Joaquim Levy tenta convencer os empresários a investir
Sempre que muda o governante (em nosso caso, “governanta”, como diz a comentarista Teresa Fabrício), sempre surge uma esperança de que as coisas possam melhorar. É uma sensação contagiante, que ocorre até mesmo quando se trata de uma simples reeleição. Na verdade, esse delírio coletivo funciona nos mesmos moldes da chamada síndrome do Ano Novo, quando a maioria das pessoas tenta acreditar que os problemas serão resolvidos só porque o calendário foi renovado.
Nessas ocasiões, sempre lembro a letra que Milton Nascimento colocou na música que Wagner Tiso compôs para tema do documentário “Jango”, de Silvio Tendler. Milton adorou a criação do amigo, realmente uma música lindíssima, e colocou uma letra genial. Nascia assim “Coração de Estudante”, a canção preferida de Tancredo Neves, que acabou se tornando um dos hinos da campanha Diretas Já.
“Quero falar de uma coisa, / adivinha onde ela anda? / Deve estar dentro do peito / ou caminha pelo ar. / Pode estar aqui do lado, / bem mais perto que pensamos, / a folha da juventude / é o nome certo desse amor. / Já podaram seus momentos, / desviaram seu destino, / seu sorriso de menino / quantas vezes se escondeu. / Mas renova-se a esperança, / nova aurora a cada dia, / e há que se cuidar do broto / pra que a vida nos dê flor e fruto. / Coração de estudante, / há que se cuidar da vida, / há que se cuidar do mundo, / tomar conta da amizade, / alegria e muito sonho, / espalhados no caminho, / verdes, plantas e sentimento, / folhas, coração, juventude e fé”.
RENOVA-SE A ESPERANÇA
Neste reinício de governo, mais uma vez renovou-se a esperança, e o sentimento coletivo ficou inteiramente voltado para o ministro da Fazenda. De repente, Joaquim Levy foi transformado em gênio da Economia e da Administração Pública, embora não tenha currículo para tanto.
Seu cargo mais importante foi de Secretário do Tesouro, no início do primeiro governo Lula, quando a economia era conduzida, de fato, por Henrique Meirelles. Depois disso, foi caindo de turma, como se diz na linguagem turfística. Virou secretário de Fazenda do então governador Sérgio Cabral, o que se tornou uma mancha em seu currículo, pois Levy esteve em Paris junto com a “Turma do Guardanapo”. E acabou no quarto escalão do Bradesco, gerindo um simples fundo de investimento. Ganhava muito bem, começou a se vestir impecavelmente, com ternos e camisas sob medida, deu uma geral nos dentes e passou a exibir um sorriso permanente.
Lula e Dilma tentaram desesperadamente um nome de prestígio. Convidaram Meirelles, que disse “não”. Chamaram Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que respondeu “nem pensar”. Ninguém quis aceitar, porque o cargo de ministro é honroso, mas exige que se ature a governanta Dilma Rousseff, algo inimaginável a qualquer economista de sucesso. A função de ministro só interessa a quem esteja querendo engordar o currículo, como é justamente o caso de Joaquim Levy e Nélson Barbosa, que assumiu o Planejamento.
Logo no primeiro mês de trabalho, os dois já tiveram de provar do veneno. Barbosa foi desautorizado e humilhado pela presidenta, que mandou que ele mudasse uma declaração e fez questão de espalhar na mídia que estava “indignada” com ele. Depois foi a vez de Levy e a presidenta/govenanta pegou leve, não deu a bronca publicamente, mas obrigou o ministro a se desdizer. Até quando Barbosa e Levy suportarão esse clima, ninguém sabe.
“ESPÍRITO ANIMAL”
Levy está fazendo o que sabe: aumentar impostos e cortar despesas. Com não tem autorização para reduzir ministérios, diminuir o número de cargos em comissão nem suspender cartões corporativos, fez a governanta Dilma cortar aleatoriamente as verbas de todos os setores, o que demonstra uma colossal falta de visão administrativa e está destruindo a imagem do país no exterior, através da penúria das embaixadas e consulados.
Sônia Lacerda, a amiga que Dilma sustenta
NÃO HÁ ESPERANÇA
O sentimento de esperança renovada pode até existir, mas não há fundamentos na realidade. O governo está desabando. Agora, o ministro Joaquim Levy acaba de convocar o “espírito animal” dos empresários, em palestra a uma seleta plateia de clientes do Bradesco, vejam só a coincidência.
“É preciso resgatar o espírito animal. […] Quando se abre a jaula, poucos animais vão pular para fora sem antes olhar o ambiente. O nosso dever é garantir esse ambiente”, disse o patético ministro, admitindo que, para que os empresários voltem a investir, é preciso que tenham confiança na economia, ou seja, no governo.
O fato é que Levy não sabe como retomar o crescimento econômico. Se é assim, deveria então perguntar ao emérito professor Carlos Lessa, mas o ministro não tem a humildade necessária. Está só engordando o currículo.
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