Num ano tão nebuloso como foi 2016, uma das principais personagens a passar por nossas telas carrega o nome de Clara. Protagonista do brasileiro “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, eleita a melhor produção do ano pelo júri do Hoje em Dia, ela representa o papel crescente da mulher na sociedade.
 
E a lista dos melhores filmes é uma prova disso: do top five, quatro são encabeçados por mulheres determinadas, conscientes do que querem para elas. O único estranho a esse grupo, o húngaro “O Filho de Saul”, exibe um homem obcecado, precisando dar um aspecto racional à sua insanidade.
 
O homem, ao final impotente, sem nada o que fazer diante da loucura da guerra, realiza uma contraposição marcante com a mulher que paulatinamente vai conquistando seu espaço, reequilibrando as coisas, como mostra a linguista protagonizada por Amy Adams em “A Chegada”.
 
A coragem da personagem, a única mulher entre militares que cercam um objeto voador, está em se lançar ao desconhecido, sem ver nele algo ruim. Ao contrário. Quando tudo aponta para a guerra, ela percebe que tem esse poder transformador, passando a ser peça-chave na resolução.
 
Preconceitos
“Carol” foca duas mulheres da década de 50 que se apaixonam uma pela outra, enfrentando os diversos preconceitos. Relação conduzida pelo diretor Todd Haynes de forma sutil, o que não quer dizer menos dura. O que importa são os códigos que elas precisam criar para efetivarem seus sentimentos.
 
Em “Elle”, de Paul Verhoeven, Michèle (Isabelle Huppert) não é uma vítima. Ela vive um processo de autodescoberta, sem saber exatamente quem é, tirando coisas boas e más daí. É uma personagem fascinante, capaz de nos provocar sentimentos ambíguos de adesão e rejeição.
 
É Michèle o centro, levando outros personagens a gravitarem em torno dela, conscientemente. Como iremos perceber na relação dela com o seu estuprador, invertendo o jogo de dominação, papel que Isabelle já desempenhou em filmes como “A Professora de Piano” (2008) e “Uma Relação Delicada” (2013).
 
A quebra de certos paradigmas é ilustrado pelo espanhol “Academia de Musas”, em que um professora de filosofia é questionado por suas alunas sobre a explicação dele a respeito da importância das musas inspiradoras. Elas indagam a razão de só as mulheres terem esse papel, cabendo ao homem a criação.
 
E até mesmo no conservador cinema chinês esse papel da mulher é destacado. “As Montanhas se Separam” é sobre um triângulo amoroso. Mas também é mais do que isso: Tao, o alvo da disputa, é tão dividida como a China de hoje, ainda entre a cultura tradicional e a entrada no capitalismo.