Pela mesma razão que a mulher bem sucedida de direita tem que ser aniquilada, os esquerdistas nunca lincharão o mau humorista: eles precisam acreditar que o inferno são os outros. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Feminismo
é um termo ambíguo, pois designa duas coisas opostas: o movimento por
igualdade de direitos entre homens e mulheres, e o movimento de reação,
em defesa da infantilização das mulheres. Um feminismo é representado
pelo direito ao voto das mulheres; o outro, por cotas para mulheres,
tidas como café com leite no jogo da democracia. Se fôssemos usar o
primeiro sentido de “feminismo” para dividir o mundo em países machistas
e feministas, poderíamos dizer que todo o Ocidente é feminista, e que
países como o Irã, a Arábia Saudita e o Paquistão são países machistas. O
Brasil certamente não é um país machista.
Disso
não se segue, porém, que em nosso país inexistam indivíduos machistas,
prontos para infantilizar as mulheres e querer mandar nelas. Um exemplo
retumbante disso acaba de ser dado pelo Porta dos Fundos: inconformado
com o fato de Curitiba ter dado mais votos a uma mulher de direita do
que a qualquer outro candidato a vereador, um autodeclarado humorista
fez um vídeo chamando-a de prostituta. Nessa peça de humor duvidoso, a
candidata é apresentada como tendo participado de uma casa de swing,
seduzido o dono do partido, tirado nudes e mandado para todo mundo. Isso
explicaria a sua votação em primeiro lugar, e ela estava feliz por
existir uma bolsa prostituta na Câmara.
Primeiro
achei que fosse alusão a algum escândalo real. Mas não era. Depois fui
olhar se ela tinha o estilo da “Milena Tudo Pelo Esporte”, uma candidata
lendária de Salvador, que tirava umas fotos parecendo dançarina do
Tchan. Não tinha: os curitibanos elegeram uma mulher de aspecto comum,
um tipo que poderíamos encontrar na padaria. (E ainda por cima, parda.
Se fosse do PSOL, gritava com todo mundo e dava carteirada, dizendo que
era negra.) Não havia absolutamente nada na figura dela que remetesse a
uma erotização deliberada.
Eu
não imagino um vídeo assim sendo feito há dez anos, ou há cinco anos.
Dilma e Marina foram alvos de um sem número de piadas, mas nunca foram
simplesmente chamadas de prostitutas pelo mero fato de serem mulheres
sob os holofotes da política. Acho que nem Zélia Cardoso de Mello
recebeu tratamento tão misógino.
Por que eles fizeram isso?
Ela
só recebeu esse tratamento porque é de direita. Eu tenho a teoria de
que a esquerda faz tanto sucesso porque funciona como uma espécie de
fiadora moral inesgotável, uma fonte de virtude grátis. Para um
indivíduo se considerar bondoso, basta se dizer de esquerda. Não precisa
fazer nada. Um cristão normal se batiza, mas não vai direto pro céu;
tem que se esforçar para ser bom. O esquerdista, não: basta sinalizar o
pertencimento “lado certo da História”, e é bom.
Uma
vez introduzida nessa moral, a pessoa fica viciada. Com a internet,
agora se dedica a editar a própria vida nas redes sociais, e se exibir
como virtuoso. É uma virtude tão barata, tão débil, que se ganha com a
hashtag do momento, ou com o textão emitindo opinião previsível. Na
verdade, essa virtude não é mais que ostentação de conformismo.
Uma
pessoa dessa, uma conformista que queria se achar boa enquanto era
roubada pela Odebrecht e pelo PT, vê Curitiba como a abominável capital
da Lava Jato. Em Curitiba todo mundo é direitista; logo, mau como um
pica-pau. Todo direitista é mau porque é racista, machista e homofóbico.
Aí Curitiba vai e faz de uma mulher a vereadora mais votada. Não só uma
mulher, como uma mulher de direita. Que tal?
Se
ele não tiver como destruir essa mulher, vai ter que aceitar que é só
um idiota que passa os dias falando abobrinha. Então chama de
prostituta, e ataca-a com essa virulência toda. Precisa atacá-la para
salvar o seu castelinho de ilusão.
Ao
cabo, a esquerda se sente dona das mulheres, dos negros e dos gays, mas
ninguém é dono de ninguém, no Brasil, desde 13 de maio de 1888. Daí
resulta que a esquerda, sim, é machista, racista e homofóbica. “Vai,
mulher, sê de esquerda!”, diz ela, com chicotinho na mão. Eu, não!
O povo não é santarrão
Caso
houvesse nudes vazados, como isso faria de uma mulher uma prostituta?
Prostituição é receber por sexo. Existem mil situações diferentes de
prostituição que podem resultar em nudes vazados: um tarado fotografando
escondido, um computador roubado, um ex-namorado vingativo…
Também
é engraçado que só os progressistas ataquem os candidatos em função de
sua moral privada. A direita já elegeu até ator pornô aposentado!
Bolsonaro se apega à bandeira da família sem que tenha, por isso, de
esconder divórcios pretéritos nem filho fora de casamento. Se há alguém
que faz campanha alardeando casamento de décadas e família de comercial
de margarina, esse alguém é Fernando Haddad!
Valorizar
a família não significa ser um santarrão que policia a vida sexual
pretérita e presente de todos. Primeiro, “família” no Brasil tem um
significado mais lato do que a família nuclear. “Família” são aqueles
parentes que se reúnem nos finais de semana para uma feijoada ou um
churrasco. É, antes de tudo, uma teia social. Comporta agregados,
transmite valores e é solidária. Uma mãe solteira valoriza a família, e o
conservador brasileiro entende muito bem isso: a criança vai ter mãe,
avós, tios e primos velando por ela.
Quando
o povo fala de destruição da família, costuma ter em mente as drogas. O
drogado quebra essa teia, pois pode até matar a mãe por dinheiro. Nosso
povo não é hostil com mães solteiras, nem com mulherengos. As crianças
são acomodadas por essa grande teia social que é a família, e a
bastardia não é tabu entre nós. Se bastardo é xingamento grave na
Itália, no Brasil temos um bastardo como ilustre fundador da primeira
cidade: Tomé de Souza.
O linchamento que não veremos
Pela
mesma razão que a mulher bem sucedida de direita tem que ser
aniquilada, os esquerdistas nunca lincharão o mau humorista: eles
precisam acreditar que o inferno são os outros. Todo esquerdista é bom,
porque esquerdismo é sinônimo de bondade. Se há um esquerdista mau, todo
o castelo se erode.
Não
deixa de ser uma tática miliciana, também. Já que a adesão ao
progressismo implica um seguro contra o Sleeping Giants, recusá-la
torna-se um ato de coragem. De minha parte, acho que a frase mais
misógina que ouvi saiu da boca de Zé de Abreu: “Vagina não transforma
uma mulher em um ser humano”.
Parece
coisa de nazista. Como alguém pode pensar que uma mulher (ou um homem!)
não é um ser humano? Não obstante, não tive notícias de contratos
cancelados, nem de pedido de desculpas. Já Rodrigo Constantino, que se
expressou mal e pediu desculpas, tem que perder todos os empregos, nem
que seja necessário fechar esta Gazeta para isso.
Que
fique tudo às claras, portanto: é achaque, não é humanismo. E é preciso
resistir ao achaque, sob pena de sermos engolidos por ele.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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