Até o próximo dia 29, a Mostra fará com que os visitantes ampliem as possibilidades de leitura a partir da experiência tátil
A Galeria da Faculdade de Artes Visuais da PUC-Campinas, localizada no prédio H07 do Campus
I, está recebendo, desde a última segunda-feira, dia 7 de abril, a
exposição “Leitura Sensorial”, da artista visual Mozileide Neri. A
mostra, que conta com classificação indicativa livre, segue até o
próximo dia 29 deste mês, estando aberta sempre das 19h às 21h.
São
25 livros-objeto multissensoriais que podem ser tocados e, a partir da
experiência tátil, o visitante poderá ampliar as possibilidades de
leitura em relação às sensações visuais, olfativas e auditivas.
O texto curatorial e as fichas técnicas de cada objeto contam com fonte ampliada e possibilidade de leitura em braille. Um QR code
dá acesso a um vídeo com audiodescrição e tradução em Língua Brasileira
de Sinais (Libras) sobre o processo criativo das obras e sobre a
principal referência da pesquisa, a pintora e escultora mineira Lygia
Clark.
A
artista, falecida em 1988, acreditava que arte e terapia psicológica
andam de mãos dadas. Com base em objetos manuseáveis que criava ou
recolhia da natureza, ela acreditava em poder curar “os males da alma”
através de um método terapêutico chamado "Estruturação do Self", que
consistia em sessões de interação com objetos estimulantes.
Sobre
essa influência, Mozileide diz que “Lygia nos provoca a elaborar uma
aproximação entre o público e o objeto artístico, criar um diálogo entre
eles, uma troca, quebrar as distâncias. O toque é permitido para que a
sensorialidade seja exercitada sem pressa. Lygia é pura inspiração
quando diz ‘que a arte deveria ser uma experiência sensorial e
emocional’. O visual deixa de ser o foco. Ver é além do olhar, é também
perceber os detalhes com as pontas dos dedos”.
Estreia em Campinas
É
a primeira vez que a exposição acontece em Campinas. Anteriormente, ela
passou pelas cidades do Rio de Janeiro (RJ), na qual a artista reside, e
também por Florianópolis (SC), Jataí (GO), Recife (PE) e Uberaba (MG).
Mozileide
explica que são, aproximadamente, sessenta obras que se revezam entre
séries de 25 a trinta por exposição, com diversos tipos de texturas,
sendo algumas delas sonoras e outras com aromas.
“A
ideia inicial é de que os livros-objeto sejam manipulados por pessoas
com e sem deficiência visual, ou seja, todos podem tocá-los. Enquanto o
toque ativa as obras sonoras, as obras com perfurações circulares são
olfativas, tendo como objetivo o de despertar a memória sobre aquele
cheiro percebido. Cada livro-objeto tem as suas possibilidades de
leitura, fruição e percepção. O público é livre para investigá-los”,
comenta a expositora.
Desprender-se
Todas
as obras da exposição foram construídas com o mesmo suporte: o livro.
No entanto, segundo a artista visual, é sugerido que o público visitante
se desprenda do “conceito funcional do livro”. Ela diz que esse “é o
maior desafio do projeto”.
“Os
livros-objeto são lidos de outra forma, sem folhear, sem abrir, nem
fechar. O conteúdo está exposto, aberto à investigação. Três obras foram
nomeadas de ‘jogo’, uma interatividade que requer paciência e
persistência. Esses livros-objeto querem mais contato com o público.
Querem incentivar a brincadeira”, esclarece Mozileide.
Possibilidade de trocas riquíssimas
A
artista comenta que quando leu o edital da Galeria da Faculdade de
Artes Visuais da PUC-Campinas, logo se interessou. “Acredito que as
instituições de ensino, públicas e privadas, são potências que
possibilitam trocas riquíssimas. Os discentes de todos os cursos são
todos bem-vindos a esse compartilhamento de ideias sobre arte
contemporânea, acessibilidade cultural e leitura de imagens. A
universidade é um lugar multidisciplinar e a exposição ‘Leitura
Sensorial’ incentiva a equidade e a não segregação da diferença. Pessoas
cegas, com baixa visão, neurodivergentes ou sem deficiência podem estar
juntas, acessando o mesmo espaço e as mesmas obras”, esclarece.
Ela
encerra dizendo que para quem nunca realizou uma experiência tátil
antes, “é importante dizer que há instruções básicas fixadas dentro da
Galeria, havendo um QR code que dá acesso a um vídeo com audiodescrição e Libras sobre a exposição”.
Privilégio de receber a exposição
De
acordo com o diretor da Faculdade de Artes Visuais, Prof. Dr. Victor
Kraide Corte Real, a Galeria de Artes Visuais da PUC-Campinas recebe
regularmente exposições que visam proporcionar “a valorização da arte e
oferecer à comunidade interna e externa a oportunidade de ter contato
com diferentes linguagens e poéticas”.
Ele
diz ainda que a exposição “Leitura Sensorial”, convida o público a
“tocar, manusear, ouvir e até mesmo cheirar as obras criadas pela
artista Mozileide Neri, além de discutir e contemplar questões de
inclusão e de acessibilidade, sendo um privilégio receber aqui na
Universidade uma mostra com esse grau de sensibilidade e de relevância”.
Anualmente,
de acordo com o diretor, o curso de Artes Visuais publica um edital de
seleção de projetos de exposição para a Galeria e as propostas são
analisadas por uma comissão julgadora, que também define o cronograma de
exposições para o ano seguinte. “No caso de Mozileide, ela submeteu uma
proposta quando o edital foi aberto no ano passado, participou de todo o
processo e foi selecionada pela comissão. Agora, a sua exposição, que
conta com classificação livre, está aberta a todo público até o próximo
dia 29. Eu convido todos a conferi-la, pois vale muito a pena”.
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