Com a CPI da Pandemia, aprovada pelo Senado e com ordem do STF para iniciá-la, quem ganha e quem perde?
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A CPI foi implantada como Bolsonaro quer, investigando também os
prefeitos e governadores. Assim se diluem as investigações – como disse o
presidente, se a CPI fosse apenas sobre o Governo Federal, tudo cairia
em cima dele. Só que o Brasil tem 5.568 municípios. É alvo demais para
investigar. Se a CPI não anda, Bolsonaro e equipe não precisam responder
sobre a inacreditável demora em comprar vacinas. Só que isso vale até o
Centrão achar que deve: depois, fica mais caro.
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A CPI é implantada para valer. Bolsonaro terá de explicar por que não
quis comprar vacinas da Pfizer, da Janssen, da Moderna, e só comprou a
CoronaVac (a “vachina”, a “vacina do Dória”, “aquela vacina comunista
que não transmite segurança”) porque São Paulo iria iniciar a vacinação e
não haveria imunizantes para os demais Estados.
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O presidente corre risco de impeachment e o Centrão é decisivo. Só que o
acordo de Bolsonaro com o Centrão é para a campanha da reeleição.
Impeachment não está no acerto. O Centrão pode apoiá-lo, tem condições
de mantê-lo no poder, é forte o suficiente. Mas isso não é barato.
Quantos Ministérios e outros cargos custará o apoio?
O Centrão ganha. Governo e oposição perdem. Nós pagamos a conta.
Quem pode, pode 1
Bolsonaro
brigou com o Supremo (lembre daquele seu ministro da Indukassão pouco
educado que, em reunião ministerial, num linguajar de estrebaria, disse
que queria prender o STF inteiro?); chamou o senador Randolfe Rodrigues
de “bosta”; acusou o governador Doria de “patife”; disse que em todo o
país governadores e prefeitos roubavam o dinheiro federal.
Quem pode, pode 2
Bolsonaro
teve problemas com as Forças Armadas. Precisou nomear um general que
(horror!) combateu direito a Covid para comandante do Exército. Tem
apoio? Tem: o general Augusto Heleno e sua equipe o apoiam. Já o vice, o
general Mourão, talvez se sinta chateado com as desfeitas que Bolsonaro
lhe fez. Mas o presidente vai depender mesmo do Centrão e de Paulo
Guedes, este para conseguir verbas que mantenham o Centrão bem
alimentado. Uma recordação: Dilma caiu ao romper com o deputado Eduardo
Cunha, à época expoente do Centrão. Quem usa jacarés para tomar conta da
casa precisa ter a certeza de que estão felizes e não passam fome.
E faz quando não pode
Uma
coisa devemos reconhecer: já que a oposição até agora não apareceu na
briga, Bolsonaro ocupou com brilho o espaço desses a quem considera
comunistas: João Doria, Eduardo Leite, Eduardo Paes, Fernando Henrique
e, por que não? aquele comunista que já usou a fantasia de socialista
fabiano, o professor (esses professores são sempre suspeitos) Delfim
Netto. Há dias, falou longamente com o senador goiano Jorge Kajuru,
dando-lhe instruções para melar a CPI e pressionar o STF.
Kajuru
é um front runner, nunca segue os passos da manada. E é coerente:
sempre grava suas conversas telefônicas e as distribui publicamente. Fez
o que sempre faz: divulgou a conversa em que Bolsonaro lhe deu suas
instruções (suficientes para dar base a um pedido de impeachment). E foi
gentil: poupou Bolsonaro de uma parte do besteirol, deixando de
divulgá-lo. Bolsonaro reclamou, e logo suas exigências foram atendidas:
Kajuru divulgou a parte oculta, em que Bolsonaro ameaçava fisicamente o
senador Randolfe Rodrigues, a quem chamou de “bosta”.
A hora do zero à esquerda
O
senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente 000, resolveu ajudar
o pai: anunciou que vai representar contra Kajuru na Comissão de Ética
do Senado. Seria engraçado: Kajuru apenas divulgou a gravação da
conversa, não foi ele que falou besteira. Mas não vai representar, não. A
Comissão de Ética do Senado está fechada há 600 dias. Tudo não passa de
jogo de cena.
Os 600 dias
O
projeto que acaba com os supersalários no serviço público está há 600
dias aguardando que a Câmara dos Deputados vote sua urgência. O tema
parou no dia 20 de agosto de 2012, esquecendo-se qualquer urgência.
O
deputado federal Igor Timo requer que o texto seja pautado. Como diz, o
projeto não é novidade: apenas regulamenta o teto salarial de
servidores públicos estabelecido pela Constituição.
De
acordo com documento enviado pelo Palácio do Planalto à Câmara em
fevereiro, o projeto que elimina os supersalários é prioridade do
Governo para 2021. Estima-se que a economia será de R$ 2,3 bilhões por
ano. Pelo projeto, auxílios, parcelas indenizatórias e outros
penduricalhos passam a ser consideradas verbas sujeitas aos limites de
rendimentos (R$ 39,2 mil por mês). Hoje, mais da metade dos magistrados
ganha mais que o teto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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