Charge do Cazo (carlosaraujoilustrador.blogspot.com)
Reportagem publicada com destaque pelo “O Estado de S.Paulo”, edição de quinta-feira, assinada por Beatriz Bula, Carla Araújo, Igor Gadelha, Júlia Indner, Ricardo Brito e Tânia Monteiro, revela que o PSDB e o DEM ameaçam deixar a base do governo se este apoiar o reajuste dos ministros do Supremo Tribunal Federal, votação marcada para 8 de setembro, no Senado. O projeto já foi aprovado pela Câmara.
Não se entende o confronto, não se compreende a posição dos dois partidos, à luz da lógica. A matéria não coloca em choque qualquer conotação ideológica. Só pode haver uma explicação razoável: o PSDB, principalmente, busca um pretexto para romper com o Planalto, ou então passou a julgar-se um dos donos da administração do país.
A eventual ruptura, inclusive, possui reflexos nas posições do ministro José Serra e da presidente do BNDES, Maria Sílvia Marques, indicações tucanas.
SUCESSÃO – Este é um lado da questão. O outro tem como alvo antecipado a sucessão presidencial de 2018. O PSDB deseja liderar o governo e, ao mesmo tempo, exigir apoio do PMDB para as urnas de daqui a dois anos. A base parlamentar de Michel Temer, assim, está se demonstrando instável, a exemplo do que aconteceu com a quase ex-presidente Dilma Rousseff, neste caso por motivos diversos. Afinal de contas, por qual motivo a legenda de Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves está exercendo uma pressão mais forte do que o fato em discussão. Discussão criada pelos próprios integrantes do partido.
Estranhamente colocam obstáculo no roteiro comum que deveria preocupar em percorrer até outubro de 2018. O fracionamento nada acrescenta nem ao DEM, nem ao PSDB, muito menos ao PMDB.
Michel Temer pertence aos quadros do PMDB. O PSDB e o DEM, com a atitude que assumiram, não estão levando em consideração exemplos históricos de divisão de forças governistas que levaram o poder ao desastre. O presidente João Goulart, por exemplo. Ao assumir formou um ministério integrado por Tancredo Neves, Moreira Sales, Santiago Dantas, Gabriel Passos, Virgílio Távora e Afonso Arinos de Melo Franco, este como embaixador do Brasil junto à ONU. Ulisses Guimarães na pasta da Indústria e Comércio. Como se constata, três representantes da UDN: Gabriel Passos, Virgílio Távora e Afonso Arinos. Isso foi em 1961.
COALIZÃO DESFEITA – Em 1962, ano eleitoral, a equipe se desfez. As divisões começaram a se verificar. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, liderou a campanha demolidora. Uma contradição fortíssima, pois Jango tornou-se ao mesmo tempo alvo de Brizola e de Carlos Lacerda, então governador da Guanabara. Fogo pesado e cruzado. Goulart terminou não resistindo. Desabou. Buscou apoiar-se nos sindicatos. Erro total. Um governo não pode sair do jogo político-partidário. A deposição pela ditadura militar foi a 31 de março de 64. Consequência: um regime ditatorial que se alongou por 21 anos.
Em 1981, maio, período do general João Figueiredo, houve a tragédia da bomba no Riocentro. Não conseguindo punir os verdadeiros culpados, Figueiredo perdeu parte acentuada do poder.
Hoje, é verdade, a situação é diversa. Mas a ansiedade do PSDB, especialmente, pode causar reflexos políticos muito ruins. Afinal, a quem interessa o fracionamento causado pelo reajuste – nem aumento real é – dos ministros do STF? A pergunta destina-se aos tucanos.
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