MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Livro registra o trabalho voluntário de profissionais da saúde na Amazônia


“Levante e Lute”, de Caio Machado, editado por Ana Augusta Rocha e com fotos de Cassandra Cury, marca o lançamento de iniciativas culturais e pedagógicas da ONG para 2024 

A ONG Doutores da Amazônia foi criada pelo dentista e ativista Caio Machado em 2015 com um propósito claro: transformar o acesso à saúde indígena na Amazônia. Desde então, mais de 600 voluntários da área de saúde embarcaram em missões para os diferentes cantos da floresta, impactando diretamente o bem-estar, a felicidade e a qualidade de vida dos povos atendidos.  

Essa poderosa história virou um livro, que será lançado no segundo semestre pela editora Auana. Levante e Lute une os esforços de Caio, em depoimento dado à jornalista Ana Augusta Rocha, e da fotógrafa e ativista Cassandra Cury. Ela acompanhou o trabalho dos voluntários ao longo de quatro anos, registrando o cotidiano das missões, a geografia e os modos de vida das populações indígenas e ribeirinhas. 

Crédito: Divulgação, Doutores Amazônia

O impacto do trabalho realizado pelos Doutores da Amazônia, que atuam nos oito Estados que formam a chamada Amazônia Legal, é imenso: nas 32 missões que aconteceram desde 2015, foram feitos 23.738 atendimentos e 54.765 procedimentos odontológicos, além de 38.912 atendimentos e 44.765 procedimentos médicos. Um trabalho inestimável e que, não fossem os voluntários, não seria feito, uma vez que essas populações em situação de vulnerabilidade são frequentemente completamente abandonadas pelo poder público. 

Caio destaca que um dos objetivos do projeto é combater os efeitos da desigualdade, que contribui para que os povos da floresta estejam ainda mais lançados à própria sorte. “Nossa missão é transformar o acesso à saúde indígena brasileira, oferecendo atendimento especializado, sempre respeitando a ancestralidade e os valores das culturas com que entramos em contato”, explica. 

O livro registra, ao longo de 160 páginas, não só a importância fundamental deste tipo de trabalho, mas também como se estabelecem os diálogos entre as diferentes culturas e formas de viver. Um rico e complexo encontro entre os conhecimentos das universidades e os saberes da floresta, conhecimentos milenares transmitidos oralmente através das gerações.  

Iniciativas pedagógicas e culturais

“Foi numa missão junto ao Povo Gavião (RO) que o cacique me perguntou se, ao final dos dias de atendimento, eles poderiam fazer uma apresentação para nossa equipe. Ele tinha dúvidas se isso seria do nosso interesse. Surpreso, eu disse que a apresentação nos honraria muito, ao que ele respondeu: ‘Se vocês gostarem, talvez nossos jovens se animem a aprender corretamente as danças, pois elas estão sendo esquecidas. Assim como também nossa língua e seu aprendizado, que está sendo enfraquecido’”, conta Caio. 

Essa foi a inspiração para que o trabalho dos Doutores da Amazônia começasse, de maneira informal, a promover iniciativas culturais durante suas missões, ainda em 2015. Essa dimensão, em paralelo a um trabalho pedagógico, passa a ser formalmente estruturada em 2024. Ou seja: os Doutores da Amazônia vão oficialmente passar a ter uma atuação cultural e pedagógica, para além de seus já usuais trabalhos de assistência médica e odontológica. Serão três frentes de ação distintas: 

Crédito: Divulgação, Doutores Amazônia

O projeto Criança na Aldeia vai reunir uma equipe formada por profissionais de antropologia, pedagogia, linguística e fotografia/vídeo para registrar os desenhos, músicas e brincadeiras realizados pelas crianças nas oficinas culturais enquanto esperam os pais durante os atendimentos médicos e odontológicos. A ideia é que isso resulte anualmente em um livro e um documentário, que também estarão disponíveis no site dos Doutores da Amazônia. A iniciativa nasceu durante uma ação junto ao povo Waijãpi, no Amapá, no início de 2023.  

Outra ação de periodicidade anual que nasce em 2024 é o Projeto Língua Viva, que consiste em atividades de formação de biblioteca em português e na língua de cada povo. A DRA fará essa ação junto a um povo diferente a cada ano. O projeto busca realizar um inventário de textos já publicados na língua em foco e fomentar o incentivo à leitura e à realização de textos na língua originária. Está prevista também a contratação de linguistas indígenas para a formação de um dicionário-base da língua, ilustrado pelo seu povo, que será publicado e disponibilizado pela ONG. A ideia é formar uma rede de povos e comunidades atendidas pela DRA para trocar informações e fortalecer laços culturais. 

Por fim, o Projeto Cineastas Indígenas busca prover apoio para que os povos e comunidades realizem sua própria documentação de forma autônoma, construindo centros de documentação, estúdios e acervos de imagens. A cada ano a ação ocorrerá junto a um povo diferente, começando com o Povo Kalapalo, que já vem se estruturando para salvaguardar sua memória e cultura. Um dos pilares do projeto é o registro de festividades e memória, documentando as festas e tradições de cada local, divulgando a cultura de cada povo e etnia pelos olhos de jovens cineastas indígenas. Equipes de cineastas serão formadas através de oficinas promovidas com professores de fora da aldeia. Ao final de cada edição, os povos ficarão com um Centro de Documentação próprio e munidos de equipamentos para que o projeto tenha continuidade, além de produzir um documentário. 

O povo Kalapalo

Uma equipe formada por Cristina Carvalho (pedagoga), Veronica Monachini (antropóloga e pedagoga) e pelas autoras do livro Cassandra Cury (fotógrafa) e Ana Augusta Rocha (jornalista e editora) esteve na Escola Estadual Indígena Central Aiha do povo Kalapalo, no Xingu. Entre outras atividades, elas treinaram os indígenas para operar os equipamentos de vídeo, iluminação e áudio. 

Crédito: Divulgação, Doutores Amazônia

O tema deste primeiro encontro foi o encontro do povo Kalapalo com o homem branco durante a expedição Roncador Xingu, que partiu no início dos anos 1940 tendo em suas fileiras os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas. A expedição é um marco tanto no processo de interiorização do Brasil quanto dos rumos das lutas indigenistas, culminando na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961. A aula contou com a participação de indígenas que receberam os irmãos Villas-Bôas à época. 

Mais informações podem ser encontradas no site do projeto. 

Sobre Levante e Lute

Levante e Lute é um projeto cultural inspirado na ONG Doutores da Amazônia, liderada pelo Dr. Caio Machado, que há 15 anos tomou para si a missão de levar saúde de primeira qualidade para os povos mais distantes, povos das florestas – indígenas e ribeirinhos da região Amazônica. Essa história dará origem ao livro “Levante e Lute”, que traz um grande ensaio fotográfico de Cassandra Cury. O livro engloba uma ação educativa entre adolescentes de São Paulo e do Xingu MT e fala sobre o encontro entre as culturas, entre os doutores e os pajés, entre os médicos e os raizeiros, além de mostrar como os povos das florestas - indígenas e ribeirinhos, recebem os cuidados para a saúde e integram esses cuidados vindos de fora, com a sua sabedoria, que vem de séculos e séculos de uso das plantas da floresta e do mundo espiritual. 

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Agosto / 2023


 

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