Os teatros e a história da Amazônia
Período
histórico que ficou conhecido como ciclo da borracha ou Belle Époque
amazônica, a virada entre os séculos XIX e XX testemunhou grandes
transformações na região amazônica, como reformas urbanas, migrações
nordestinas e a alteração de padrões culturais até então vigentes.
Devido à valorização do látex no mercado internacional, a Amazônia se
tornou epicentro da produção global. Pelos rios e igarapés,
trabalhadores riscavam as seringueiras para a extração do látex; as
cidades, especialmente Belém e Manaus, se tornavam entrepostos
comerciais, almejando os valores da modernidade europeia. Os teatros,
assim, são expressão máxima dessas transformações.
Construído
em estilo neoclássico no então largo da Pólvora, hoje praça da
República, o Theatro Nossa Senhora da Paz foi inaugurado em 1878. Das
várias reformas conduzidas, a de 1904 conferiu à edificação um estilo
eclético. Na fachada, repousam quatro bustos que representam a música, a
poesia, a tragédia e a comédia. O pano de boca do palco é alegoria à
República, pintado em Paris pelo cenógrafo Carpezat. Pintado por De
Angelins, o painel do teto representa Apolo e Afrodite. E o teto do
foyer — salão em que o público aguarda o início dos espetáculos — é
decorado com motivos amazônicos.
"A
candidatura pelo reconhecimento da Unesco a esses dois extraordinários
patrimônios arquitetônicos, no coração da Amazônia urbana, tem um valor
mais do que simbólico para o Brasil. Nossa região irá sediar a COP-30,
em 2025, e o turismo receberá um significativo impulso. As duas casas de
espetáculos já são uma referência cultural da Amazônia, dentro do
Brasil”, contextualizou a secretária de Cultura do Pará, Ursula Vidal.
“Com esse reconhecimento, a valorização e a divulgação de nossos amados
teatros e de sua missão no fomento às artes ganharão uma dimensão
planetária, chamando a atenção do mundo e estimulando o desejo de
conhecer a pujança da cultura amazônica, sua história e a beleza de seu
patrimônio", completou ela.
O
Teatro Amazonas, por sua vez, foi inaugurado em 1896, também em estilo
essencialmente eclético com vinculação neoclássica. Localizado no largo
de São Sebastião, centro histórico manauara, a casa de espetáculos foi
construída com projeto arquitetônico do Gabinete Português de Engenharia
e Arquitetura de Lisboa. De longe, o teatro chama atenção pela cúpula
feita em 36 mil peças, importadas da Alsácia, na França, nas cores da
bandeira do Brasil. De autoria do artista brasileiro Crispim do Amaral, o
pano de boca do palco descreve o encontro dos rios Negro e Solimões. No
salão nobre, ganha destaque a pintura do teto feita por Domenico de
Angelis, em 1899, intitulada “A glorificação das Bellas Artes da
Amazônia”.
"O
Teatro Amazonas, com uma história de 127 anos, destaca-se como o
primeiro monumento tombado em Manaus pelo Iphan. É um símbolo do
processo de modernização nacional, impulsionado pelo ciclo da borracha,
refletindo a influência europeia através de um padrão estético eclético
com uma arquitetura que incorpora elementos indígenas e referências da
flora e fauna regional”, diz o secretário de Cultura e Economia Criativa
do Amazonas, Marcos Apolo Muniz. “Essa abordagem única permite que ele
desempenhe um papel fundamental na oferta de acessibilidade cultural a
todos os públicos."
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