As
revelações do despacho de Teori jogam luz sobre um dos momentos mais
barulhentos da Lava-Jato, ocorrido entre maio e junho passado. Nessa
ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de uma só
tacada, pediu ao Supremo Tribunal Federal que decretasse a prisão de
Renan Calheiros, do senador e então ministro do Planejamento Romero Jucá
e do ex-presidente da República José Sarney. Os três peixões graúdos do
PMDB haviam sido gravados por Sérgio Machado, que comandou a Transpetro
durante doze anos por indicação da cúpula peemedebista. Machado
negociava um acordo de delação premiada e tentava reunir evidências que
sustentassem a estrondosa revelação que faria tão logo assinasse o
acordo: como foram distribuídas propinas de 100 milhões de reais ao
partido que hoje governa o país. As prisões pedidas por Janot foram
rejeitadas pelo Supremo, mas, em segredo, os investigadores fecharam um
acordo de colaboração com Felipe Parente, o entregador de propinas. Do
seu depoimento, surgiram os laços que comprometem o PMDB com a
Transpetro. O lado visível desses laços já era conhecido. Renan
Calheiros era um dos principais fiadores da permanência de Sérgio
Machado no comando da Transpetro. O lado invisível apareceu com a
delação do próprio Sérgio Machado, que contou que Renan era bem
remunerado pela fiança. No início do esquema, recebia um porcentual
sobre cada contrato assinado com a estatal. Depois, optou por um
mensalão de 300 000 reais, que eram repassados pelo próprio Sérgio
Machado, segundo ele mesmo. Em anos eleitorais, o numerário se
multiplicava. De 2004 a 2014, Renan embolsou 32 milhões de reais, ainda
segundo Machado. Desse total, pelos cálculos do delator, empreiteiras do
petrolão simularam ter doado 8 milhões de reais ao diretório nacional
do PMDB. Os outros 24 milhões foram entregues em dinheiro vivo. É nessa
etapa — na entrega em dinheiro vivo — que entra Felipe Parente. Ao menos
até 2007, era ele quem fazia entregas a Renan, conforme contou Sérgio
Machado. Em seus depoimentos, mantidos em sigilo, Felipe Parente
confirmou ter distribuído propina da Transpetro a pedido de Sérgio
Machado. Citou nomes, lugares e circunstâncias em que o dinheiro foi
entregue. Para oferecer provas concretas, deu informações sobre hotéis
onde se hospedou para finalizar o trabalho. Contou que, numa ocasião,
foi orientado a deixar a “encomenda” destinada ao senador Jader Barbalho
com uma tal de “Iara”. Os investigadores chegaram a Iara Jonas, senhora
de pouco mais de 60 anos, assessora de confiança de Jader Barbalho.
Lotada no gabinete do senador, com salário de quase 20 000 reais, ela
trabalha para a família Barbalho há 22 anos. Apresentado à fotografia de
Iara, Parente reconheceu-a como a destinatária do dinheiro.
sábado, 1 de outubro de 2016
Propineiro do PMDB decide falar, e Lava Jato chega a Renan
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário