Nada menos que 70% dos jovens mineiros que tinham abandonado o ensino médio voltaram para as salas de aula. Dos 160 mil alunos que estavam em situação de evasão escolar, 114 mil retornaram por meio do programa Virada Educação Minas Gerais, iniciado em 2015. A meta deste ano, segundo a Secretaria de Estado de Educação (SEE), é reinserir mais 40 mil.
As inscrições dos interessados prossegue até 28 de outubro. Dentre os principais motivos que ajudam a explicar o abandono estão a falta de comunicação entre o ambiente acadêmico e o mundo do trabalho, o horário das aulas e a inexistência de debates para discutir a pluralidade da escola. As percepções são dos próprios estudantes, conforme ciclo de debates em todas as 17 regiões do Estado organizado pela SEE.
Os encontros visam ouvir as demandas estudantis e tornar o ensino médio mais atrativo. Algumas mudanças já foram implementadas. As aulas, que começavam às 18h, no período noturno, e se estendiam até 22h30, tiveram carga horária reduzida para não prejudicar quem precisa trabalhar. Hoje, vão das 19h às 22h15.
Outra medida para evitar a evasão e deixar a instituição mais próxima à realidade do aluno foi a criação da disciplina “diversidade, inclusão e mundo do trabalho”. As aulas, ministradas por professores das áreas de exatas, biológicas e linguagens, abordam questões do dia a dia.
Diferencial
Segundo a superintendente de ensino médio da SEE, Cecília Alves, a educação ainda é vista por muitos jovens como distante e enfadonha. Para ela, o sucesso do programa se deve à possibilidade de readequar o estudo ao diferencial esperado pelos alunos. “É mais fácil a decisão partir do que precisa mudar a partir de cada comunidade do que de um gabinete. Cada aluno, cada gestor entende melhor os problemas da escola e do ambiente externo em que está inserido”
Mobilização estudantil
Para a estudante da Escola Estadual Governador Milton Campos, Bruna Oliveira, de 18 anos, o contato direto com quem decide as políticas de educação é um dos destaques do programa Virada Educação. Ela conta que os amigos se animaram com a possibilidade de participar do processo de construção e encontrar soluções em conjunto. Os resultados já estão sendo sentidos no cotidiano escolar.
“Conseguimos promover debates e ouvir o negro que sofria racismo, o gay que tinha que lidar com a homofobia, a menina que escutava comentários machistas. Sobretudo na questão racial, estamos estudando mais sobre afroconsciência e isso mudou a forma como os colegas se relacionam e como tratam os professores”, diz a estudante, que integra a gestão do grêmio estudantil.
Bruna destaca ainda que a iniciativa governamental mudou paradigmas da escola. Com 160 anos, o Estadual Central tinha uma tradição mais conteudista. “Agora estamos mais abertos, temos atividades mais lúdicas, realizando duelos de MCs. Isso ajuda a atrair o aluno que se sente desmotivado, até porque tenho muitos amigos que precisam trabalhar, ajudar a olhar os irmãos mais novos e encaram a escola apenas como uma obrigação a mais”, afirma.
Além disso
Na quinta-feira da semana passada, foi apresentada a nova proposta do governo federal para o ensino médio no país. A reformulação do currículo dessa etapa deve ocorrer por meio de uma Medida Provisória (MP). Algumas mudanças, como a questão do ensino em tempo integral, geraram polêmicas entre professores, alunos e especialistas em educação. Segundo a superintendente da SEE, Cecília Alves, a MP anunciada pela União não contempla o ensino médio noturno. A SEE vai discutir como evitar a evasão dos estudantes. A secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo, deve liberar um vídeo com o posicionamento oficial do governo de Minas sobre o assunto.