Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
A Arábia Saudita pediu à Rússia que reduzisse a produção de petróleo,
já que a China diminuiu as compras e o preço iria cair. A Rússia
recusou. E os sauditas reagiram duro: reduziram o preço do petróleo em
30% e anunciaram o aumento da produção em quase três milhões de barris
por dia. Mas, além de mostrar a força econômica, os sauditas têm também
um objetivo político.
A derrubada do preço do petróleo atinge pesadamente o Irã, inimigo
dos sauditas. Sufocado por imensas despesas militares, as finanças
sofrendo com o embargo americano, o Irã depende de vendas de petróleo no
varejo. Não tem como suportar a queda dos preços. A Venezuela também
terá problemas sérios (e, embora não seja exatamente inimiga dos
sauditas, é amiga do Irã). A Rússia, que apoia o Irã, protege o regime
sírio (mal visto pela Arábia Saudita) e bombardeia grupos armados
ligados de alguma forma aos sauditas, não vai falir por causa da queda
do petróleo, mas terá grandes prejuízos. Talvez aprenda que, em
petróleo, os sauditas são os mestres.
Os americanos também têm perdas – a produção de shale oil, o petróleo
de xisto, fica inviável. Mas as usinas não são tão caras, podem ficar
paradas até que o negócio volte a valer a pena. E os Estados Unidos,
enquanto isso, podem importar petróleo barato e até crescer na crise (a
menos que os vírus o impeçam).
Os Estados Unidos são o maior aliado mundial dos sauditas. Já o
Brasil... de acordo com nosso Governo, não existe crise, apenas
fantasia.
Marolinha e fantasia
A última grande crise econômica mundial foi chamada pelo então
presidente Lula de “marolinha”. Até hoje pagamos os custos da marolinha.
A atual crise é chamada pelo presidente Bolsonaro de “fantasia”. A
fantasia fez com que a Bolsa recuasse aos índices anteriores à sua
posse. O dólar bate recordes. O valor das empresas cotadas em Bolsa se
reduziu em quase meio trilhão de reais (embora não haja perda real para
quem tiver condições de manter as ações, sem vendê-las às pressas,
esperando que voltem ao normal).
Bolsonaro também diz que a questão do coronavírus não é tudo que a
grande mídia propaga. Se tiver razão, a Universidade Harvard é dirigida
por malucos que suspenderam as aulas por causa do noticiário da imprensa
sobre o coronavírus. O caríssimo futebol europeu é dirigido por idiotas
que, por causa da imprensa, perdem dinheiro jogando em estádios sem
torcida. Os israelenses são dirigidos por irresponsáveis que,
acreditando na imprensa, impuseram isolamento de 14 dias a visitantes de
qualquer parte do mundo.
Bolsonaro tem certeza do que diz, tanto que convoca manifestação em
todo o país em que milhares de pessoas poderão se expor ao coronavírus.
Muy amigo
Trump convidou Bolsonaro para jantar em seu resort de Mar-a-Lago, na
Florida, uma beleza cinco-estrelas – e, mais importante, numa
propriedade de Trump, algo pessoal, informal, não burocrático. Trump
chamou Bolsonaro de “bom amigo”, “que está fazendo um trabalho
fantástico”, garantiu que os Estados Unidos sempre “ajudarão o Brasil”,
que as relações entre os dois países estão em excelente momento. Mas não
quis se comprometer a evitar o aumento de tarifas sobre importações de
aço e alumínio brasileiros. “Não faço nenhuma promessa”.
Tudo bem: promessas são sempre boas, agradáveis, simpáticas, desde que não se acredite nelas.
Racismo, não
Houve quem acreditasse que usando perfis falsos na Internet poderia
fazer o que quisesse. Duas pessoas que acreditaram nisso, e usaram
perfis falsos para agredir na Internet a jornalista Maria Júlia (Maju)
Coutinho, da Rede Globo, acabam de ser condenados. Ambos fizeram ataques
racistas contra Maju. Foram identificados, processados e sentenciados.
Érico Monteiro dos Santos foi condenado a seis anos de prisão e Rogério
Wagner Castor Sales a cinco, ambas as penas em regime semiaberto. O juiz
Eduardo Pereira Santos Jr., da 5ª Vara Criminal, de São Paulo,
condenou-os também por corrupção de menores, por terem levado três
adolescentes a cometer o mesmo crime.
Os crimes
O juiz, citado pelo ótimo portal Consultor Jurídico, concluiu que
ambos cometeram crimes de racismo e injúria racial. “O racismo, no caso,
deu-se em sua forma qualificada, eis que as frases de ódio racial e de
cor foram publicadas na página virtual do Jornal Nacional da Rede Globo,
ou seja, em ambiente de amplo acesso ao público. Está caracterizado
também o crime de injúria racial”. Duas outras pessoas foram absolvidas
por falta de provas. Os condenados podem recorrer da sentença em
liberdade.
Boa notícia
Lembra-se dos tempos de Jayme Lerner, em que Curitiba se transformou
em símbolo de cidade bem administrada? Pois bem: um dos seus assessores
mais próximos sai candidato a vereador pelo PDT curitibano, e com apoio
formal de Lerner. Se votasse lá, este colunista votaria em Gerson
Guelmann.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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