Celina Moraes*
Aos 6 anos, Itamar cortava cana para ajudar os pais no sustento da casa. Ele sonhava alto. Queria ser piloto de caças. Aos 16 anos, cortava cana de dia e estudava à noite, e sonhava se alistar na Aeronáutica em Recife, mas a poucos dias do alistamento, um imprevisto o impediu e esse sonho se perdeu na imensidão dos canaviais.
Itamar sabia que precisava começar a arar a terra, senão nada colheria e seria apenas UM sonhador estagnado e não O sonhador determinado. Aos 18 anos, comprou duas passagens: uma de ida para São Paulo e outra de volta para o Recife. Desembarcou na capital paulista só com a certeza da passagem de volta. No início, fez bicos como pedreiro, mas os ganhos não pagavam sua sobrevivência. Precisava de um emprego fixo. Batalhou um ano até ver o registro de faxineiro de um prédio residencial na carteira profissional.
Varrendo, seus olhos olhavam para baixo; pensando, sua mente mirava o alto. Ele voltou a estudar. Nessa corrida, quase que o cansaço venceu, mas o sonhador determinado superou os obstáculos e conquistou a medalha do diploma. Mirou outro pódio: a faculdade. No prédio onde trabalhava, morava uma executiva. Um dia, se arriscou a perguntar-lhe se ela o ajudaria se ele se formasse. Admirada, prometeu que sim.
Itamar não passou nos vestibulares públicos, restou-lhe os particulares. Foi aprovado em três instituições e reprovado em todas as condições financeiras. Adiou os estudos e decidiu poupar dinheiro.
Durante três anos, comeu o básico e poupou as sobras, até começar a faculdade. Nessa corrida com obstáculos, Itamar passou quatro anos saltando sobre mensalidades que quase o fizeram cair de cara no fosso d’água. Para não desanimar, lia e relia o provérbio bíblico “o coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”. Carregava apenas a certeza que o Senhor iluminava seus passos.
Formou-se. Enrolado no canudo, veio um carnê de oito mil reais. Itamar procurou a executiva. Ela o indicou para uma empresa e 10 anos depois de chegar a São Paulo só com a passagem de volta para o Recife, Itamar, o corredor incansável do canavial, aterrissou como assistente administrativo numa multinacional.
Na infância subtraída, manuseando arriscados facões afiados, o sonhador de Primavera apoiou-se na Fé inabalável em Deus e na crença de que no alto havia as estrelas, mas era preciso pisar firme na terra sem se vitimizar. No revezamento da vida, quando pegou o bastão, o agarrou com precisão e rapidez, e conquistou medalhas, provando que a insistência na persistência para estudar e a paciência para saber recuar e avançar nas primaveras da vida o fizeram um campeão das corridas da vida e das pistas de corrida.
Joyce Nogueira - Drumond Assessoria de Comunicação
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