Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de domingo, 5 de junho:
Há
coisas em que é difícil acreditar, mas que ocorreram: no Brasil, já
houve época em que os candidatos diziam aos eleitores seus planos de
governo. Até cumpriram as promessas: Dutra manteve o país na linha da
Constituição, Getúlio Vargas multiplicou o salário mínimo, Juscelino foi
o responsável por um enorme volume de obras e atração de capitais
externos.
Hoje
as coisas mudaram: o tema é dinheiro. Boa parte do PSDB não quer ter
candidato à Presidência, porque teria de oferecer-lhe verba de campanha;
e só aceita apoiar Simone Tebet, do MDB, se não tiver de gastar nada
com isso. O pessoal quer poupar o custo de disputar a Presidência para
ficar com mais dinheiro para suas campanhas. O União Brasil rifou Sérgio
Moro, que foi para lá pensando em ser candidato à Presidência, e deixou
Luciano Bivar, o famoso “quem?”, como cabeça de chapa. Com isso, Bivar,
presidente do partido, controlará toda a verba de campanha. Bolsonaro
ameaça as eleições se não houver auditoria das urnas (“sem auditoria não
haverá eleição”, disse), mas seu PL está pensando se vale a pena gastar
R$ 1,35 milhão com isso.
A
campanha é milionária: são R$ 5,9 bilhões, mais o Fundo Partidário,
mais o vale-tudo, que vai de showmícios (que são proibidos) até uso de
verba oficial – por exemplo, via orçamento secreto, 20% de todas as
ambulâncias oficiais foram compradas para o Piauí, Estado do ministro
Ciro Nogueira. E até passeata de jegue apoiando candidato sai por conta
do nosso bolso.
Querem mais
A
farra com dinheiro público não acontece apenas em órgãos nacionais ou
regionais: pequenas cidades pobres fizeram contratos tão escandalosos de
espetáculos que alguns chegaram a ser suspensos. O sertanejo Gusttavo
Lima foi contratado por São Luís (de Roraima) para um show por R$ 800
mil, ou quase 2% de todo o orçamento anual da Prefeitura. A coisa chegou
tão longe que há dois projetos para limitar gastos. Em um, do deputado
Célio Studart, do PSD - Ceará, os governos poderão gastar em
espetáculos, no ano, até 1% de seu orçamento. Desta quantia, o máximo a
ser gasto seria 20% por show.
O
vereador Fernando Holiday, do Novo – São Paulo, propõe R$ 70 mil como o
máximo para contratar um artista sem necessidade de licitação.
Palpite do colunista: nenhum dos dois projetos será aprovado como está.
O nosso é deles
O
problema é que a ideia de que o dinheiro público pode ser gasto sem
controle por quem está no poder se espalhou no país. Exemplo? Um voo já
antigo, em que o então governador cearense Cid Gomes levou a esposa e a
sogra, provocou escândalo no país. Hoje, isso ocorre todos os dias e já
passa despercebido. Parentes, parentes de amigos, o cabeleireiro da
esposa, todos já viraram passageiros comuns. De acordo com as normas,
pode viajar quem tiver de participar da tarefa a ser desempenhada pela
autoridade que pediu o avião. As exceções são o pessoal médico e o de
segurança (e, ao que parece, quem mais quiser e for amigo dos
viajantes). Em países mais pobres, como a Alemanha, o marido da então
chanceler Angela Merkel não viajava com ela no avião oficial. Até
poderia ir, mas teria de pagar tarifa cheia de primeira classe. Nos
Estados Unidos, nem sempre é possível acompanhar o presidente usando
voos comerciais. Há lugares para jornalistas no avião presidencial, e a
conta é alta: tarifa cheia de primeira classe, sem exceções.
Como é mesmo?
O
presidente Bolsonaro moveu pesada campanha contra a urna eletrônica
porque, dizia, se o voto não fosse impresso a contagem não seria
auditável. Estranho: se o PL, o partido de Bolsonaro, está discutindo se
deve ou não gastar R$ 1,35 milhão na auditoria, isso significa que é
auditável, sim.
Sinais eleitorais
Alexandre
Kalil, do PSD, em segundo lugar nas pesquisas para o Governo de Minas,
fechou acordo com Lula. O governador Romeu Zema, do Novo, em primeiro
nas pesquisas, conversou longamente com Bolsonaro. Quer seu apoio, mas
teme a alta rejeição do presidente. Pelo menos no primeiro turno, não
haverá aliança: Zema disse que apoia o candidato do Novo ao Planalto, o
cientista político Luís Felipe d’Ávila. No segundo... como diz o próprio
Zema, em política as coisas mudam. Embora não diga, vai de Bolsonaro.
Dallagnol sem multa
O
procurador Deltan Dallagnol, da Operação Lava Jato, ganhou na Justiça
Federal e ficou livre de restituir ao Tesouro algo como R$ 2,8 milhões,
pagos como diárias e viagens a promotores de fora chamados para ajudar
nos processos. De acordo com o Tribunal de Contas da União, houve custos
excessivos, que poderiam ter-se reduzido se fossem planejados com maior
eficiência. Para o juiz-substituto da 6ª Vara Federal de Curitiba,
Augusto César Pansini Gonçalves, a exigência de devolução é ilegal. Diz o
juiz: “Deltan não ordenou despesas nem arquitetou o modelo de pagamento
das diárias e passagens dos colegas”. Deltan disse que foi uma vitória
da Justiça.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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