No
começo da década de 1970, mais precisamente em 1973, o Brasil viu
nascerem duas de suas mais emblemáticas coleções infantojuvenis: a
coleção Vagalume, iniciativa da editora paulista Ática e sucesso absoluto dos anos 1980 e 1990, deixaria como contribuição aos anos 1970 um total de 11
obras editadas, das quais 3 delas inéditas (as demais sendo reedições
de livros da década de 1940, 1950 e 1960); já no Rio de Janeiro, das
prensas da Ediouro, a coleção Mister Olho (de Mistério e
Olho, como explicava a editora), literalmente o maior apanhado de
literatura de massa para crianças e jovens de nossa história, deixaria,
em pouco mais de meia década de existência (1973 a 1979), um legado de
mais de uma centena e meia de livros originais publicados (164, sem contar os títulos que eram traduções ou adaptações) e milhões de exemplares de tiragem, num fenômeno editorial que a história do livro em nosso país mal começou a arranhar.
Fala-se muito ainda da Vagalume,
que segue lançando livros esporádicos e, sim, foi fundamental na
popularização da leitura para jovens e crianças na década de 1980. Volta
e meia, jornais de prestígio publicam artigos e reportagens sobre a
coleção. Mas pouco de fala da Mister Olho, apesar da sua importância e pioneirismo, em particular para os leitores formados durante a década de 1970.
Esse panorama começou a mudar em 2022, com a publicação, pela AVEC, do volume Livros de bolso infantis em plena ditadura militar, baseado na tese de doutorado defendida em 2019 pelo professor, escritor e pesquisador Leonardo Nahoum.
A pesquisa hercúlea empreendida por Leonardo Nahoum no intuito de
resgatar a memória dessa coleção fundamental da literatura
infantojuvenil nacional oferece ao público brasileiro, na forma de um
livro de quase 500 páginas, dados preciosos sobre a lendária Coleção Mister Olho,
bem como capas, histórias e análises. Após inúmeras incursões a
editoras e seus arquivos nem sempre simples de pesquisar, investigações
em jornais da época e entrevistas com autores das séries mais
significativas da coleção, Leonardo nos traz um texto maduro, a um tempo
crítico e saboroso, desenvolvido a partir de uma reflexão profunda e um
olhar arguto, buscando compreender não apenas a engrenagem envolvida na
criação e penetração de mercado alcançada pela Mister Olho, mas também
sua importância e responsabilidade no estabelecimento e manutenção do
status quo durante parte do difícil período da ditadura de 1964-1985
(sem desconsiderar certos episódios nos quais houve, pelo contrário,
contestação do regime e seu enfrentamento).
· Agora em 20234, a AVEC começou a publicar volumes inéditos
de algumas das séries da coleção Mister Olho, verdadeiras preciosidades
literárias mantidas no esquecimento por 35 a 40 anos nos arquivos da
editora, resgatadas pelo pesquisador Leonardo Nahoum. Já foram
contemplados originais do escritor maranhense Carlos Figueiredo e da escritora gaúcha Gladis N. Stumpf González.
· Dico e Alice a cavalo nos Pampas – Carlos Figueiredo (autor) e Leonardo Nahoum (organizador) – originais de 1976
· Dico e Alice e a aventura no Beluchistão – Carlos Figueiredo (autor) e Leonardo Nahoum (organizador) – originais de 1976
· O Segredo do Berilo Azul (O Clube do Falcão Dourado) – Gladis N. Stumpf González (autora) e Leonardo Nahoum (organizador) – originais de 1978
Nos planos do resgaste, estão ainda outros originais dos autores citados, bem como do renomado escritor Hélio do Soveral, a serem publicados futuramente.
Iniciativa
editorial fundamental para todos os estudiosos e amantes da literatura
infantil e de massa brasileira contemporânea e para aqueles que
desejarem acrescentar mais uma peça ao nosso entendimento sobre a
produção de cultura durante a última ditadura militar.
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