um nome para a Presidência que possa competir com Lula e
Bolsonaro. Kassab espera ter candidatos ao Governo em 17 Estados, dando
apoio a seu candidato de centro a presidente. Segundo diz, não fará
aliança com Bolsonaro nem Lula: irá conversar com outros partidos e
lançar um candidato viável contra ambos.
Moro de volta
Quem
também irá testar suas possibilidades eleitorais é Sergio Moro, pai da
Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro (que lhe prometeu carta
branca, na qual ele acreditou). Moro e a empresa de consultoria em que
ficou algum tempo, a americana Alvarez & Marsal, decidiram de comum
acordo rescindir seu contrato em 31 de outubro. O Podemos, partido de
Álvaro Dias, senador pelo Paraná, anunciou a filiação de Moro no dia 10
de novembro, às 9 horas da manhã, em Brasília.
A Alvarez & Marsal explicou a rescisão de contrato: não mantém em seus quadros pessoas que tenham vida pública.
Novos rumos 1
Álvaro
Dias e o Podemos querem que Moro saia candidato à Presidência. Seu nome
é conhecido, tem apoio em amplos setores da população, algumas
pesquisas o colocam em terceiro lugar, embora bem abaixo de Bolsonaro e
de Lula – mas, acredita-se, deve subir a partir do momento em que
assumir sua candidatura à Presidência. Moro tem outra possibilidade,
caso se torne claro que não tem possibilidades de passar ao segundo
turno: caso Álvaro Dias, que completará 78 anos logo após as eleições,
decidir não disputar a reeleição para o Senado, abrirá uma vaga que Moro
pode aproveitar.
Mas
não é essa, ao menos por enquanto, a intenção do partido: é usar Moro
como bandeira para forjar novas alianças e disputar mesmo a Presidência.
Novos rumos 2
O vice Mourão deve se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
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