Esta edição do MWC apontou para o avanço que traz benefícios para todas as camadas sociais
Hermano Pinto (*)
Não
nos resta dúvida de que avançamos várias etapas na escalada da
digitalização em uma velocidade que aumenta geometricamente. Essa é uma
sensação evidente ao visitarmos mais uma edição do Mobile World Congress
(MWC). É impressionante o número de empresas representando tantos
países que encontramos aqui este ano, a oferecendo aplicações sem
reinventar a roda, uma das grandes vantagens dos sistemas abertos,
valendo ressaltar a oferta cada vez mais ampla de soluções “Open RAN”,
uma nova estrutura de rede móvel de padrão aberto.
Embora a
Inteligência Artificial atraia todos os holofotes, o evento demonstrou
toda a tecnologia desenvolvida que está por trás das muitas aplicações e
podemos dizer que hoje atingimos um nível bem superior do que
imaginávamos há muito pouco tempo.
Acredito que nosso permanente
desejo de a tecnologia servir ao bem da população tem sido atendido.
Várias soluções que vimos nesses dias intensos apontam para isso, desde
os projetos de chips e processadores ultrarrápidos, até testes com robôs
que cumprem tarefas difíceis aos seres humanos. Estamos presenciando
várias iniciativas de aplicações, incluindo aí muitas startups, voltadas
à saúde. Por exemplo, soluções voltadas ao monitoramento e cuidados de
idosos ou mesmo atendimento virtual para que pessoas solitárias tenham
com quem conversar ter uma companhia. Essa é uma preocupação mais
voltada às questões pessoais, mais humana.
Visitamos o Centro de
Inovação Urbana, Arquitetônica e Tecnológica da Municipalidade em
parceria com a Cisco – a Ca L’Alier – prédio que é uma herança da
indústria têxtil de Barcelona e hoje é um dos dez centros de inovação
globais da gigante norte-americana. O edifício, erguido por volta de
1870, conta com certificação LEED Platinum, um caso único para uma
construção do século XIX na Espanha.
Atualmente, o espaço
representa uma iniciativa que remete ao futuro, capaz de atrair mão de
obra qualificada por meio de disponibilidade de energia, conectividade
digital e segurança criativa. Lá, a Cisco nos apresentou os seus chips
“Silicon One” de 51TB/s de capacidade de processamento em uso para
projetos de segurança cibernética quântica. Trata-se de um projeto que
já vem sendo trabalhado há anos com a meta de impulsionar a inovação a
velocidades nunca antes vistas. Essa nova família de chips inaugura a
era da arquitetura unificada para eliminar barreiras que limitam a
estruturação de redes corporativas.
Isso tudo pode representar um
discurso muito técnico, mas sem o desenvolvimento de tecnologia como as
que estamos presenciando aqui em Barcelona não poderíamos estar
usufruindo de aplicações que envolvem a Inteligência Artificial ou a
construção de redes para as Cidades Inteligentes. E a conectividade com
base na quinta geração (5G), além da Fixed Wireless Access (FWA), vão
nos dar a possibilidade de vermos a comunicação entre máquinas – a
Internet das Coisas (IoT) – mudarem a rotina da população. São, por
exemplo, soluções de identificação pessoal ou de coisas, segurança nas
ruas com uso de drones, captação de imagens, facilidades para
transporte, realidade aumentada, enfim, a tecnologia permeando todos os
setores da sociedade.
Toda a rede de conectividade para que as
aplicações funcionem não está implantada somente aqui na Terra. A
tecnologia denominada Non Terrestrial Network (NTN) permite a
comunicação direta de dados com nanossatélites que prestam serviços
diretamente em regiões remotas sem a necessidade de ligação com
conectividade terrestre. Dessa forma, agricultura, mineração,
embarcações e outras atividades permanecem conectadas com suas bases.
Uma das empresas que expõe solução desse tipo presta serviço para
empresas agrícolas na Europa e pretende expandir para todo o mundo.
Hoje, possui apenas quatro nanossatélites na órbita terrestre, mas deve
escalar rapidamente e pretende chegar a 100 em três anos.
O
Brasil também é reconhecido como um país que investe em centros de
pesquisa e tecnologia graças às ações de entidades como a Associação
para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) e a Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil),
representadas em um estande que contou com 11 empresas nacionais. E não é
pouco o que essas empresas contribuem ao desenvolvimento nacional, pois
respondem por cerca de US$ 2 bilhões em exportações anuais em software.
Uma das atrações interessantes apresentadas no estande de
Softex e ApexBrasil foi o “Spot”, o cão robô da Petrobras, fabricado
pela Boston Dynamics e testado no Parque Tecnológico Itaipu (PTI) que
opera soluções para operar na rede privativa implantada pela Vivo
Telefônica e Nokia. Aliás, vale comentar que uma parceria entre o PTI, a
Vivo e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
resultou na instalação do Laboratório Vivo de Cidades Inteligentes nas
dependências do PTI. Ali se desenvolvem várias soluções para cidades
inteligentes e sustentáveis.
Volto ao Brasil com a certeza de que
estamos, cada vez mais, no caminho da evolução para uma sociedade mais
inclusiva impulsionada pela digitalização. Esse movimento não tem volta.
(*) Hermano Pinto é diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.
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