A
tarefa de Victor Hugo, já no crepúsculo de sua longa trajetória, de
escrever este que foi seu último romance, era considerada por ele
necessária e, ao mesmo tempo, impossível. “Impossível, a menos que você
adicione o sonho”, revelou o monumental autor.
O AUTOR
Victor
Marie Hugo nasceu em 26 de fevereiro de 1802, em Besançon, França. Foi
educado por vários tutores e estudou em escolas privadas. Tornou-se
escritor aos 15 anos, e logo assumiu um lugar excepcional na história da
literatura ocidental, dominando todo o século XIX graças a sua fecunda
genialidade e à diversidade de sua produção. Escreveu desde poesia
lírica, satírica e épica até romances e dramaturgia em prosa e em
versos. Chegou a ser considerado poeta oficial da nação francesa. Em
1827 redigiu o famoso prefácio de Cromwell, tido como o
manifesto do movimento romântico na França. Tornou-se membro da Academia
Francesa em 1841. Suas obras mais famosas são os romances Notre-Dame de Paris (1831), publicado pela editora Estação Liberdade, e Os miseráveis (1862). Também foram publicados pela editora O último dia de um condenado (1829) e O homem que ri
(1868). No final da carreira, passou um longo período no exílio, por
oposição ao império de Napoleão III. Teve longa militância contra a pena
de morte. Faleceu em 22 de maio de 1885, em Paris, e está enterrado no
Panthéon.
TRECHOS
“Vivia-se
publicamente, comia-se em mesas postas diante das portas; sentadas à
entrada das igrejas, as mulheres desfiavam velhos tecidos cantando ‘A
Marselhesa’, o parque de Monceau e o jardim de Luxemburgo serviam como
terreno de manobras militares, em todos os cruzamentos havia armeiros
trabalhando sem parar, fabricavam fuzis diante dos olhos dos transeuntes
que aplaudiam; em todos os lábios as mesmas palavras: Paciência.
Estamos vivendo uma revolução.” [p. 109]
“Lugar
imenso. Todos os tipos de humanos, inumanos e sobre-humanos estavam
ali. Um acúmulo de antagonismos. Guillotin evitando David, Bazire
insultando Chabot, Guadet zombando de Saint-Just, Vergniaud desdenhando
de Danton, Louvet atacando Robespierre, Buzot denunciando Égalité,
Chambon difamando Pache, todos execrando Marat. E quantos nomes ainda
seria preciso mencionar! Armonville, chamado de Boina Vermelha porque
estava sempre com seu boné frígio, era amigo de Robespierre e desejava,
“depois de Luís XVI, guilhotinar Robespierre” por uma questão de
equilíbrio; Massieu, colega e quase sósia do bom Lamourette, um bispo
que legou seu nome a um beijo35; Lehardy, do Morbihan, que estigmatizava
os padres da Bretanha; Barère, o homem das maiorias, que presidia
quando Luís XVI foi levado ao tribunal e que era para Paméla o que
Louvet era para Lodoïska…” [p. 186]
“Julho
passou, agosto chegou, um vento heroico e feroz varria a França, e dois
espectros acabavam de surgir no horizonte. Marat com uma faca no peito,
Charlotte Corday sem cabeça, a situação se tornava trágica. Quanto à
Vendeia, vencida em sua grande estratégia, ela se refugiava nas menores,
as mais temíveis, como dissemos; essa guerra era agora uma imensa
batalha retalhada dentro do bosque; os desastres do grande exército,
dito católico e real, começavam; um decreto deslocou para a Vendeia as
tropas de Mayence; oito mil vendeanos tinham sido mortos em Ancenis; os
vendeanos haviam sido rechaçados de Nantes, desalojados de Montaigu,
expulsos de Thouars, caçados em Noirmoutier, expelidos de Cholet, de
Montagne e de Saumur; eles evacuavam Parthenay; abandonavam Clisson;
fugiam de Châtillon; perdiam a bandeira em Saint-Hilaire, foram
derrotados em Pornic, em Sables, em Fontenay, em Doué, em Château-d’Eau,
em Ponts-de-Cé; eles estavam encurralados em Luçon, batendo em retirada
em Châtaigneraye, em debandada em Roche-sur-Yon; entretanto, de um
lado, eles ameaçavam Rochelle, e de outro, nas águas de Guernesey, uma
frota inglesa, sob as ordens do general Craig transportando juntos os
melhores oficiais da Marinha francesa e vários regimentos ingleses,
aguardava apenas um sinal do marquês de Lantenac para desembarcar.” [p. 269-270]
“O
velho monarquista rebelde estava acuado em sua toca; evidentemente, não
poderia escapar; e Cimourdain fazia questão de ver o marquês decapitado
em sua região, em uma praça, em suas terras e, de algum modo, diante de
sua casa, a fim de que a residência feudal visse cair a cabeça do homem
feudal e que o exemplo fosse memorável.” [p. 321]
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