As naturais reações de pânico e os implacáveis algoritmos que dominam os mercados se juntaram para criar a imagem do caos. Vilma Gryzinski:
No dia 7 de setembro de 1940, a Força Aérea da Alemanha nazista
começou a bombardear Londres, numa campanha que ficou conhecida
simplesmente como a Blitz (de Blitzkrieg, a guerra relâmpago). Duas mil
pessoas morreram naquela noite. Mais 30 mil morreriam nos nove meses
seguintes.
Um dos poucos britânicos vivos para lembrar pessoalmente o que foi
aquilo é a rainha Elizabeth, então uma princesinha de 14 anos. A mãe
dela, também Elizabeth, contou, em carta de família que ficou com os “os
joelhos um pouco trêmulos” quando o Palácio de Buckingham foi
bombardeado na Blitz e depois sentiu que “estava andando numa cidade
fantasma” quando foi visitar lugares mais atingidos.
O rápido retorno histórico é para dar um pouco de perspectiva.
Gente fazendo fila para comprar papel higiênico (está difícil ) ou
gel desinfetante (impossível) tem todo direito de entrar em pânico,
antecipando-se a uma possibilidade: a Inglaterra é a Itália amanhã.
E a Itália hoje é de dar medo (atenção, não pânico, mas é difícil
distinguir nessas horas) depois que o primeiro-ministro Giovanni Conte
avisou que “não dá mais tempo” e colocou o país inteiro em quarentena.
Todos os italianos são “convidados a ficar em casa”, exceto se puderem comprovar necessidade de sair – uma área cinzenta.
Também não sobrou para onde ir, com o fechamento de todos os recintos
públicos, de escolas a museus e centros esportivos. Bares e
restaurantes, só até as 6 horas da tarde. E os jovens que resolveram
fazer baladas nas ruas, à noite, levaram um pito.
Faz sentido isolar um país inteiro, com seus 60 milhões de habitantes?
Só a experiência vai responder. Talvez um dos motivos tenha sido simplesmente evitar confrontos.
Muitas pessoas de outras regiões menos afetadas estavam voltando para
casa, no centro e no sul do país, fugindo da quarentena parcial no
Norte, o polo industrial.
Fazer o quê? Prendê-las? Aumentar a população dos presídios onde pipocam rebeliões, graves para os padrões italianos?
O mais importante é conquistar a participação voluntária dos cidadãos.
A idade média dos quase 500 mortos até agora na Itália é de 82 anos.
As UTIs dos hospitais das regiões mais afetadas estão cheias, mas não é
nada dramático. Claro que pode, e possivelmente vai, piorar.
Faz sentido que outros países, onde a disseminação é mais difusa, imitem a Itália?
Provavelmente não. Mas os políticos se sentem forçados a mostrar
serviço. Por que suspender aulas em Madri, por exemplo, como fez Isabel
Díaz Ayuso, que tem um cargo equivalente ao de governadora (por voto
indireto)? Para fazer alguma coisa, claro.
Isabel Díaz Ayuso é do PP, o partido de centro-direita. Governa em
coalizão com o Cidadãos. Não recebeu um único elogio do espectro
político oposto – esquerda e extrema esquerda, que estão no governo
central e parecem alheios à crise.
A verdade é que não sabem exatamente o que fazer. Como todo mundo,
por sinal. O derretimento dos mercados é um perigo infinitamente maior
do que o coronavírus, mas ninguém tem coragem de dizer isso.
Existem bases concretas para a derrocada?
Não. Mas dois grandes focos de pânico simultâneos, que se alimentam
mutuamente, bastam para deixar bem negativos os algoritmos, responsáveis
pelas operações virtuais que na realidade formam a base das operações.
Salpique-se a “guerra do petróleo” provocada pelo príncipe briguento,
Mohammed Bin Salman, contra a Rússia e está pronto para ser servido o
cardápio do fim do mundo.
Quanto tempo vai durar?
O único padrão mais ou menos estabelecido até agora é o da China.
Ao visitar Wuhan, o presidente Xi Jinping fez um gesto político que
pode ajudar a dar o que mundo mais precisa agora, um pouco de confiança.
O ritmo de contágio na China e Wuhan, justamente o epicentro, está
diminuindo. Hubei, a província para a qual se irradiou a doença surgida
na cidade de onze milhões de habitantes, acabou de completar três dias
sem novos casos.
Dados do governo chinês, com números de grandeza chinesa claro: 78
milhões de trabalhadores já retomaram seus postos. Faltam mais 50
milhões, principalmente de pequenas empresas, sem meios para bancar o
retorno dos funcionários.
Do mesmo modo que o vírus que ameaça o mundo veio da China, a esperança também está despontando lá.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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