A possibilidade de que o ex-juiz Sérgio Moro venha a ser reconhecido insuspeito pela maioria do plenário do Supremo parece assustar os advogados. Merval Pereira via O Globo:
O
ministro Edson Fachin, relator dos processos da Operação Lava-Jato no
Supremo Tribunal Federal (STF), levou à luz uma discussão jurídica que
os criminalistas que defendem condenados na operação não gostariam de
reabrir. O “Prerrogativas”, ou “Prerro” para os íntimos, formado por
advogados criminalistas que se julgam proprietários da verdade jurídica,
reagiu com rispidez a uma entrevista que Fachin deu à revista Veja,
como se ele anunciasse “uma manobra com objetivos políticos”.
O
que disse Fachin na entrevista? “O caso ainda não terminou”,
referindo-se ao julgamento da próxima quarta-feira sobre sua decisão de
enviar para a Justiça Federal em Brasília os processos do ex-presidente
Lula. A medida cancelou as condenações já havidas, mas manteve íntegras
as investigações e as provas coletadas na 13ª Vara de Curitiba.
Para
ele, o plenário do Supremo pode rever a decisão da 2ª Turma que aprovou
a suspeição de Moro por 3 a 2. Como relator, Fachin havia determinado
que o processo de suspeição perdera o objeto, mas o ministro Gilmar
Mendes, presidente da Turma, decidiu dar prosseguimento, com o apoio de 4
dos 5 ministros que a compõem. Diz Fachin: “Não seria inusual o
plenário derrubar a suspeição da Turma”.
Ele
lembra que vinha sendo constantemente derrotado, e que nos últimos anos
“consolidou-se uma relatoria mais restrita da Lava-Jato no Supremo”.
Por isso, levando em conta a maioria já fixada, considerou que deveria
dar ao ex-presidente Lula o mesmo tratamento dado pela maioria a outros
acusados em situação análoga.
A
possibilidade de que o ex-juiz Sérgio Moro venha a ser reconhecido
insuspeito pela maioria do plenário do Supremo parece assustar esses
advogados, mas o coordenador do grupo acrescenta um comentário estranho:
“Eleições devem ser disputadas nas urnas”. A que estaria se referindo?
Já que o caso nada tem a ver com Lula, pois mesmo que Moro seja
insuspeito, ele continuará elegível, quer impedir que Moro venha a ser
candidato à presidência? Nesse caso, quem estaria pressionando o relator
da Lava-Jato com fins políticos seria o próprio grupo “Prerrô”.
Outro
dia escrevi uma coluna com o título “11 cabeças, uma sentença” na qual
explorava algumas possibilidades da decisão do plenário, sobretudo sobre
a de a maioria reverter a decisão de Fachin, levando de volta para a
13ª Vara de Curitiba os processos. O ministro Fachin pensa de outra
maneira, de acordo com sua entrevista, e considera possível que a
suspeição seja anulada se a maioria concordar com ele e decidir que Moro
era incompetente para julgar os processos. Incompetente porque o foro
natural seria o Distrito Federal, não Curitiba, mas não suspeito, como
decidiu a 2ª Turma.
Na
sequência da coluna, especulei sobre a possibilidade de o próprio
Fachin votar contra seu relatório, já que disse na sua decisão que a
tomava para obedecer à maioria, mas que divergia pessoalmente. Não
sabia, como não sei, o que o ministro Fachin fará, apenas tratei de uma
possibilidade. Foi o bastante para que os mesmos criminalistas vissem
ridiculamente nessa especulação uma tentativa de pressionar ministros do
STF, especialmente Fachin.
Ao
aventarem tal possibilidade, estavam, eles sim, tentando pressionar
ministros para que não mudem de posição, o que é mais comum do que fazem
supor na sua falsa indignação. O que temem é perder a reserva de
mercado, e que seus clientes * percam vantagens que podem ter se o
ex-juiz Sérgio Moro for considerado suspeito. Todos entrarão com
recursos querendo anular suas condenações com a mesma base de suspeição
de Moro. E prescrições de penas acontecerão.
Relembrarei
um caso emblemático. A ministra Rosa Weber votou sempre contra a
possibilidade de prisão em segunda instância mas, derrotada, passou a
adotar a decisão da maioria em suas sentenças.
Quando
houve novo julgamento no pleno do Supremo sobre o mesmo tema, ela
voltou à posição anterior, explicando que acompanhara a maioria até ali,
mas que sua posição pessoal sempre foi a favor da prisão apenas após o
trânsito em julgado.
Com
sua mudança, o Supremo Tribunal Federal (STF) alterou a jurisprudência,
e o ex-presidente Lula foi solto. Não vi esses criminalistas
protestarem.
* Texto corrigido às 11:01 - os advogados do ex-presidente Lula não pertencem a esse grupo.
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