"Eleição inédita", artigo do jornalista Alexandre Garcia, publicado pelo Blog do Puggina, ressalta a grande vitória de Jair Bolsonaro: "ele
apenas foi identificado como o vértice, a convergência da ideia de
milhões de brasileiros que esperavam encontrar um candidato que
representasse o que pensam. Alguém que tivesse assumido os mesmos
valores sobre Pátria, família, moral, costumes, segurança, papel do
estado, economia":
No artigo da semana passada registrei o ineditismo da campanha via
redes sociais. Hoje, depois dos resultados de domingo, pergunto como um
candidato sem dinheiro, sem partido, sem marqueteiro, sem tempo no
horário eleitoral, e retirado da campanha 30 dias antes da eleição,
conseguiu surgir das urnas em primeiro lugar, 18 milhões de votos acima
do segundo colocado e perto de decidir em primeiro turno. Fez nove vezes
mais votos que o candidato que tinha mais dinheiro e maior tempo no
horário eleitoral - Alckmin -, e 38 vezes mais votos que o segundo em
dinheiro na campanha, Meirelles. E retirado das ruas por uma facada.
Você dirá que a facada ajudou, porque deu no noticiário um tempo
geometricamente maior que ele teria normalmente. Mas também precisa
considerar que não foi apenas a espontaneidade da iniciativa popular nos
movimentos de rua, nas concentrações, nas redes sociais. Os opositores,
nos meios de informação, nos meios intelectuais e artísticos o puseram
no centro de todas as atenções nos últimos dois meses. Ele foi o sujeito
de quase todas as frases, na boca de jornalistas, analistas, artistas, e
até nos debates a que não pode comparecer. O nome mais falado e mais
escrito na campanha, portanto o mais lembrado, transformado no mais
importante. Omnipresente, mesmo confinado no hospital e em casa.
Quando Lula foi recolhido para cumprir pena por corrupção, fez a
frase: "Eu não sou um ser humano; sou uma idéia". A frase de Lula ajuda a
entender por que Bolsonaro é um "fenômeno eleitoral", como constatou
minha colega Míriam Leitão na noite de domingo. Bolsonaro é uma idéia,
portanto, não pode ser confinado num hospital ou em casa, por uma facada
- como a idéia-Lula não pode ser presa atrás das grades. Mas Bolsonaro
não é o dono da idéia, nem a fonte da idéia. Ele apenas foi identificado
como o vértice, a convergência da idéia de milhões de brasileiros que
esperavam encontrar um candidato que representasse o que pensam. Alguém
que tivesse assumido os mesmos valores sobre Pátria, família, moral,
costumes, segurança, papel do estado, economia.
As urnas castigaram os profetas, surpreendidos pelos resultados. O
nome tão promovido pelos opositores turbinou outros candidatos: formou
bancadas estaduais e federais, senadores e governadores - uma srupresa
para os afastados das ruas, auto-enganados porta-vozes do povo. A
realidade sempre se sobrepõe ao achismo futurológico. Não previam a
renovação, o arquivamento de parte da política apodrecida pelo engodo e o
fisiologismo, contaminada pelo germe da corrupção. O grande eleitor não
foi Bolsonaro, que ainda não foi eleito. O grande eleitor, o grande
autor dessa eleição inédita, é o eleitor consciente, participativo,
protagonista, que, com o voto, está formando governo e oposição - dois
lados essenciais para recuperar o futuro para um país rico empobrecido.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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