Como
CEO da Tuinda Care, tive o privilégio de mediar uma conversa fascinante
e esclarecedora com três renomados especialistas em gestão médica no
Brasil. Rafael Cremonese, Joé Sestello, Fernando Pinto e eu nos reunimos
para discutir os desafios e perspectivas do sistema de saúde no país. O
diálogo, embora diverso em enfoques, revelou uma profunda compreensão
das questões prementes em nosso sistema de saúde e apontou para valiosas
direções para o futuro.
"O
avanço da telemedicina é inegável, trazendo inúmeras vantagens, como o
aumento do acesso à saúde. No entanto, devemos lembrar que, acima de
tudo, precisamos manter o toque humano na prestação de cuidados de
saúde", enfatizou o Dr. Rafael Cremonese, médico intensivista e diretor
geral do Hospital Mãe de Deus.
Cremonese
dirige um hospital referência em atendimento de alta complexidade em
Porto Alegre (RS) e reconhece que embora haja esforços para melhorar a
eficiência no atendimento médico, há espaço para melhorias. Eu concordo
com a visão do Dr. Rafael quando ele destaca a necessidade de envolver
os médicos na discussão sobre a eficiência em saúde. É um desafio
implementar uma linha de valor em saúde sem a participação ativa dos
médicos na discussão.
Joé
Sestello, médico angiologista e diretor presidente da Unimed Nova
Iguaçu (RJ), direcionou nossa atenção para a gestão de custos no sistema
de saúde, salientando: "Em um cenário de recursos limitados, é
fundamental buscar eficiência e otimização desses recursos, sem
comprometer a qualidade dos cuidados".
Para
Sestello, a obesidade e o envelhecimento, por exemplo, são desafios
significativos, com 20,5% de gastos em envelhecimento na carteira da
Unimed Nova Iguaçu, o que levanta uma necessidade de programas
específicos para lidar com essa questão. A falta de formação médica em
gestão e de definição de limites para os poderes da caneta dos médicos
dificultam o bom uso dos recursos que estão disponíveis. Veja por
exemplo as disparidades de custos entre o SUS e a saúde suplementar,
onde em média se gasta R$ 1400 por usuário no SUS e R$ 4000 na saúde
suplementar. Sem um equilíbrio e uma eficiência operacional os custos
aumentarão sem refletir a qualidade no atendimento.
Em
meu diálogo com esses especialistas, fato que chamou muita atenção foi
levantado pelo doutor Fernando Pinto, médico cirurgião de cabeça e
pescoço e presidente da Unimed Natal. Ele realçou a importância da
colaboração entre as instituições de saúde: "A união de esforços e a
partilha de melhores práticas entre os hospitais são fundamentais para
garantir que todos os pacientes recebam cuidados de alta qualidade". A
troca de experiência pode ser espontânea.
Ao
abordar a educação e pesquisa médica, ficou claro que "o investimento
contínuo em educação médica e na promoção da inovação é um investimento
no futuro da nossa saúde", como explicou o Dr. Fernando Pinto. Porém,
ele nos fez um alerta importante sobre a judicialização dessa educação,
ao citar que faculdades de medicina estão sendo abertas por força de
liminar e não por aprovação por parte do Ministério da Educação, que é
quem deveria liderar o assunto. Isso gera uma deformação na quantidade e
qualidade dos profissionais que estarão disponíveis no mercado em
alguns anos.
Uma
das mensagens mais prementes que emergiu de nossa conversa diz respeito
à necessidade de políticas públicas eficazes. A pandemia de COVID-19
expôs vulnerabilidades em nosso sistema de saúde e sublinhou a
importância de aprender com as dificuldades que enfrentamos. Como
resumiu Joé Sestello, "o Brasil deve focar na criação de políticas
públicas que promovam um sistema de saúde mais inclusivo e sustentável. A
saúde é um direito fundamental, e é nosso dever assegurar que todos
tenham acesso a cuidados de qualidade". E eu, como um homem de
tecnologia, reforço que o futuro da medicina pública e suplementar no
Brasil se tornará mais democrático com a inclusão maciça da tecnologia,
especialmente da telessaúde e da integração de sistemas, com reforço na
segurança dos dados dos pacientes.
Em
resumo, nossos especialistas ofereceram uma visão abrangente das
complexidades que cercam a saúde no Brasil. Eles concordam que várias
mudanças são necessárias, desde a formação médica até a regulação, a
aproximação do Judiciário e o envolvimento do Legislativo Federal (com
líderes de bancada para promover mudanças significativas no sistema de
saúde). A colaboração entre instituições, especialmente as
universidades, investimentos em tecnologia e educação, e a manutenção da
qualidade dos cuidados são elementos cruciais para o futuro de nossa
assistência médica.
O
Brasil tem a oportunidade de transformar seus desafios em oportunidades
e construir um sistema de saúde mais resiliente e eficiente, sempre
mantendo o bem-estar da população no centro de suas preocupações.
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