Sem vagas, muitos pacientes ficam jogados nos corredores dos hospitais |
Oitenta e nove por cento dos brasileiros classificam a saúde – pública
ou privada – como péssima, ruim ou regular. A avaliação é compartilhada
por 94% dos que possuem plano de saúde e por 87% dos que dependem do
Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados apresentados hoje (26) pelo
Conselho Federal de Medicina (CFM).
A pesquisa, realizada pelo Instituto Datafolha, tem abrangência nacional
e ouviu 2.087 pessoas – 59% delas residentes no interior. A amostra,
composta por homens e mulheres com idade superior a 16 anos, respondeu a
um questionário estruturado que dispõe ainda sobre a expectativa dos
brasileiros sobre a atuação dos próximos governantes e parlamentares em
relação à assistência médica.
Para os entrevistados, os políticos que vencerem o pleito deste ano
devem adotar medidas que combatam a corrupção na área da saúde (26%);
reduzam o tempo de espera por consultas, exames, cirurgias e outros
procedimentos (18%); aperfeiçoem a fiscalização dos serviços na rede
pública (13%); fomentem a construção de mais postos e hospitais (11%); e
garantam melhores condições de trabalho e de remuneração para médicos e
outros profissionais da área (9%).
SUS como prioridade
A valorização do SUS como política social relevante aparece com ênfase
na pesquisa. Os números mostram que, para 88% dos entrevistados, o
sistema deve ser mantido no país como modelo de assistência de acesso
universal, integral e gratuito para brasileiros, conforme previsto em
seus princípios e diretrizes legais.
Falta gestão e recursos
De acordo com o estudo, 83% das pessoas ouvidas acreditam que os
recursos públicos não são bem administrados; 73%, que o atendimento não é
igual para todos; e 62%, que o SUS não tem gestores eficientes e bem
preparados. Entre os 14 serviços disponíveis em postos e hospitais
analisados pelo estudo, 11 foram alvo de críticas.
Dificuldade de acesso
Os dados mostram que, entre os itens com maior dificuldade de acesso na
rede pública estão: consultas com médicos especialistas (74%); cirurgias
(68%); internação em leitos de UTI (64%); exames de imagem (63%);
atendimento com profissionais não médicos, como psicólogos,
nutricionistas e fisioterapeutas (59%); e procedimentos específicos como
diálises, quimioterapia e radioterapia (58%).
Principais gargalos
A análise dos dados sugere que, de forma geral, a percepção de mau
atendimento decorre de problemas registrados ao longo do processo, como o
tempo de espera para ter uma resposta do SUS para uma demanda
encaminhada, item apontado por 24% dos entrevistados.
Também são vistos como vilões a falta de recursos financeiros para o SUS
(15%) e a má gestão administrativa e operacional do sistema (12%).
Questões como a falta de médicos (10%) e a dificuldade para marcar ou
agendar consultas, cirurgias e procedimentos (10%) completam o topo do
ranking.
O tempo de espera é o fator com avaliação mais negativa do SUS – o item é
apontado como maior gargalo na rede pública para 82% dos entrevistados
que buscam consulta, 80% dos que precisam de um exame de imagem e para
79% dos que aguardam cirurgia.
Na semana de realização das entrevistas (9 a 16 de maio), 39% dos
entrevistados declararam estar aguardando algum tipo de atendimento na
rede pública, índice nove pontos percentuais maior do que o registrado
em pesquisa semelhante realizada pelo CFM em 2014.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, os resultados da pesquisa
demonstram claramente uma posição de insatisfação por parte da sociedade
brasileira e não devem ser ignorados pelos candidatos ao pleito de
outubro. “Esses números falam por si só. Precisamos ter mais
sensibilidade política, financiamento mais adequado, gestão mais
eficiente”, concluiu. *Agência Brasil
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