Por Paula Marques Braga *
Recentemente, arqueólogos em Roma descobriram um complexo de piscinas monumentais datado do século 4 a.C. e localizado entre a Via de Malafede e a Via Ostiense, região bastante importante por sua localização estratégica durante o Império Romano. Toda descoberta histórica é importante, sem dúvida, mas essa se torna fundamental por ser a primeira desse tipo na capital italiana e pela clara percepção do papel dos cursos d’água para fixação de uma população em determinado território. A água, fundamental às atividades humanas, serve ao consumo e à higiene, como também à agricultura e ao cuidado com os animais.
No caso do Império Romano não é diferente. Tanto para ocupação do território como para ampliação da extensão de seu domínio, o uso da água exerceu grande influência. Basta olhar as principais obras de infraestrutura que observamos no período: além de estradas, pontes e linhas fortificadas, temos também os aquedutos, que serviam ao transporte da água de um ponto a outro. Através desta obra, a água era canalizada em condutores, e o declive do terreno permitia que ela fluísse livremente, passando por um reservatório de decantação (com o objetivo de separar impurezas) e, em seguida, tanques de distribuição.
Era um recurso altamente necessário porque as habitações não tinham água corrente, tampouco vaso sanitário – nem para as famílias mais ricas (que viviam em domus), nem para as mais pobres (que moravam em insulae). Esse recurso natural era coletado justamente por meio dos aquedutos e destinado ao uso público – apenas o excedente era destinado a particulares. Além disso, entre os serviços públicos de higiene atendidos pela estrutura estavam as fontes, latrinas e termas (banhos públicos), que atendiam a zonas dentro das cidades, suprindo a falta de espaço para higiene pessoal nas residências.
As termas, aliás, poderiam ser mais simples (quando destinadas à população mais pobre das cidades no império) ou então se tornarem grandes complexos, reunindo atividades culturais diversas e complementares quando destinadas às pessoas mais abastadas. Por conta disso, além da questão da higiene, também serviam a terapias, como as águas termais, recreação e espaço de sociabilização. O tamanho e a diversidade de usos poderia variar de acordo com o porte da própria cidade em que estavam inseridas.
Além dos métodos construtivos, estruturas como fontes, aquedutos e termas também eram consideradas obras monumentais, ou seja, representavam a grandiosidade dos serviços de higiene públicos que o Império Romano possuía. Aliás, Roma teve grande participação e influência no desenvolvimento de monumentos públicos. Os espaços destinados a espetáculos, como circos, teatros e anfiteatros, são outros exemplos importantes. O Coliseu nada mais era do que um anfiteatro; atualmente, é símbolo da capital italiana e um dos pontos turísticos mais visitados de todo o mundo.
O que as piscinas monumentais trazem de lição é a importância que essas descobertas têm para compreensão da história e da própria formação de uma localidade. Em Roma, bem como em toda a extensão do Império Romano, ao longo de todo o processo de transformação das cidades e da ocupação do território, diversas intervenções de imperadores levaram a alterações e ampliação do Foro Romano, com demolição de antigos bairros, teatros e termas. Novos achados arqueológicos contribuem para novas análises e registros desse importante período da história ocidental.
* Paula Marques Braga é doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL – e-mail: unisal@nbpress.com
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