Nunca é demais lembrar que o então presidente Lula minimizou os efeitos
da crise global de 2008, afirmando que, enquanto o mundo era varrido por
um tsunami, o Brasil só veria uma “marolinha”. Editorial da Gazeta:
A segunda-feira foi de pânico nos mercados globais como não se via
pelo menos desde a crise do subprime, mais de dez anos atrás. Uma
disputa entre Rússia e Arábia Saudita jogou para baixo os preços do
petróleo, dentro de um contexto de menor demanda pela commodity – efeito
da epidemia de coronavírus, que desacelerou a atividade econômica em
boa parte do mundo. Como consequência, as bolsas de valores de todo o
mundo também sofreram pesadas perdas. No Brasil, a B3 teve seu pior dia
desde o “Joesley day” (quando o presidente Michel Temer foi acusado de
corrupção), com acionamento do circuit breaker, o dispositivo que
interrompe as negociações em caso de queda superior a 10%. No fim, o
tombo foi de pouco mais de 12%. O dólar, que já vinha em escalada
crescente, fechou a segunda-feira em R$ 4,72.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrava
tranquilidade, limitando-se a defender a continuação da pauta de
reformas. “O Brasil não vai ao sabor do vento internacional. Se fizermos
as coisas certas, o Brasil reacelera”, afirmou, acrescentando que a
equipe econômica está “absolutamente tranquila quanto à nossa capacidade
de enfrentar a crise” e que “nós precisamos das reformas, o Brasil pode
ser o país que transformou a crise em reaceleração do crescimento e
geração de empregos num mundo que tá com sérios problemas”.
Mesmo admitindo-se que Guedes não quisesse colaborar para aprofundar o
pânico, não há como minimizar a seriedade dos problemas que levaram ao
caos nos mercados. Se o alarmismo exagerado não ajuda, tampouco se pode
considerar adequada a atitude de quem faz pouco da situação. O mundo
ainda está longe de ter uma ideia precisa dos impactos da epidemia. A
essa altura, um país inteiro, a Itália, está sob fortíssimas restrições
ao deslocamento de pessoas e à realização de quaisquer atividades que
exijam aglomerações, com efeitos drásticos sobre a atividade econômica.
Este é mais um caso em que o Brasil está na carona, sofrendo as
consequências das ações de outros atores no tabuleiro mundial,
independentemente de todas as “coisas certas” que estejam sendo feitas
internamente.
O ministro efetivamente tem razão no aspecto central de suas
observações: o Brasil precisa, sim, realizar as reformas para ter
condições de se recuperar mais rapidamente das inevitáveis crises pelas
quais o mundo passa e ainda haverá de passar. Durante grandes
turbulências, a regra é a fuga para a segurança, e mesmo países
emergentes que estejam com as contas em ordem sofrerão os efeitos de
fugas de capital. Mas, quando o caos passar, o Brasil precisa estar bem
posicionado para disputar o dinheiro do investidor, pois um país que
vive em descontrole fiscal não é destino atrativo para ninguém, com
exceção, talvez, dos especuladores interessados em arriscar atrás dos
juros altos que nações nessa situação precisam oferecer para atrair
capital.
Nunca é demais lembrar que o então presidente Lula minimizou os
efeitos da crise global de 2008, afirmando que, enquanto o mundo era
varrido por um tsunami, o Brasil só veria uma “marolinha”. Mas a
política econômica que conteve os efeitos imediatos da crise, baseada na
gastança indiscriminada, cobrou um preço altíssimo anos depois, com a
pior recessão da história do país. Se as reformas providenciarem os
fundamentos sólidos de que o Brasil precisa, os furacões farão seu
estrago, mas a reconstrução será mais fácil.
A necessidade das reformas é evidente, embora não custe nada
reafirmá-las com frequência. Mas elas ainda levarão tempo para serem
aprovadas, e vários de seus bons efeitos serão sentidos apenas no médio e
longo prazo, enquanto há uma crise ocorrendo neste exato momento. A
hora também pede uma demonstração de que o governo está atento às
turbulências e disposto a fazer o que estiver a seu alcance para
minimizar suas consequências.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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