A
Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da
Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane
Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o
boletim quinzenal de agosto:
O Brasil tem tudo para dar
certo: território, água, clima, mercado interno. De outro lado, tem tudo
para dar errado: gigantismo do Governo, excessiva carga tributária,
sufocante burocracia oficial, corrupção desmoralizante.
O problema
mais crítico, no momento, é a dívida pública, que passou de 58,9% do
PIB, em dezembro/14, para 64,6% atualmente (R$3.84,9 bilhões). Entre
dezembro/14 e julho/15, a dívida aumentou R$432,4 bilhões, com destaque
para o inexplicável peso dos juros fabricados pelo Banco Central, no
montante assombroso de R$451,7 bilhões no período de 12 meses. A alta da
Selic está arrasando as contas do Tesouro Nacional, sem maior proveito
no combate à inflação.
Na área externa, o Brasil perdeu mercados
por falta de competitividade dos produtos manufaturados e perdeu receita
por causa dos baixos preços das commodities. De janeiro a julho,
as exportações caíram 15,5%, queda de 19,4% para China, -9,0% para
os Estados Unidos, -11,2% para Argentina, -29,7% para Holanda e Países
Baixos; paralelamente, caíram as receitas de soja (-14%), minérios
(-53,5%), petróleo (-32,5%), automóveis (-7,9%), ferro e aço (-2,8%),
entre outros.
A inflação é nitidamente uma decorrência da política
salarial. Como no Orçamento da União para 2016 prevê-se reajuste de 10%
no salário mínimo, a inflação tenderá a seguir o mesmo curso, a não ser
que se agravem o desemprego e a recessão econômica.
O Ministério
da Fazenda luta pelo aumento de tributos e o corte de gastos, com várias
medidas de pequeno alcance, mas, até agora, a única proposta que
poderia surtir efeito foi a anunciada redução do número de Ministérios e
dos servidores públicos comissionados, que está sendo questionada e
poderá ser esvaziada.
No quadro geral, afigura-se extremamente
improvável corrigir as distorções na administração pública
dos Municípios, Estados e da União. Além da queda substancial dos
royalties do pré-sal, parece uma tarefa impossível a redução dos gastos
das Câmaras de Vereadores, das Assembleias Legislativas, do Congresso
Nacional e do Judiciário, em geral. Ou seja, se não houver uma drástica
Reforma Política e Administrativa, o País tem pelo menos alguns anos
pela frente para conviver com as agruras dos problemas atuais.
Alguns acreditam que as grandes mudanças poderão começar a partir de 2018. É ver para crer.
34º ENAEX / AEB
O
34º Encontro Nacional de Comércio Exterior – ENAEX/AEB 2015 repetiu o
sucesso das reuniões anteriores, reunindo 3.400 representantes de
instituições, empresas e analistas do setor comércio exterior.
Estiveram
presentes o Governador e o Vice-Governador do Estado, os Ministros da
Fazenda, do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, o Chefe
da Secretaria dos Portos, o Presidente da APEX, os Presidentes da FIRJAN
e da Associação Comercial, e o Dr. Benedito Moreira, Presidente do
Conselho de Administração da AEB. A CNC, que é patrocinadora do Enaex,
esteve representada pelos Vice-Presidentes Darci Piana e Lázaro Gonzaga,
pelo Diretor-Secretário, Bruno Breithaupt, e pelo Secretário-Geral da
entidade, Marcos Arzua. Também estiveram presentes os Coordenadores
das Câmaras do Comércio da CNC: André Roncatto (CBÓptica), Claudio
Conz (CBMC, de Materiais de Construção), João Carlos Micelli (CBCGal,
de Gêneros Alimentícios) e Rubens Medrano (CBCex, de Comércio Exterior).
O
Presidente da AEB, José Augusto de Castro, abriu a reunião com ampla
exposição sobre a difícil conjuntura do setor externo, enfatizando os
problemas que constrangem as exportações brasileiras, tais como a pesada
carga fiscal e a onerosa burocracia oficial que, ao lado
das deficiências do sistema de transportes comprometem a produtividade e
a competitividade dos produtos nacionais, que desde algum tempo vêm
perdendo mercados para os países competidores mais eficientes.
O Governador Pezão acentuou os problemas vividos pelo Estado, mas destacou a confiança do Governo para sair da crise.
Em
nome do Presidente da CNC, falou o ex-Ministro da Fazenda, Ernane
Galvêas, destacando as dimensões da crise atual, em comparação com a
crise dos anos 80 e 90, ocasionadas pelos dois choques do petróleo e dos
juros internacionais, de que resultou a crise da dívida externa
de então. Em análise das corajosas medidas adotadas para sanar
as dificuldades daquela época, foi enfatizada a importância da abertura
do mercado externo como solução para o balanço de pagamentos e da
economia como um todo.
O Ministro da Secretaria dos Portos, Edinho
Araújo, detalhou a longa lista de projetos em curso no setor portuário,
principalmente em relação à dragagem e às medidas burocráticas, que
estão sendo simplificadas.
O Ministro Armando Monteiro (MDIC)
enfatizou as linhas básicas do Novo Programa de Desenvolvimento das
Exportações, com destaque para os incentivos que estão sendo reforçados
e a campanha para a realização de acordos comerciais, com os
países latino-americanos do Pacífico, com o México, a China, os Estados
Unidos e o Mercado Comum Europeu. Enfatizou, também, as providências
relacionadas ao Mercosul e sua importância para a exportação brasileira
de produtos industrializados.
O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
encerrou a sessão de abertura do Encontro com uma clara
explicação sobre o alcance das medidas de ajuste fiscal, firme ponto de
partida para a reordenação da política econômica. O Governo tem uma
preocupação primordial com a simplificação tributária e a segurança
jurídica, como princípio fundamental para recuperar a confiança dos
trabalhadores e dos empresários, indispensável à retomada do crescimento
econômico e da garantia do emprego.
O clima de confiança do ENAEX
foi altamente positivo, no sentido de cooperação com as autoridades do
Governo, para encontrar as soluções e sair da crise. O comércio exterior
é a primeira porta a ser aberta nesse sentido.
AS CAUSAS DA RECESSÃO
O
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com muita razão, atribui a queda do
PIB nacional em 2015 a fatores não econômicos e nega que as medidas
do ajuste fiscal sejam responsáveis pela retração das atividades
econômicas.
A nosso ver, parece óbvio que a queda nas atividades
econômicas decorre, principalmente, da queda dos investimentos públicos,
por falta de recursos, e dos investimentos privados, por falta de
confiança. Faltam recursos ao Governo obeso, porque gasta mais do que
arrecada e ainda paga uma enormidade de juros fabricados pelo Banco
Central. No 1º trimestre, os investimentos da União e dos Estados caíram
R$22 bilhões.
E por que falta confiança? Difícil resumir a
explicação, mas basicamente, é uma situação que decorre da generalizada
corrupção e do desentrosamento dos Três Poderes, especialmente entre o
Legislativo e o Executivo. E, daí, a falta de perspectivas para a
solução dos problemas mais evidentes.
Agrega-se a tudo isso a
retração do mercado internacional pelo fim do ciclo de altos preços das
commodities, devido à menor demanda da China, e ao recorrente clima de
especulação em torno de uma elevação de juros no mercado
norte-americano.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
A crise
econômica ganhou proporções trágicas e, mais grave ainda, está piorando.
Entre abril e junho, o PIB nacional caiu 1,9%, acumulando no ano queda
de 2,1%, podendo chegar a -3,0% no final do ano. Abaixo, o quadro
da recessão, no 2º trimestre ante o primeiro, segundo o IBGE:
PIB -1,9%
Agropecuária -2,7%
Indústria -4,3%
Comércio e Serviços -0,7%
Investimentos -8,1%
Consumo das Famílias -2,1%
Consumo do Governo +0,7%
Exportação +4,3%
Importação -8,8%
De todos estes dados, o mais preocupante é a queda dos investimentos. Esse cenário trágico pode se estender até 2018.
Indústria
A
atividade industrial está em queda desde 2010, com tendência acentuada
de continuar caindo. Em 2014 caiu 6,3% e, neste ano, caiu 4,3% no 2º
semestre, o pior resultado desde a crise de 2009. Mas, segundo a
CNI, aumentou 3,7 pontos em julho. A produção de embalagens teve queda
de 2,59%, mas o Grupo KLABIN registrou 16 trimestres consecutivos
de crescimento.
A produção da indústria automobilística foi menor
17,8% em julho sobre junho, acumulando queda de 18,1% no 1º semestre,
com licenciamento 21% menor. A produção de máquinas agrícolas e
rodoviárias caiu 27,2% e as exportações perderam 10,0% em valor.
A
produção de petróleo chegou a 2.125 mil barris/dia, em julho
(+4,5% sobre 2014), devendo manter-se nesse nível até o final do ano. O
setor imobiliário vendeu 110.276 unidades no 1º semestre, o dobro dos
lançamentos. O índice de confiança da indústria (ICI) passou de 69,1%
em julho para 68% em agosto (FGV).
Comércio
Em junho,
o volume de vendas no comércio varejista caiu 2,7% em relação a
junho/14, acumulando no ano queda de 2,2%, o pior 1º semestre
desde 2003, com destaque para móveis e eletrodomésticos (-11,3%),
livraria e papelaria (-8,3%). Regionalmente, destacaram-se na queda
Goiás (-9,1%), Paraíba (-7,9%) e Mato Grosso (-6,7%), conforme o
PMC/IBGE.
Segundo a CNC, o índice de intençãoão de consumo das
famílias (ICF) recuou 5,9% em agosto sobre julho e 32,3% em relação a
agosto/14. A expectativa de queda em 2015 subiu para 2,4%.
No Rio
de Janeiro, pesquisa da CDL-Rio aponta queda de 3,1% em julho, nas
vendas do comércio lojista. Em São Paulo, as vendas caíram 7,3% na 1ª
semana de agosto (ACSP). Segundo a Serasa, de janeiro a julho o número
de dívidas não pagas pelo consumidor aumentou 16,8%. Para a CNC, o
aumento de famílias inadimplentes cresceu 8,4% em agosto.
Agricultura
Estimativa
da CONAB indica uma safra de grãos de 208,8 milhões de toneladas na
safra corrente 2014/2015. Segundo o IBGE, a área de produção agrícola
aumentou 2,1% na safra corrente ante 2014, com acréscimo de 11,9% para a
soja, 5,2% para o milho e 4,4% para o arroz. Em valor, segundo
o Ministério da Agricultura, a produção agrícola teve uma redução de
1,8% e a pecuária um acréscimo de 2,2%.
Mercado de Trabalho
A
taxa de desemprego aumentou para 7,5% no 2º trimestre, o pior resultado
em cinco anos, com ligeira alta de 0,3% na renda média do trabalhador.
Houve queda em todas as seis regiões pesquisadas pelo IBGE.
Entre
junho e julho, a população desocupada aumentou em 158 mil pessoas
(+9,4%), registrando queda de 0,9% ante julho/14. Ao todo, são
8,354 milhões de desempregados. A população economicamente ativa
(PEA) aumentou 1,9%. Na região metropolitana de São Paulo, o desemprego
aumentou 13,7%, em julho.
O emprego na indústria caiu pelo sexto
mês seguido, em -1,0% em junho, -5,2% no 1º semestre e 4,6% em 12 meses.
Na comparação com junho/14, a queda foi de 6,3%. Segundo o DIEESE, o
reajuste salarial no 1º semestre teve um ganho real de apenas 0,58%, o
mais baixo desde 2008.
Setor Financeiro
A expansão do
crédito no sistema financeiro vem caindo ao longo de 2015, tendo
crescido apenas 0,3% em julho, 1,6% no 2º trimestre e 3,1% no ano. Nos
últimos 12 meses, a expansão foi de 9,9%, sendo 5,2% nos bancos privados
e 15,3% nos bancos públicos. O total de meios de pagamento (M1) teve
redução de 1,3%. A capacitação no mercado interno com CDB voltou a
crescer. Os estoques de LCI e LCA, que vinham em forte alta,
permaneceram estáveis em julho. Os saques no FGTS cresceram 16,2% em
julho, como consequência da alta no desemprego. Os lucros dos maiores
bancos aumentaram 17% no 2º trimestre. O percentual de
famílias endividadas passou de 61,9% em julho para 62,7 em agosto,
comparado com 63,6% em agosto/14 (CNC). O número de empresas com dívidas
em atraso aumentou 9,57% em julho, sobre julho/14. A inadimplência das
empresas cresceu 12,6% (Serasa). A Caixa Econômica vai liberar R$5
bilhões de crédito para a indústria automobilística.
Inflação
A
inflação deu uma trégua em agosto, com a prévia do IPCA-15 indicando
alta de 0,43%. Cinco fatores estão contribuindo para segurar a inflação:
1) Menor pressão dos preços administrados; 2) menor expansão
do crédito; 3) retração das atividades econômicas; 4) maior taxa
de desemprego e 5) menores reajustes dos salários e da renda.
Basicamente, para onde forem os salários vai a inflação (A. Lewis –
1956).
As tarifas de transportes registraram queda de 0,46% em
agosto, especialmente passagens aéreas (-25,06%), mas também
houve desaceleração no item alimentação e bebidas (de 0,64% para 0,45%,
de julho para agosto). A FIPE-SP está revisando sua previsão para 2015,
de 0,62% para 0,59%, com destaque para o Grupo Alimentos, de 0,61% para
0,15%. O preço da cesta básica em São Paulo registrou queda de 0,41%, em
agosto, mas acumulou alta de 10,7% em 12 meses.
A crise hídrica voltou a pressionar as tarifas de energia em 2015, com previsão de alta de 7,9% em agosto.
Setor Público
Inegavelmente,
o Governo atingiu o limite máximo para a imposição da carga
tributária, caminhando para 38% do PIB. De janeiro a julho, o Governo
economizou R$6,2 bilhões para resgatar juros de R$288,6 bilhões sobre a
dívida pública, ocasionando um déficit nominal de R$282,4 bilhões,
responsável pelo aumento da dívida bruta em R$ 432 bilhões (!?) em sete
meses, chegando a R$3.684,9 bilhões, equivalente a 64,6% do PIB. Em
apenas um mês, de junho para julho, a dívida aumentou R$96,5 bilhões. O
valor dos títulos públicos federais fora do Banco Central
atingiu R$2.475,2 bilhões, com acréscimo de R$291,6 bilhões em sete
meses. No 1º semestre, o Banco Central perdeu R$37 bilhões nas operações
de swap cambial. Ao que tudo indica, o Governo da União vai economizar
NADA, para iniciar seu programa de ajuste fiscal, em 2015.
Setor Externo
O
Balanço de Pagamentos no acumulado até julho apresentou déficit de
US$44,1 bilhões, coberto quase integralmente pelo ingresso de
capitais estrangeiros. A conta “viagens” registrou déficit de US$8,2
bilhões, “royalties” US$12,8 bilhões, juros US$15,1 bilhões e lucros e
dividendos US$10,1 bilhões. O investimento estrangeiro no Brasil caiu
37% em julho, sobre julho/14. O Fundo da Noruega reduziu sua exposição
no Brasil em US$1,4 bilhão.
As reservas cambiais registraram saldo
de US$370,1 bilhões e a dívida externa total chegou a US$552,9 bilhões,
inclusive operações intercompanhias. Até julho, as
exportações cresceram 6,6% em volume e caíram 20,5% em valor. As
importações caíram 24,7%, com redução de combustíveis e bens de capital.
A desvalorização do real frente ao dólar chegou a 53%, nos últimos 12
meses. No mercado internacional, o destaque foi o crescimento de 3,7%
do PIB dos Estados Unidos, no 2º trimestre e o aumento de 2% dos bens
duráveis, em julho.
Na Europa, o PIB da Grécia subiu 0,9% no 2º
trimestre e o 1º Ministro renunciou. O PIB da Alemanha subiu 0,4%,
segurando as atividades na Zona do Euro. Na China, o Banco Central
reduziu os juros e o compulsório dos bancos, aumentando a liquidez para
estimular o crescimento. Consta que a China vai fechar 10 mil fábricas,
para reduzir a poluição.