MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Bolsonaro e seu vice Mourão já entraram em rota de colisão, é só questão de tempo

 


Iotti: "vicentríloquo" | GZH

Charge do Iotti (Jornal Zero Hora)

Jussara Soares e Emilly Benhke
Estadão

A relação entre Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão vive mais um desgaste. Causa incômodo no presidente o comportamento do vice, que voltou a dar declarações diárias à imprensa, comentando e até contrariando suas palavras. A avaliação no Palácio do Planalto é a de que Mourão está usando o cargo e até o Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por ele, para se projetar na disputa eleitoral de 2022.

A aliados, Bolsonaro já deu sinais de que não pretende manter o general como vice na corrida pela reeleição. Para interlocutores da Presidência, Mourão passou a se posicionar no jogo eleitoral quando percebeu que ficaria fora da chapa. O vice já chegou a admitir, em algumas ocasiões, que pode se candidatar a senador, daqui a dois anos.

CITADO POR MORO – O mal-estar entre os dois aumentou após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro citar o general como uma opção de candidatura de centro nas próximas eleições ao Planalto.

A declaração, feita em entrevista ao jornal O Globo, foi vista por integrantes do governo como uma evidência de que o vice e o ex-ministro continuam se falando.

Mourão disse, por meio de sua assessoria, que isso não tem sentido e que, portanto, não iria se manifestar. Moro também não quis falar sobre o assunto. Os relatos sobre as desconfianças foram feitos ao Estadão por quatro auxiliares do presidente.

DELÍRIO ERA REAL – A tensão nos bastidores do governo ficou explícita na semana seguinte, quando Bolsonaro chamou de “delírio” a existência de um plano, por parte do governo, para criar mecanismos de expropriação de propriedades, no campo e nas cidades, com registros de queimadas e desmatamentos ilegais.

A medida consta de documento do Conselho Nacional da Amazônia Legal, revelado pelo Estadão. “Mais uma mentira do Estadão ou delírio de alguém do Governo. Para mim a propriedade privada é sagrada. O Brasil não é um país socialista/comunista”, escreveu o presidente nas redes sociais.

‘Se alguém levantar isso, eu demito. A não ser que seja indemissível’, diz Bolsonaro

MAIS CRÍTICAS – Horas depois, em conversa com apoiadores, Bolsonaro negou a proposta e disse que “ou é mais uma mentira ou alguém deslumbrado do governo resolveu plantar essa notícia aí.” O presidente não poupou críticas à medida. “A propriedade privada é sagrada. Não existe nenhuma hipótese nesse sentido. E se alguém levantar isso aí, eu simplesmente demito do governo. A não ser que essa pessoa seja indemissível”, afirmou.

Após a bronca pública, Mourão disse que o documento ao qual o Estadão teve acesso era apenas um estudo. “Se eu fosse o presidente, também estaria extremamente irritado porque isso é um estudo, é um trabalho que tem que ser ainda finalizado e só depois poderia ser submetido à decisão dele”, argumentou o vice.

GRAU DE SIGILO – “Eu me penitencio por não ter colocado grau de sigilo nesse documento porque, se eu tivesse colocado grau de sigilo, a pessoa que vazou o documento estaria incorrendo em crime previsto na nossa legislação”.

Ao admitir o vazamento, Mourão afirmou que “alguém mal intencionado pegou e entregou o documento completo para um órgão de imprensa”. Observou, ainda, que ali havia ideias para planejamento estratégico. Antes, no entanto, o vice havia dito que o estudo estava “totalmente fora de contexto”.

NÃO TEM CONVERSA – Em recente declaração à CNN, Bolsonaro desautorizou Mourão afirmando que não conversa com ele sobre Estados Unidos nem sobre qualquer outro assunto. O vice havia dito que “na hora certa” o presidente falaria sobre o resultado das eleições americanas. Bolsonaro ainda não se manifestou sobre a vitória de Joe Biden para a Casa Branca e segue na posição de aguardar o fim das ações judiciais movidas pelo presidente Donald Trump, seu aliado.

“O que ele (Hamilton Mourão) falou sobre os Estados Unidos é opinião dele. Eu nunca conversei com o Mourão sobre assuntos dos Estados Unidos, como não tenho falado sobre qualquer outro assunto com ele”, disse o chefe do Executivo.

EM ROTAS OPOSTAS – Bolsonaro deixou de dar declarações diárias a repórteres diante do Palácio da Alvorada no fim de maio, quando veículos pararam de frequentar o local, que ficou conhecido como “cercadinho do Alvorada”, por falta de segurança. Desde o fim de junho, Mourão, por sua vez, voltou a atender jornalistas diante do gabinete da Vice-Presidência, localizado no prédio anexo do Planalto. O general também intensificou entrevistas e videoconferências.

Embora frequentemente encerre suas declarações dizendo que a palavra final é do presidente, Mourão costuma expor opiniões divergentes de Bolsonaro. O vice, por exemplo, se coloca a favor da tecnologia 5G da chinesa Huawei. Em recente live promovida pelo Itaú, ele voltou a falar em aprofundar a relação com a China na área tecnológica.

OPINIÕES DIVERGENTES – “Vejo com muito bons olhos a oportunidade de aprofundar a cooperação dos outros setores, principalmente na questão de ciência, tecnologia e inovação, onde os chineses estão avançando muito”, afirmou Mourão no mesmo dia em que o governo Bolsonaro aderiu aos princípios de um acordo tecnológico com os Estados Unidos contra o avanço do 5G chinês.

O general também confrontou Bolsonaro ao dizer que o governo brasileiro vai comprar a vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Segundo Mourão, a resistência era movida por uma disputa com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).


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