MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 4 de março de 2020

Mulheres anônimas que lutam por um mundo melhor

Celso Grecco

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, o consultor em desenvolvimento socioambiental Celso Grecco relata histórias de mulheres comuns que resolveram agir para melhorar a sociedade em que vivem
No próximo domingo, 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Em data tão importante, é comum recordarmos personagens femininas que lutaram e ainda lutam por um mundo menos desigual. Podemos destacar nomes como o da costureira, Rosa Parks, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros norte-americanos; ou de Simone de Beavouir, filósofa francesa que escreveu "O Segundo Sexo", livro que criou as bases para o feminismo atual; ou até mesmo Greta Thunberg, adolescente sueca, de apenas 17 anos, que estremeceu governos, com sua luta pela preservação do meio ambiente.
Mas não somente personagens femininos renomados e influentes marcam a história do gênero na busca por um mundo com melhores condições sociais, ambientais e políticas. No livro "A decisão de que o mundo precisa – 7 caminhos para você sair da indiferença e fazer algo para o futuro da sociedade", o escritor, consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental, Celso Grecco, oferece alguns exemplos de mulheres cujas atitudes podem não as ter transformado em símbolos de resistência, mas serviram para retirá-las da inércia e para que pusessem em prática seus sonhos por uma sociedade mais harmônica.

Mais do que a doença
Como é o caso da médica clínica geral Vera Cordeiro, que resolveu aderir a uma causa social por meio de sua profissão. Atuando no setor de medicina psicossomática da ala de pediatria do Hospital Federal Público da Lagoa, na cidade do Rio de Janeiro, Cordeiro incomodou-se que crianças carentes atendidas no hospital sempre voltavam a ser internadas. Conversando com os familiares, descobriu que as doenças eram apenas a "ponta do iceberg" de um problema mais complexo. "A real causa eram as condições de vida a que estavam submetidas, como moradias insalubres e falta de alimentação", conta a médica.
Com o objetivo de acabar com o clico miséria – internação – reinternação - morte, Vera criou em 1991, a Associação Saúde Criança. A organização, que surgiu com 20 voluntários, coletados entre familiares, amigos e profissionais do Hospital Lagoa, tem como intuito principal ouvir as pessoas (familiares dos pacientes) do ponto de vista psicossocial e buscar soluções concretas para suas necessidades. Os voluntários detectam problemas como desemprego, condições precárias de moradias, fome, e colocam em ação o Plano de Ação Familiar. Este consiste em mapear os talentos e as potencialidades de pais e familiares e financiar um curso profissionalizante, para que eles possam exercer seus talentos e melhorar suas condições de vida. Os recursos foram obtidos inicialmente através de doações de voluntários.
Passados 29 anos de existência, a Associação Saúde Criança cresceu e conseguiu expandir sua atuação, com o auxílio de empresas e organismos nacionais e internacionais. Profissionalizou-se, entendendo que deveria atuar em cinco áreas principais: saúde educação, moradia, renda e cidadania. "Como a pobreza é multidimensional, se não atuarmos de forma multidisciplinar, com médicos, advogados, arquitetos, engenheiros e nutricionais, não atingiremos o cerne da inclusão social", explica Cordeiro
O sucesso da empreitada se reflete em seus números. A entidade já mudou diretamente a vida de 72 mil pessoas e teve seu projeto multiplicado em 23 hospitais públicos, de seis estados do Brasil. O Plano de Ação Familiar tornou-se política pública na cidade de Belo Horizonte (MG). Além disso, outros empreendedores sociais entenderem o DNA do trabalho desenvolvido pela associação, difundindo seu método para diversos cantos do mundo, como Estados Unidos, e alguns países da América Latina, África, Ásia e Europa.

Roupinhas e isopor
As outras mulheres que tiveram suas histórias relatadas no livro escrito por Grecco realizaram ações bem menores no que diz respeito às suas consequências. Nenhuma delas criou ou se associou a uma ONG. Apenas detectaram um problema que as incomodava e arregaçaram as mangas para tentar amenizá-lo. A força de suas atitudes residiu mais no seu caráter de inspiração do que na quantidade de pessoas que conseguiram ajudar.
Com 91 anos, a dona de casa Valderez, por exemplo, confecciona, há mais de 50 anos, roupinhas de bebês que são doadas a organizações e lares-abrigos. As roupas são feitas uma a uma na máquina de costura a partir de retalhos de panos oferecidos por amigas e de tecidos comprados pela própria Valderez. Desse modo, ela produz uma média de 150 roupinhas a cada quatro meses, ou seja, 450 peças por ano. Assim, em meio século, a dona de casa conseguiu entregar aproximadamente 23 mil enxovais.
Confeccionar um pouco mais de 20 mil roupinhas de bebê em 50 anos certamente não significa muito em termos de produção industrial. Mas, segundo Grecco, a relevância do gesto de Valderez deve ser medida no compromisso de suas amigas para separar os tecidos e na gratidão sentida pelas organizações sociais, lares-abrigos, pais, mães e crianças, que se beneficiaram dos enxovais confeccionados pela dona de casa.
Já fotógrafa Lídia ajudou a dar um destino ecologicamente correto ao isopor descartado na cidade onde vive, Ribeirão Preto (SP). Lídia procurou saber porque o material não era, tal qual os outros tipos de lixo, destinado à reciclagem, apesar de causar grandes danos à natureza. Acabou descobrindo que isso ocorria porque extremamente leve o isopor se tornava pouco atrativo àqueles que vivem da reciclagem.
A solução encontrada por Lídia foi mobilizar empresários da cidade para que viabilizassem um sistema de compactação do produto, estimulando assim cooperativas, que passaram a enxergar o valor econômico no isopor. Conforme o escritor, a iniciativa da fotógrafa não modificou a maneira como isopor é e será descartado no resto do país, mas ajudou a quebrar o paradigma na cabeça de muitos de que o material não é reciclável.

O poder da inspiração
Segundo o consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental, Valderez e Lídia nunca tiveram a pretensão de que suas atitudes fossem transformar o mundo completamente. Apenas tiveram fé de que aquilo que estavam fazendo era o certo. "Não é preciso um grande compromisso, um grande passo. Não é preciso ser nobre ou notório. Fazer pequenas coisas e deixar que o tempo borde tudo já será um começo", afirma.
Mesmo a ação de Greta Thunberg, por exemplo, começou de uma forma modesta. Como relata Grecco em seu livro, a intenção da adolescente era apenas convocar amigos para protestar contra líderes mundiais que relutam em assumir compromissos definitivos no combate aos efeitos das mudanças climáticas. "O que seria um encontro de classe com cartazes desenhados à mão virou, no entanto, um protesto mundial em mais de 60 países com estudantes que convocaram uma greve geral para chamar a atenção para o movimento", conta o escritor. Nunca se sabe qual será o desfecho da sua ação. No caso de Greta, ela chegou a ser nomeada para o Prêmio Nobel da Paz.
Renomadas ou anônimas, realizando ações que impactaram milhões ou que serviram apenas para mobilizar moradores de uma cidade do interior, o que deve ser destacado é a iniciativa dessas mulheres, a vontade que tiveram em transformar a indignação em ação e o poder que suas atitudes tem para inspirar. "Cada pessoa que comece algo em prol do outro, por menor que seja o gesto, por mais despretensioso ou singelo, será como uma pedra atirada a um lago. Uma onda será criada no lago e, de alguma forma, isso vai reverberar em algo ou alguém", afirma Grecco. Essas mulheres fizeram isso e muitas mais ainda irão fazer.



Jimenes Comunicação

Patrícia Jimenes
atendimento@jimenescomunicacao.com.br
(11) 96599-3756

Nenhum comentário:

Postar um comentário