Coluna dominical de Carlos Brickmann:
O próximo capítulo da
novela “Prisão com Lula é górpi” estava marcado para esta terça. A
Segunda Turma do Supremo julgaria pedido de suspensão da condenação de
Lula e sua libertação imediata. Julgaria: o mesmo ministro Édson Fachin
que pedira a votação mandou suspendê-la. Motivo: o TRF-4 de Porto Alegre
encaminhara o processo ao STJ, e o STF não deveria interferir no tema.
Dever, não deveria, mas já tinha interferido, lançando dúvidas em todo o
país.
Ou melhor, mais
dúvidas. Seria julgada só a libertação ou também a proibição de se
candidatar? Dúvidas havia até na defesa de Lula: o advogado Sepúlveda
Pertence, em Brasília, pedira ao Supremo que, se não anulasse a
sentença, transferisse Lula para prisão domiciliar; o advogado Cristiano
Zanin, em São Paulo, dizia não ser aceitável que Lula continuasse
preso, por considerá-lo vítima de injustiça.
Alguma previsão
lógica? Se no Brasil nem o passado é previsível, imagine o futuro. Mesmo
que houvesse certeza sobre a votação, não haveria sobre o seu alcance.
Mesmo derrotada a tese da anulação da sentença que o condenou, alguma
concessão – como prisão domiciliar – já representaria uma vitória
política para Lula.
Se o pedido fosse
integralmente rejeitado, sem concessões, ficaria mais claro ainda que
Lula não poderia disputar eleições. Mas as turmas do STF são formadas
por cinco ministros, há muitas decisões por 3×2, e na Segunda Turma
estão pessoas que já foram muito ligadas a Lula ou ao PT. Isso não
significa que seu pedido seria aceito – nem essa certeza existe – mas
que seria possível algum tipo de atenuante da punição. Previsível é
apenas a posição de Lula: continuará dizendo que é candidato, até que
seu registro seja negado.
O adversário 1
Quem será o candidato
de Lula à Presidência? Muita gente pensa que, depois da falta de
gentileza de Dilma, que fez questão de se candidatar à reeleição em vez
de ceder a vez a Lula, ele preferiria escolher algum nome de outro
partido, que não pudesse disputar com ele o comando do PT. Pode ser; e,
afinal, Jaques Wagner, fiel entre os fiéis, tem conversado muito com
Ciro Gomes, o que não faria sem a aprovação de Lula. Mas as coisas são
mais complexas: se Ciro ganha, passa a liderar toda a ala bolivariana da
política brasileira, e Lula fica em segundo plano. O PT vai conversar
com Ciro até o último instante; mas seu candidato deve ser do partido,
alguém abertamente fiel a Lula e que não tenha ambições futuras. Haddad,
talvez.
O adversário 2
O candidato tucano
Geraldo Alckmin continua parado: não teve novos apoios, não subiu nas
pesquisas, não se tornou empolgante. Mas, apesar de tudo, pode chegar ao
segundo turno. E, se tiver a sorte de disputar contra radicais, pode
ganhar a eleição. Meirelles, emparedado (se for apresentado como
candidato do Governo, é ruim; se for apresentado como oposição, é pior),
não tem onde buscar apoio e é ainda menos empolgante do que Alckmin. A
tendência da maior parte do MDB – não unânime, já que haverá emedebistas
dando apoio de Ciro Gomes a Bolsonaro – é aliar-se a Alckmin. O mesmo
ocorre com o DEM, o PSD, e os partidos do Centrão, PR, PTB, PP,
eventualmente o PRB. Isso dá voto? Não, claro; mas dá tempo de TV e
ajuda no essencial trabalho de acompanhar de perto a campanha e as
apurações. Urnas venezuelanas têm seus mistérios.
Os líderes
Há ainda Bolsonaro.
Líder nas pesquisas, em ascensão, falta-lhe a base partidária. Seu tempo
de TV é minúsculo. Pode chegar ao segundo turno (como Ciro também
pode), mas precisará demonstrar sua força eleitoral. Por enquanto, vai
bem; quando a campanha começar, como fica, sem TV?
Marina é empolgante,
pessoalmente, mas não tem base. Como um cometa, aparece de quatro em
quatro anos, brilha e some. Falta-lhe o trabalho de base, a ser
realizado no intervalo das eleições. E Ciro vai bem, mas não resiste à
tentação de ofender pessoas e grupos, até que se perca.
Os alicerces
Quem começa a
trabalhar as bases, não para essas eleições, mas para o futuro, são dois
grupos: o Partido Novo (que tem candidato, João Amoedo, mas cuja força
virá da proposta de um governo baseado no mérito, e não só em acordos
políticos); e o RenovaBR, que busca formar líderes políticos para o
futuro, independentemente de sua ideologia. O RenovaBR dá cursos de seis
meses, mais ajuda de custo, a 133 bolsistas que se comprometam com
combate à corrupção, sustentabilidade e gestão fiscal responsável.
O RenovaBR foi criado
pelo empresário Eduardo Mufarej (Tarpon Investimentos), com apoio de
Nizan Guanaes, Armínio Fraga, Luciano Huck e outros. É trabalho bem
montado: utiliza uma plataforma Canvas, da Instructure, já testada por
sólidas instituições de ensino, num ambiente virtual de aprendizado que
abrange todo o país. Os dois projetos podem funcionar – o que seria
ótimo para o Brasil, num futuro não muito distante.
Como dizia o poeta
O PT pensa em Dilma para o Governo de Minas, em vez de Pimentel. Como disse Drummond, “quer ir para Minas, Minas não há mais”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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