Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
De um lado, um combate no escuro, contra um inimigo invisível, que se
abriga também em nossos melhores amigos, e os usa para atacar-nos.
Guerra difícil, especialmente porque o encarregado de comandá-la faz
questão de ignorar o que se sabe sobre o inimigo e de se expor a ele. De
outro, uma guerra aberta, em que criminosos do grupo Primeiro Comando
da Capital, presos em diversas prisões paulistas, supostamente sem
comunicação, conseguiram coordenar uma fuga em massa. O que dizem é que o
principal líder do PCC, Marcola, preso em Brasília, em penitenciária de
segurança máxima, deu a ordem. E o “salve” – nome que os bandidos dão
às instruções que recebem – é para que matem, assaltem, façam o que
quiserem.
Não, não bastava o coronavírus. Cerca de 400 presidiários integrantes
do PCC conseguiram fugir de quatro prisões. Consta que 200 foram
capturados. Os outros estão nas ruas. Para eles, matar policiais é
motivo de orgulho. Até chegam a tatuar um palhaço no corpo, como sinal
de que mataram policiais.
É uma fase sombria, com riscos múltiplos. O que se ouve dizer –
tomara que seja falso – é que o objetivo é gerar tanta tensão que as
autoridades sejam obrigadas a reduzir as restrições impostas aos chefões
do crime organizado. E, lembremos, o clima já é tenso, devido ao
coronavírus, mas não apenas a isso: os policiais ganham mal, não têm
coletes à prova de bala suficientes, seu armamento é inferior ao dos
bandidos. Sérgio Moro terá alguma ideia?
Cansado de palpites?
As informações sobre o coronavírus variam: há quem recomende tomar
água quente com fatias de limão, há quem negue sumariamente a existência
da pandemia (um cavalheiro, na manifestação da avenida Paulista,
gritava que coronavírus era uma invenção para desmobilizar os
manifestantes). Há os conselhos da moça que estudou na universidade de
Wuhan, na China. E há uma fonte precisa, séria, elaborada por cientistas
e distribuída pelo SUS. Tudo o que se sabe está nesse aplicativo. É só
clicar o link. Para IOS:
Para Android:
Mas é Carnaval 1
Boa parte da comitiva que acompanhou Bolsonaro aos Estados Unidos
está com coronavírus. Ele, em vez de cumprir quarentena, saiu do Palácio
para confraternizar com os manifestantes, no domingo. Abraçou-os,
apertou mãos, tirou selfies, tudo aquilo que não deveria fazer para
proteger sua saúde e para evitar contaminar algum de seus adeptos. Foi
criticado pesadamente por isso, mas não deu a menor bola para a saúde
dos outros.
Mas é Carnaval 2
Muitas das Excelências que o criticaram por ir a uma manifestação
quando o que se requer é o mínimo de contato entre as pessoas – como os
governadores Doria, Witzel, Ibaneis, e o presidente do Supremo, Toffoli –
foram a uma festa em ambiente fechado para 1.300 convidados, lançamento
da CNN Brasil. Todos arriscaram a saúde, mas sabe como é: vão
desagradar quem dá notícias? Como diz a marchinha, aquele cordão cada
vez aumenta mais.
Dias de Momo
O SBT comunicou a suspensão das gravações de A Praça é Nossa, por
causa do coronavírus. E talvez porque outros comediantes estejam
ocupando indevidamente um lugar no picadeiro.
Cuidar de doentes? Para que?
Neste março faz um ano que a terapia VNS para epilepsia deveria estar
sendo oferecida pelo SUS. Um decreto do Ministério da Saúde, de
setembro de 2018, mandava incluir a terapia VNS no SUS no prazo de até
seis meses – que venceu em março de 2019. Em março de 2020, os pacientes
com epilepsia resistente a medicamentos ainda aguardam. 'O Ministério
da Saúde”, diz Maria Alice Susemihl, presidente da Associação Brasileira
de Epilepsia, “não cumpre suas próprias determinações".
Devolvendo!
A defesa do ex-governador fluminense Sérgio Cabral entregou à Polícia
Federal 27 joias que ele deixara escondidas com pessoas próximas.
Cabral já tinha perdido um anel de R$ 800 mil, que lhe fora dado por um
empreiteiro para que ele presenteasse a esposa, Adriana Ancelmo. Agora, a
joia mais valiosa é um brinco de turmalina paraíba com brilhantes, que
custou R$ 612 mil. A entrega das joias faz parte do acordo de delação
premiada de Cabral. Coincide com o pedido de Adriana Ancelmo para que o
apartamento em que morava o casal seja liberado, já que pretende viver
lá com o novo marido.
Boa ideia
O historiador Daniel Marques, assíduo leitor desta coluna, sugere que
os inacreditáveis R$ 2 bilhões destinados à campanha eleitoral sejam
usados no combate ao coronavírus. Este colunista assina em baixo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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