Editorial do Estadão reconhecendo (cof,cof) que a "ditadura" está agindo bem no cerco ao coronavírus, apoiada, claro, pela "mídia profissional":
A epidemia global de coronavírus (Covid-19) iniciada na China no
final do ano passado já infectou, aproximadamente, 89 mil pessoas – das
quais cerca de 3 mil morreram – em 17 países, inclusive o Brasil, onde
dois casos de contaminação de pacientes que viajaram à Itália foram
confirmados em São Paulo, ambos sem gravidade.
A justificada apreensão quanto à evolução da nova doença tem afetado
fortemente os humores das pessoas e dos mercados mundo afora (ver
editorial O efeito econômico da epidemia, abaixo). Observa-se uma
corrida desenfreada às farmácias em busca de máscaras cirúrgicas, que só
devem ser usadas por quem apresenta os sintomas de gripe, e frascos de
álcool em gel, eficaz na prevenção. Escolas têm recomendado a alunos que
viajaram ou tenham tido contato com pessoas que viajaram a países
afetados pela epidemia que fiquem em casa. Empresas idem. A Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu de 2,9% para
2,4% sua projeção de crescimento global para este ano em função do surto
de Covid-19, que afeta primordialmente a China, país que há três
décadas puxa o indicador para cima.
Uma onda de pânico e desinformação é mais perniciosa do que os
efeitos do coronavírus por atribuir à doença uma gravidade muito maior
do que a que ela tem na realidade. O diagnóstico de coronavírus não é
uma sentença de morte, bem longe disto. Na esmagadora maioria dos casos,
os sintomas são semelhantes aos de uma gripe simples (febre, tosse,
coriza). Os casos fatais foram observados em pacientes que já eram
suscetíveis a problemas respiratórios mais sérios, o que explica a baixa
taxa de mortalidade da nova cepa do coronavírus, entre 2,5% e 3%. Neste
sentido, a mídia profissional, a comunidade científica e a
administração pública brasileiras vêm agindo muito bem até o momento
para evitar que à epidemia se acrescente o pânico.
Apenas 48 horas depois da confirmação do primeiro caso de coronavírus
no Brasil – o primeiro na América Latina – cientistas da Universidade
de São Paulo (USP) e do Instituto Adolfo Lutz, em parceria com a
Universidade de Oxford, no Reino Unido, sequenciaram o genoma da cepa
que chegou ao Brasil, nomeada Sars-CoV-2. Trata-se de um grande feito da
ciência brasileira e mostra a importância da coordenação de esforços em
nível global para enfrentar essa ameaça epidemiológica ainda por ser
totalmente pesquisada. Com base neste trabalho, pôde-se identificar a
origem do vírus que contaminou os brasileiros, desconhecida até na
Itália, e avançar nos estudos para o desenvolvimento de uma vacina.
Até aqui, também merecem destaque as ações proativas dos Ministérios
da Saúde e da Ciência e Tecnologia. A pasta da Saúde tem se mostrado uma
fonte de informação preciosa em relação à doença e às formas de
prevenção. Em meio à disseminação de fake news – até uma xícara de água
morna aparece como forma de “matar” o coronavírus, o que é uma grossa
mentira –, tanto o site do Ministério da Saúde como o portal da pasta no
YouTube são bastante esclarecedores. Pena que, pelo que mostram os
números, pouca gente os acesse. Também é positiva a ação do Ministério
da Saúde de antecipar a campanha nacional de vacinação contra a gripe
Influenza para o próximo dia 23. Ela não imuniza contra o coronavírus,
mas evitará que os casos não relacionados ao Sars-CoV-2 sobrecarreguem o
sistema público de saúde.
Já o Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com a pasta da
Saúde, criou uma rede de pesquisadores de alto nível oriundos de
entidades científicas e universidades federais a fim de decifrar a nova
doença e estudar formas de imunização. Ou seja, o País tem os seus
melhores cientistas debruçados sobre um problema que preocupa o mundo
inteiro, o que há de dar algum conforto aos cidadãos mais aflitos.
Igualmente tranquiliza, ao menos por ora, ouvir de especialistas como
o imunologista Dráuzio Varella que o Sistema Único de Saúde (SUS) está
preparado para atender os casos de coronavírus no Brasil. Oxalá esta
capacidade não precise ser testada.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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