Ao anunciar a candidatura pelo Partido Republicano, Caitlyn Jenner é cruelmente atacada pela turma do 'menos ódio e mais amor'. Ana Paula Henkel para a Oeste:
Você
não precisa ser uma atleta de alta performance ou um fanático por
esportes olímpicos para perceber que o decatlo não é chamado de esporte
dos atletas de ferro à toa. Ser uma medalhista olímpica é uma honra. Ser
um medalhista de ouro olímpico em decatlo é entrar para sempre no hall
dos deuses do Olimpo.
Bruce
Jenner começou sua carreira atlética na Newton High School, em
Connecticut, onde praticou futebol americano, basquete e atletismo. De
forma independente, começou a praticar esqui aquático. Tornou-se campeão
da Costa Leste em 1966. Depois, novamente em 1969 e 1971. Jenner
ingressou no Graceland College (Lamoni, Iowa), em 1969, com uma bolsa de
estudos em razão de seu desempenho no futebol. Porém, uma lesão no
joelho o restringiu ao basquete e ao atletismo. Ele se destacou no
atletismo e, aos 22 anos, conquistou um lugar na equipe norte-americana
de decatlo para os Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, na Alemanha.
Ficou em décimo lugar. Mais tarde, em entrevistas, confessou que a
recordação de ver o vencedor no pódio foi marcante. No avião, de volta
para casa, jurou voltar para conquistar a medalha de ouro. Aquela
sensação o consumiu por mais quatro anos.
Jenner
chegou aos Jogos de Montreal, em 1976, no auge da Guerra Fria,
praticamente como um desconhecido. O jovem norte-americano de sorriso
fácil rapidamente chamou a atenção da lenda soviética Nikolai Avilov,
que lutava para manter o título de campeão olímpico. Durante a corrida
dos 100 metros, Jenner quebrou o seu recorde pessoal. Depois, repetiu o
feito nas quatro competições seguintes: salto em distância, arremesso de
peso, salto em altura e a corrida de 400 metros.
Parte
do sonho americano é tornar-se um herói, entrar no panteão dos mitos
que jamais serão esquecidos. E Bruce Jenner fez a sua parte. Logo após o
ouro olímpico em 1976, foi idolatrado nos quatro cantos da América.
Tornou-se comentarista esportivo, escreveu uma autobiografia, rodou o
país com discursos motivacionais, seu rosto estava estampado em todos os
lugares, de linha de roupas a caixas de cereais matinais. Bruce was the
man.
A
nova geração de norte-americanos conhece Jenner em razão de sua
presença no império dos reality shows. Graças ao casamento, em 1991, com
Kris Jenner, a mãe de Kim Kardashian, e de suas irmãs Khloé e Kourtney,
Bruce era o patriarca mais famoso do showbiz. Depois de alguns anos
exibindo visível transformação física em frente às câmeras, Bruce Jenner
anunciou, em abril de 2015, que se identificava como mulher e, dois
meses depois, revelou que queria ser chamada de Caitlyn Jenner.
Imediatamente,
Caitlyn virou a grande heroína da comunidade LGBT e das manchetes que
dão destaque à ideologia de gênero. Ela assinou um contrato para ter na
TV seu próprio reality show, I Am Cait, que documentava sua transição e
durou duas temporadas. A mudança pública para uma identidade de gênero
feminina tornou-se o grande orgulho de um movimento cultural que busca
aumentar a visibilidade dos transgêneros. Caitlyn Jenner, mais uma vez,
foi amplamente elogiada, idolatrada e colocada no hall dos deuses do
Olimpo.
Não por muito tempo.
O
que parecia ser a história perfeita de superação, do início ao fim, em
vários aspectos, encontrou nesta semana um obstáculo olímpico e
dificílimo de ser superado. Caitlyn Jenner é republicana e anunciou que
concorrerá ao governo da Califórnia. Gavin Newson, o atual governador
democrata, terá seu nome na cédula de julho no processo de recall,
depois de protocolado o abaixo-assinado com mais de 2 milhões de
assinaturas de eleitores californianos pedindo sua remoção do cargo no
meio do mandato. Newson teve uma atuação desastrosa no comando do Estado
durante a pandemia, com lockdowns eternos, ordens executivas
inconstitucionais, recordes de desempregados e de pedidos de falência de
empresas.
Caitlyn
Jenner iniciou sua campanha de maneira controversa para a comunidade
que a colocou em uma redoma de vidro, declarando publicamente que é
contra meninos biológicos que são transexuais competirem com meninas.
Foi além. Acrescentou que é preciso proteger o esporte feminino nas
escolas e a integridade das atletas porque “simplesmente é uma questão
de justiça“. Bum!
Para
aqueles que ainda possuem um mínimo de bom senso, o que Caitlyn disse
não passa do óbvio por razões… óbvias. Aplausos de pé. Não existe
ideologia na biologia humana. Simples assim. Já para os ativistas trans
que a endeusaram, Caitlyn tornou-se uma aberração, uma pessoa horrível.
“Caitlyn Jenner é uma figura estranha”, disse a apresentadora da MSNBC
Joy Reid. “Ela apoiou Donald Trump, e ele era, você sabe, um presidente
antitrans. Agora ela está se candidatando a governadora e declarou que
também é contra a prática de esportes pelas meninas trans”.
Embora
Reid e outros tenham elogiado repetidamente Jenner como preeminente
porta-voz dos transexuais, agora que a ex-atleta está concorrendo como
republicana ao governo da Califórnia, o amor e a admiração evaporaram.
Jenner passou a ser atacada diariamente com palavras impublicáveis. A
velha mídia hoje não passa de uma sucursal da assessoria de imprensa do
Partido Democrata. A turma do “menos ódio e mais amor” não passa de um
bando de hipócritas disfarçados de justiceiros sociais. O ódio nunca foi
sobre o que é falado, mas sobre quem está falando.
E
Caitlyn? Jenner sabe que a identidade social de cada indivíduo deve ser
respeitada, e que a identidade biológica no esporte também. Bruce
continua no Olimpo num passado glorioso, e Caitlyn continua com sua
coragem olímpica de fazer o que tem de ser feito.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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