sábado, 31 de dezembro de 2022

Este Honda Civic dos anos 90 quer se passar por um Porsche

 

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Não é apenas no Brasil que vemos transformações absurdas nos carros pelas ruas afora. O proprietário deste Honda Civic dos anos 90, que mora lá na Tailândia, sem querer mostra ao mundo como poderia ter sido um hatch da Porsche, lançado na mesma época.

O projeto, que começa com um simples Honda Civic EG, ganhou forma com um bodykit e também novos faróis e lanternas, vindos sabe-se lá de que carro.

É claro que um Audi da época seria uma base inicial melhor para se criar um hatch da Porsche, mas até que as proporções do Civic são muito bonitas e deram até que certo neste caso.

honda civic transformado porsche 2

A dianteira foi transformada completamente e ficou irreconhecível, pois todas as peças foram modificadas de alguma maneira. Os faróis usados deixaram o carrinho realmente com cara de alguma coisa feita pela Porsche.

A lateral mostra que se trata de um Civic, pois ali não tem muito como se retirar a identidade do hatch japonês. E na traseira, vemos uma “tunagem” ao estilo brasileiro, onde praticamente todos os detalhes do carro são retirados e apenas lanternas redondas aparecem sem combinar muito com o restante das linhas.

O modelo, em uma postagem do Instagram, está a venda, mas o valor não é mencionado. Será que é muito caro?

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EUA: Veja os fabricantes de carros com mais recalls em 2022

 

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O departamento de transportes do governo americano divulgou a lista das montadoras com mais recalls feitos em 2022. A empresa que ficou em primeiro lugar, de longe, foi a Ford com nada menos que 67 chamados, e isso ficou claro mesmo este ano com muitas notícias de recalls da empresa nos EUA.

Foi uma média de um recall a cada 5 dias, e no total foram mais de 8,6 milhões de veículos afetados por esses chamados.

É claro que precisamos deixar claro que um recall não é necessariamente uma coisa ruim, já que apesar daqueles veículos terem um problema, que muitas vezes é culpa de uma empresa fornecedora de peças, a montadora está chamando para si a responsabilidade de resolver aquele problema.

Além disso, nem todos os recalls fazem com que as pessoas entrem em pânico, como foi o caso daquele recall dos airbags da Takata. Pode ser que o recall seja para consertar um sensor de estacionamento, por exemplo.

Depois da Ford, em termos de quantidade de veículos chamados, temos a Tesla, com quase 3,8 milhões de veículos afetados. Perto dela vem a General Motors, com cerca de 3,3 milhões de veículos chamados em recalls neste ano de 2022.

Se formos alistar as marcas com um maior número de recalls, não em número de veículos chamados, mas sim na quantidade de recalls, a lista fica assim:

Ford: 67 recalls (8,6 milhões de veículos)
Volkswagen Group: 45 recalls (1 milhão de veículos)
FCA/Stellantis: 38 recalls (3 milhões de veículos)
Mercedes-Benz: 33 recalls (969 mil veículos)
General Motors: 32 recalls (3,3 milhões de veículos)
Kia: 24 recalls (1,4 milhão de veículos)
Hyundai: 22 recalls (1,4 milhão de veículos)
Tesla: 20 recalls (3,7 milhões de veículos)
BMW: 19 recalls (1 milhão de veículos)
Nissan: 15 recalls (1,5 milhão de veículos)

E quais foram as marcas com menos recalls? Bugatti, Maserati, Ferrari, Polestar e Mazda tiveram apenas um recall no ano inteiro de 2022. A Bugatti envolveu apenas um carro, já a Ferrari envolveu mais de 25.000.

Carro chocolate: México legaliza mais de 1 mi de importados

 

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Uma das coisas que não tornam o México um mercado mais promissor para carros novos é a importação de veículos usados, oriundos dos EUA, que praticamente domina o cenário local.

Contudo, mesmo com a importação legalizada afetando grandemente o mercado local, os chamados carros “chocolate” ou “tortos” também são um problema, dada sua importação ilegal para o território mexicano.

Sem registro, boa parte desses carros “sem lenço e sem documento” são usados pelo crime organizado, já que não se sabe quem de fato é o proprietário local e isso ajuda na prática de vários crimes.

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Diante da abundância de carros chocolate e outros tortos, o governo do México decidiu legalizar mais de um milhão de automóveis em situação ilegal no país, buscando coibir seu uso em assaltos, sequestros e assassinatos.

Rosa Icela Rodriguez, secretária de Segurança Pública do México, disse: “A regularização de carros estrangeiros usados ​​está contribuindo para melhorar a segurança pública e dando tranquilidade a mais de 1 milhão de famílias mexicanas”.

Rodriguez continuou: “Ao mesmo tempo, o registro desses veículos tira o incentivo para sua utilização na prática de crimes.”

Segundo o governo mexicano, a maioria dos carros chocolate estão em 14 estados, sendo a maioria fronteiriços com os EUA, tais como Baixa Califórnia, Chihuahua e Tamaulipas, por exemplo.

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O que se sabe é que cidadãos mexicanos de classe média atravessam regularmente a fronteira e compram carros usados em revendedores americanos, atravessando a aduana sem muitos problemas.

O motivo da busca de carros usados nos EUA é que o governo mexicano cobra taxas de importação para usados, que variam de 16% a 26% do valor do carro.

Então, atravessar a fronteira sem pagar essas taxas se torna vantajoso para os compradores ilegais, especialmente se tratando de carros de luxo, SUVs e picapes.

O governo mexicano declarou a anistia entre 19 de março a 28 de dezembro, mas Rodriguez disse que o presidente Andrés Manuel Lopez Obrador autorizou um novo período de registro de 1 de janeiro a 31 de março.

[Fonte: Fox5]

Os 7 carros mais surpreendentes lançados em 2022

 

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Muitos carros foram lançados em 2022, neste sentido o segmento automotivo está andando a todo vapor. Excluindo-se aqueles que foram lançamentos bem sem graça, alguns chamaram a atenção da mídia automotiva.

Dentre estes, 7 podem ser selecionados para uma lista dos modelos mais surpreendentes do ano. Dê uma olhada:

Índice

Toyota Prius

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Este é o único carro comum que entrou na lista. A quinta geração do Toyota Prius chegou com um visual bem interessante, com linhas laterais de um cupê.

Sua dianteira e traseira tem alguns detalhes mais esportivos, saindo completamente do que se imaginaria em um carro tão sem graça quanto um Prius.

E o desempenho não foi deixado de lado, a versão Prime tem 220 cavalos de potência e acelera de 0-100 em apenas 6,6 segundos.

Porsche 911 Dakar

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Com este 911 Dakar, a Porsche mostrou que não está determinada a ser uma líder somente nas pistas, mas também nas dunas de areia. Com um motor de seis cilindros em linha, o 911 Dakar entrega 473 cavalos de potência e 58 kgfm de torque.

Apenas 2.500 unidades serão feitas, todas com uma altura mínima do solo de 19 centímetros.

Mercedes-AMG ONE

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O único Mercedes-AMG ONE talvez seja a maior surpresa automotiva de 2022. O super carro esportivo estava sendo preparado por vários anos, e muitos não acreditavam que um carro de rua com motor de F1 seria possível nesta vida.

Mesmo assim, o pessoal da Mercedes conseguiu, revelando o AMG ONE com quatro motores elétricos e mais de 1.000 cavalos de potência.

Ferrari Purosangue

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A Ferrari finalmente decidiu lançar um SUV com a Purosangue. Como ela sempre faz, não existe nada de muito convencional no modelo.

Seu design é incrível, com portas suicidas na traseira. A Ferrari não chama a Purosangue de SUV, mas ela briga com modelos como Lamborghini Urus e Aston Martin DBX, que são SUVs.

Seu motor é um 6.5 V12 de 715 cavalos de potência.

Koenigsegg CC850

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Para comemorar seu aniversário de 50 anos, Christian von Koenigsegg lançou o Koenigsegg CC850, que também lembra os 20 anos de lançamento do 50th CC8S.

O motor é um 5.0 V8 com dois turbos, produzindo 1.353 cavalos de potência quando abastecido com E85, uma mistura de 85% etanol e 15% gasolina.

Apenas 70 unidades serão feitas, a um preço de 3,65 milhões de dólares, segundo rumores.

Lamborghini Huracan Sterrato

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Logo em apenas um ano, dois super esportivos off-road são lançados. Depois do 911 Dakar, temos o Lamborghini Huracan Sterrato.

Ele é baseado no Huracan, mas tem uma altura maior do solo. O motor é um V10 de 602 cavalos de potência, e apenas 1.499 unidades serão feitas.

Drako Dragon

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Uma pequena fabricante da Califórnia, que muitos não conhecem, revelou este ano o modelo elétrico de luxo Drako Dragon.

Eles afirmam que se trata do SUV mais rápido do mundo, acelerando de 0-100 em apenas 1,9 segundo, atingindo o quarto de milha em 9 segundos e com uma máxima de 320 km/h.

São 2.000 cavalos de potência, com preço de “apenas” 290.000 dólares.

Bugatti apresenta Chiron Profilée, modelo único que será disputado em leilão

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
HOJE EM DIA

Ser rico se tornou algo extremamente chato. Que adianta ter dinheiro se não se pode ter exclusividade? Foi pensando nessas dores e angústias, que a Bugatti desenvolveu o Chiron Profilée, um modelo único que estará no Leilão da RM Sotheby's. O pregão acontecerá no dia 1º de fevereiro de 2023.

O Profilée é uma versão menos truculenta do Chiron Pur Sport. Ou seja, se posicona entre o Chiron "básico" e a versão mais nervosa. O carro nasceu a partir de uma ideia de um protótipo, que a marca resolveu tornar um carro único.

Segundo a marca, essa unidade é completamente diferente de todos os demais exemplares do Chiron já produzidos. Mas não se trata de estética e acabamento. O carro teve elementos aerodinâmicos redesenhados, assim como relações de transmissão encurtadas e demais ajustes que fazem do Profilée mais amigável.

Sob o capô, o supercarro mantém o motor W16 8.0 com quatro turbinas. O propulsor entrega 1.500 cv e permite que o carro acelere de 0 a 100 km/h em 2,3 segundos. A velocidade máxima é de 380 km/h.

 "Levando em consideração os desejos do cliente de explorar uma versão menos radical do Pur Sport, começamos com o design e desenvolvimento do Chiron Profilée no outono de 2020, mas era apenas um protótipo. Sabíamos que o que havíamos criado era bonito demais para ser escondido. É uma peça única na história da Bugatti e um um verdadeiro item de colecionador. E queríamos dar uma chance justa a qualquer devoto da marca Bugatti de adquirir este carro exclusivo, então decidimos fazer parceria com a RM Sotheby's para leiloá-lo", comenta o presidente da Bugatti, Christophe Piochon.

Visualmente, o Chiron Profilée tem elementos exclusivos. A começar pela seção frontal. Ele ganhou novo para-choque, com três imensas grades que ajuda na captação de ar para diferentes componentes. Na lateral, o arco da carroceria continua sendo o elemento predominante, mas o modelo ganhou novas, exclusivas para ele.

Na traseira, o ponto focal é o novo aerofólio. Ao contrário da peça móvel do modelo base, nessa edição há uma asa fixa. As lanternas, ponteiras de escapamento e extratores também foram redesenhados.

Quem não gastou tudo que tinha (e o que não tinha) na Copa do Catar comendo bife de ouro, pode se arriscar a dar um lance no Bugatti solitário.

Zagato apresenta Giulia, cupê de coleção para Alfa Romeo

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
Publicado em 27/12/2022 às 10:22.

Para marcar os 100 anos da Zagato, carrozziere transforma Alfa Romeu Giulia num cupê fascinante (Divulgação)

Para marcar os 100 anos da Zagato, carrozziere transforma Alfa Romeu Giulia num cupê fascinante (Divulgação)

Não se pode negar que uma das fabricantes de automóveis mais carismáticas do mundo é a milanesa Alfa Romeo. Ao mesmo tempo, também não podemos questionar a audácia e criatividade da carrozziere Zagato. E quando as duas se unem, o resultado nunca desaponta.

A encarroçadora italiana acaba de finalizar o Alfa Romeo Giulia SWB Zagato. Trata-se de uma versão especialíssima de um dos nomes mais famosos da Alfa. A Giulia está presente na Alfa Romeo há décadas. Já foi cupê, conversível, hatch e até sedã.

A SWB Zagato foi desenvolvida a partir da atual geração da Giulia. Se o amigo não sabe, trata-se de um sedã sensual, com direito a uma versão fantástica equipada com V6 biturbo de 510 cv. 

O modelo surgiu para celebrar o cenário na Zagato, em 2021. Mas o projeto se estendeu, e a empresa buscou referências em outros modelos como o Tipo G1, de 1921, assim como TZ3 Corsa Zagato e a Alfa Romeo S.Z.

A SWB Zagato foi desenvolvida a partir da atual geração da Giulia. Se o amigo não sabe, trata-se de um sedã sensual, com direito a uma versão fantástica equipada com V6 biturbo de 510 cv

Como o nome diz, essa Giulia utiliza entre-eixos encurtados, daí a sigla SWB, que significa Short Wheelbase. Afinal, a Zagato levou ao pé da letra a essência de um cupê (cortado em francês) ao encolher o sedã e remover as portas traseiras.

O resultado é um carro perturbador, que parece ser uma criatura com vida própria. Os faróis intimidadores, o imenso scudetto (a tradicional grade triangular das Alfas), o capô longo, a traseira curta e bem vertical, como nos cupês dos anos 1950 e 1960. 

Sob o capô, a versão mais furiosa do V6 biturbo 2.9, que equipa a Giulia GTAm. São quase 540 cv e 60 kgfm de torque distribuídos nas rodas traseiras por uma transmissão manual de seis marchas. Combinação que faz desse cupê um supercarro fantástico e purista. 

Por dentro, o visual também é exclusivo. O quadro de instrumentos com as imensas molduras redondas está, lá para garantir que se trata de uma Alfa. Mas o restante do painel é extremamente moderno e elegante, com elementos na cor da carroceria, seguindo a ideia da Giulia original.

Renault Alaskan pode chegar ao Brasil, segundo imprensa argentina, em 2023

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
28/12/2022 às 10:22.
HOJE EM DIA
O ano de 2023 é apontado como o ano das picapes, e até mesmo a eterna promessa da Renault, a Alaskan, pode dar suas caras por aqui (Divulgação)

O ano de 2023 é apontado como o ano das picapes, e até mesmo a eterna promessa da Renault, a Alaskan, pode dar suas caras por aqui (Divulgação)

O mercado de picapes promete pegar fogo em 2023, mas não para a Renault. Enquanto Fiat tomou a Landtrek da Peugeot, GM prepara o início das vendas da Montana e Ford anunciou a chegada da F-150, a marca francesa vive num dilema que já dura quase cinco anos: trazer ou não a Alaskan.

A Renault Alaskan é feita na Argentina, na mesma linha de montagem de onde também sai a Nissan Frontier. Aliás, as duas picapes são quase siamesas, o que muda é o acabamento frontal, grade, emblema, faróis e para-choque. O resto é o mesmo carro.

Ela utiliza o mesmo motor 2.3 turbodiesel de 160 cv e 41 kgfm de torque da japonesa. Assim como a opção de caixa automática e a suspensão traseira independente, que reza-se que foi uma determinação da Mercedes. A Nissan não gosta que toquem nesse tema, mas deveria explorar isso de forma

Ela utiliza o mesmo motor 2.3 turbodiesel de 160 cv e 41 kgfm de torque da japonesa. Assim como a opção de caixa automática e a suspensão traseira independente, que reza-se que foi uma determinação da Mercedes. A Nissan não gosta que toquem nesse tema, mas deveria explorar isso de forma publicitária

Mas a Renault resiste em trazer a picape para o Brasil. Alguns veículos especializados cravam que ela pode chegar em 2023, inclusive a imprensa argentina, que já noticiou a chegada de uma possível versão Outsider. Mas por aqui, a francesa não toca no assunto.

E há uma razão para a Renault não querer importar a picape. A marca não tem nenhuma expressividade no mercado da caçamba. Ela não conseguiu emplacar a Oroch, que foi pioneira no segmento intermediário, e que briga apenas com a Toro. 

Certamente teria muita dificuldade em projetar a Alaskan na seara das médias em que a própria Frontier tem dificuldade em ganhar terreno. É um terreno dominado pela Toyota e General Motors.

E olhando pelo prisma da francesa, a pergunta que se faz é: por que o consumidor iria deixar de comprar uma Frontier para levar uma Alaskan, que é o mesmo carro?

Trazer a picape demandaria investimento em capacitação de rede num segmento que ela não atua. Também demanda gastos com distribuição, peças e tudo mais que envolve a cadeia do setor. Ou seja, a Renault teria que apostar alto, sem garantia de sucesso.

Mas com o aquecimento do mercado e picapes, pode ser uma forma de ela fazer enfim sua estreia. Afinal, a Fiat terá uma média da Peugeot, por que não a Renault entrar na dança?

Classe X, Classe A e outras mancadas da Mercedes

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
HOJE EM DIA
Apesar da crescente demanda por picapes ao redor do mundo, a Mercedes Classe X foi um grande fracasso comercial (Mercedes-Benz)

Apesar da crescente demanda por picapes ao redor do mundo, a Mercedes Classe X foi um grande fracasso comercial (Mercedes-Benz)

Quando se pensa em Mercedes-Benz, duas palavras vêm à mente: sofisticação e durabilidade. A marca da estrela das três pontas inventou o automóvel na forma que conhecemos e aplicou luxo e uma qualidade de engenharia inigualável. Uma fabricante à prova de falhas. Nem tanto. A Mercedes já deu suas escorregadas.

A primeira grande derrapada da marca veio com o Mercedes Classe A, monovolume compacto lançado em meados dos anos 1990. Um carrinho que ficou famoso por não ter conseguido superar o chamado Teste do Alce, uma guinada rápida de direção que simula a entrada repentina de um obstáculo: o alce.

O capotamento forçou a marca a expandir o controle de estabilidade (ESP), que era restrito ao Classe S, para o carrinho e demais modelos, o que ajudou a popularizar a tecnologia. Mas a maior derrapada da marca foi construir a fábrica de Juiz de Fora achando que entupiria o mercado brasileiro de Classe A. 

O mercado via o Classe A como um carro de entrada. Na época, a diretoria da marca deixou bem claro que nunca fez carros populares e não seria naquele momento que ria fazê-lo. E não fez. O Classe A chegou caríssimo e suas vendas foram medíocres, mesmo ele sendo o automóvel mais sofisticado fabricado em solo brasileiro.


Classe R

Outra aposta que não vingou foi a do segmento de monovolumes de luxo. Nos anos 2000 as minivans ainda estavam na moda. O Classe A vendeu muito bem na Europa, o que estimulou a marca a lançar outros dois representantes, o Classe B e o Classe R.

O Classe B não demorou para ser tachado como pior Mercedes já feito, por ser um monovolume e ter tração dianteira. O BMW Active Tourer também recebeu as mesmas pedradas anos mais tarde.

Mas a forçada de barra foi o Classe R. Ela era uma mistura de perua com minivan. Era extremamente caro e chegou a ter uma versão com motor V8 6.2 de 510 cv, o mesmo do sedã C63 AMG. A revista Quatro Rodas chegou a listar o modelo como uns dos carros mais “sem sentido” já feito.

Apesar de ter ficado em linha por dez anos, seu melhor ano de vendas foi em 2006, quando emplacou cerca de 34 mil unidades. Em 2016 foram apenas três carros licenciados.

Classe X

A patacoada monumental da Mercedes foi a Classe X. A marca resolveu que era o momento de entrar no segmento de picapes e decidiu se unir à Nissan para desenvolver um modelo em conjunto. 

A picape era, na verdade, uma versão de grife da Frontier. Ela utilizava carroceria, chassi, motor e até mesmo a suspensão independente no eixo traseiro. Inclusive há uma discussão que afirma que essa suspensão, assim como os freios a discos no segundo eixo, foram exigências dos alemães para fechar a parceria. A Nissan afirma que não.

O problema é que a picape encalhou de forma bisonha. O consumidor não viu vantagem em pagar caro numa picape, principalmente nos Estados Unidos, onde ela é um modelo compacto como a Frontier e a Ranger. Ela vendeu pouco menos de 40 mil unidades e a Mercedes resolveu tirá-la de linha.

Zagato Mostro Barchetta é equipado com motor V8 Maserati de 420 cv e pesa apenas 1,2 tonelada

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
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 (Zagato/Divulgação)

(Zagato/Divulgação)

Existem fábricas de carros e fábricas carros. Isso é fato. E para quem busca algo diferenciado sempre existiram os carrozzieres, que aqui chamamos de encarroçadores. Mas o nome italiano é muito mais charmoso.

E quando se fala em carrozziere, ou coachbuilders, como dizem os britânicos, poucas são tão aclamadas como a centenária Zagato. Ela geralmente é acionada quando se necessita de algo que vá além da criatividade convencional dos times de design.


Ao longo da história, a Zagato atendeu a marcas como Alfa Romeo, Aston Martin, Bentley, BMW, Fiat e até a Ferrari. Mas, de vez em quando, ela resolve fazer um carro para si mesma. E foi o que fez ao criar o Mostro Bachetta. 

Esta é a versão aberta do carro criado para o Concurso de Eleganza de Villa d’Este, apresentado em 2015. Mostro é monstro em italiano. Já Barchetta é como eles chamam os roadsters, que têm estilo que remetem a pequenas lanchas. 


Mas o nome vem de uma referência das pistas. “Decidimos o nome do projeto inspirados na primeira reação de Sir Stirling Moss, que disse: ‘Beautiful like a Monster’ (lindo como um monstro) quando viu o Maserati Coupé pela primeira vez. É o próprio oxímoro que expressa bem a união entre a potência brutal e a filosofia de beleza”, comenta o presidente da Zagato, Andrea Zagato.

O Mostro Barchetta é um roadster clássico, com capô imenso e traseira curta. Sua seção frontal remete aos carros de corrida dos anos 1950 e 1960. É impossível não se lembrar da Ferrari 250 GTO, ou até mesmo a 612 Scaglietti.

A traseira arrebitada, por sua vez, tem um estilo que lembra o Jaguar E-Type. Já as molduras dos santo-antônios individuais deixam o Mostro ainda mais elegante. Ele tem um jeitão de Dodge Viper, mas com o refinamento do design italiano.

Mas esse Zagato não é apenas um carro bonito. Ele tem desempenho de um esportivo nato. Para garantir a performance desejada, a carrozziere instalou um V8 4.2 Maserati. Inclusive o Mostro Barchetta é uma homenagem à parceria das duas empresas há mais de 90 anos. 

O motor entrega saudáveis 420 cv, que combinado com o baixo peso de 1.200 kg garantem uma relação peso/potência abaixo de 3 kg por cavalo-vapor. Tudo isso garante um comportamento indócil ao “monstro”.

Mas uma barchetta não pode apenas acelerar, ela deve ser boa de curva e estável para cruzar as estradas vicinais e costeiras da Europa. Assim, o roadster italiano ganhou suspensão independente com braços triangulares e amortecedores do tipo push rod, como nos carros de corrida. 

Os freios são fornecidos pela AP Racing, com grandes discos e pinças de seis pistões nas rodas dianteiras e quatro pistões na traseira. Completam o conjunto as rodas aro 19 filetadas. Elas são calçadas por pneus Michelin 255/40 (frente) e 295/35 (traseira).

Certamente se Sir Stirling Moss estivesse aqui, repetiria seu comentário. Lindo como um monstro!

Fiat Mefistofele completa 100 anos de construção em 2023

 


Marcelo Jabulas
@mjabulas
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Em forma de charuto, como eram as “batatinhas” nos primórdios do automobilismo, o Fiat “Mefistofele” literalmente voava baixo com o diabo no corpo (Fiat/Divulgação)

Em forma de charuto, como eram as “batatinhas” nos primórdios do automobilismo, o Fiat “Mefistofele” literalmente voava baixo com o diabo no corpo (Fiat/Divulgação)

Quem se liga em automóvel sabe muito bem o que significam aqueles números pregados na tampa do porta-malas: 1.0, 1.6, 2.0. Eles também podem aparecer na lateral como 2500, 4100. São números que informam a capacidade volumétrica do motor.

Ou seja, 1.0 significa que o carro tem motor com 1.000 centímetros cúbicos de deslocamento. É a soma do volume de todas as câmaras de compressão do bloco. 
Hoje todo mundo sabe que os motores estão encolhendo. O antigo 2.0 deu lugar a novos e turbinados propulsores 1.0, 1.3 ou 1.4 turbo. É o chamado downsizing, uma corrida da engenharia para entregar carros mais eficientes.


Mas em 1923, há um século atrás, não existia esse tipo de preocupação. Naquela época a ideia era fazer com que o carro fosse rápido. E foi o que fez o piloto Ernest Eldridge, depois que comprou os restos de um Fiat SB4.

O carro tinha se envolvido num acidente em 1922, após um dos cilindros explodir e destruir o motor, com o piloto John Duff a bordo. Eldridge viu que era possível salvar o carro e fazê-lo ficar ainda mais rápido.


Meses depois, o piloto bateu na porta da Fiat e solicitou um motor A.12, que a marca italiana produzia para sua divisão aeronáutica. Assim, ele instalou um gigantesco propulsor de seis cilindros em linha, com absurdos 21.7 litros de deslocamento.

Isso mesmo, são quase 22 motores 1.0 num único bloco. A potência era de 320 cv, um número fabuloso para a época e necessário para fazer um avião se manter no ar.

O carro ficou pronto em 1923. Colocar o bloco de aviação no Fiat deu um trabalho e tanto. Por ser um carro italiano, sua pintura era em vermelho. Naquela época os carros se diferenciavam por cores de sua nacionalidade. É por isso que a Ferrari é vermelha até hoje.

Em julho de 1924 o Fiat iria fazer sua entrada triunfal em Arpajon, na França. Com um carro tão bruto e assustador, e com pintura vermelha, todos ficaram assustados com o barulho apocalíptico daquele motor.

E o apelido veio quase que de imediato. Mefistofele, uma das alcunhas do Coisa Ruim. O carro cravou velocidade de 230,5 km/h. Algo sobrenatural para os anos 1920. A velocidade máxima que o cramulhão italiano alcançou foi de 234,97 km/h, feito que fez o modelo entrar para história.

Viver bem é enfrentar o mundo como ele é

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

Autor de livros de livros de sucesso para o leitor "comum", o britânico Kieran Setiya explica como a filosofia pode ajudar a lidar com as dificuldades da vida, tais como dores, luto e solidão. Entrevista a Carlos Graieb, da Crusoé:


Todo mundo sabe que a vida é dura. Em 2022, o filósofo britânico Kieran Setiya decidiu fazer algo a respeito e escreveu um dos livros do ano para as revistas The Economist e The New Yorker. Life is Hard (A Vida é Dura) parte de problemas concretos como a dor crônica que aflige o autor, a solidão experimentada por muitos durante a pandemia e o fracasso pessoal em suas muitas manifestações e utiliza variadas ferramentas filosóficas para descobrir como lidar com eles da melhor maneira. O livro tem parentesco com as obras de autoajuda, mas não reduz nada àquelas proverbiais “sete regras” ou “cinco passos”.

Esta não é a primeira incursão de Setiya na “filosofia prática”. Ele desenvolveu o método que aplica em Life Is Hard em 2017, quando enfrentou uma típica crise de meia idade e, sendo filósofo, procurou uma saída filosófica para os seus dilemas. Midlife (Meia Idade) tornou-se um best seller e abriu novas perspectivas para o autor, que ensina no departamento de filosofia do Massachussets Institute of Technology (MIT), uma das mais renomadas universidades americanas, além de manter um blog e um podcast populares.

Nesta entrevista a Crusoé, Setiya explica por que não se pode confundir uma boa vida com a felicidade.

Se a questão é enfrentar as dores do dia a dia, o que a filosofia pode oferecer que vai além da autoajuda?

A autoajuda, de maneira geral, se preocupa com a felicidade individual, com o “sentir-se bem”. Os grandes filósofos morais se interessam pelo significado da boa vida. Fugir da realidade pode ser um caminho para ser feliz. Mas você não dirá que alguém que ficou sempre mergulhado em mentiras e fantasias teve uma boa vida. Há coisas que talvez precisem mesmo ser dolorosas, como o luto pela perda de uma pessoa amada ou a percepção das injustiças sociais. Viver bem significa enfrentar o mundo como ele é. Dito isso, creio que alguns autores de autoajuda fazem reflexões bem filosóficas. Oliver Burkeman, por exemplo, autor de Quatro Mil Semanas: Gestão de Tempo para Mortais (Objetiva). Na superfície esse é um livro sobre gerenciamento de tempo, mas acho que no fundo ele trata da nossa finitude, de como lidar com o fato que somos mortais.

O senhor menciona pouco a religião em seu livro, embora grandes filósofos tenham explorado o assunto com profundidade. Por quê?

Parte da resposta é banal. Como não sou religioso, minha tendência natural nunca foi recorrer aos remédios da religião diante das dificuldades da vida. Mas, se reflito sobre o assunto, acabo achando que as consolações da religião são fáceis demais. Não quero ser desdenhoso nem zombeteiro. Respeito e compreendo quem abraça a religião. Mas não funciona para mim. Tenho no livro um capítulo em que dedico umas tantas páginas a essa questão. O filósofo americano William James disse que a religião oferece ao crente uma “resposta total sobre a vida”. Ela nos diz como devemos nos sentir a respeito de nossa própria existência, do universo, de tudo. No livro, argumento que a razão, em vez dessas grandes narrativas religiosas que herdamos, também pode orientar nossa “resposta total sobre a vida”. E não vejo problema em que o trabalho a realizar, nesse caso, seja um tanto mais árduo.

Além da religião, a medicina também disputa espaço com a filosofia quando se trata de lidar com as dores da vida. Por que não frequentar a farmácia em vez de pelejar com os livros complicados dos filósofos?

Não vejo como um caso de “ou isto, ou aquilo”. Já fiquei deprimido e os remédios me ajudaram. Você pode tomar antidepressivos e ser um filósofo ao mesmo tempo. Aliás, muitos de nós fazem isso. Remédios podem ajudar a não ficar paralisado, a não cair no desespero ou mesmo se autodestruir. Há remédios que ajudam você a se sentir feliz, quase como acontece no romance Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, em que o governo distribui uma droga chamada “soma” aos cidadãos. Voltando ao que eu disse antes, contudo, remédios não trazem respostas sobre o que é uma boa vida. Isso não consta de nenhuma bula.

Das escolas filosóficas da Antiguidade, a estoica é a única que conseguiu se popularizar nos dias de hoje. Por que há tantos best sellers sobre o estoicismo em circulação?

Na maioria das formulações contemporâneas, o estoicismo é uma doutrina que oferece uma resposta para todos os problemas. Essa resposta é que você deve buscar uma atitude de distanciamento em relação àquilo que não pode controlar. Às vezes vezes esse é um bom conselho. Às vezes, não. Se você responde à morte de um parente dizendo simplesmente que, bem, todas as pessoas são mortais, creio que está fazendo muito menos, talvez até mesmo o contrário do que o luto requer de você. A outra causa da atratividade do estoicismo, e isso eu acho muito interessante, é o fato de ele estar ligado a exercícios práticos. Ele propõe exercícios espirituais, meditações, e mostra que internalizar uma visão filosófica tem muito a ver com isso. Esse tipo de atividade preenche a lacuna que existe entre pensar e sentir. Preencher essa lacuna é um sério desafio para filósofos como eu, que tentam dialogar com um público mais amplo. Ainda não descobri como emular essa característica das filosofias antigas.

O senhor ensina filosofia em uma das grandes universidades americanas. O que o levou a escrever livros para os leigos e não apenas os textos acadêmicos que fazem uma carreira avançar?

Não foi algo que eu planejei. Acontece que alguns anos atrás experimentei uma típica crise de meia idade, durante a qual passei a duvidar do valor das conquistas profissionais pelas quais eu havia me esforçado tremendamente. Era aquilo mesmo que eu queria fazer da minha vida? De repente, percebi que essa era uma questão legitimamente filosófica e me pareceu que eu poderia continuar trabalhando na minha disciplina, mas de um jeito diferente, abordando essa questão vital. Quando eu percebi que esse trabalho estava me ajudando de verdade, senti vontade de compartilhá-lo. Quando escrevi o livro sobre a meia idade, não tinha o plano de fazer outro na mesma linha. Mas eu gostei da maneira como você se relaciona com as pessoas quando escreve para não filósofos. Este novo livro me levou a escrever sobre questões ainda mais pessoais, como a minha dor crônica nas costas. No livro, eu digo que devemos resistir à tentação de pensar em nossas vidas como se fossem uma narrativa cuidadosamente estruturada. Foi assim mesmo que aconteceu no caso desses dois livros. Eu fiz o que parecia adequado fazer naquele momento.

Por que o senhor, em vez de aderir a uma escola filosófica, tem uma abordagem eclética?

Nenhuma escola ou filósofo acerta em tudo. Aliás, parte de qualquer filosofia é criticar outras formas de pensar. Nas universidades, isso pode assumir inclusive algumas formas bem cortantes. Em segundo lugar, se você, como eu, deseja mostrar a filosofia como algo vivo, não é um bom começo acatar a sabedoria de um guru de 200 ou 2.000 anos. Você mesmo precisa lidar com as questões espinhosas. A vida é dura de várias maneiras. O único meio de enfrentar essas dificuldades é abordá-las uma por vez, com os recursos que estiverem ao seu dispor. Acompanhe aqueles que o persuadirem de verdade, caso contrário, sinta-se livre para divergir. Daí o meu ecletismo.

Se tivesse de escolher uma das escolas filosóficas da Antiguidade para seguir, qual seria?

A escola que mais me atrai é a menos doutrinária: o cinismo. Sinto afinidade e admiração por seu maior expoente, Diógenes de Sínope. Ele era uma espécie de artista performático. Quando Platão definiu o ser humano como um bípede sem plumas, Diógenes apareceu na frente da academia onde Platão ensinava carregando uma galinha depenada. “Eis o homem de Platão”, ele disse. Diógenes vivia nas ruas, sem roupas, e essa era sua resposta à proposição socrática que devemos escolher a virtude no lugar da riqueza, Eu gosto da ideia de que a filosofia é um modo de vida, e não só reflexão distanciada. A propósito, a palavra “cinismo” mudou profundamente de sentido ao longo dos séculos. O cínico de hoje em dia é alguém que sabe o preço de tudo e não reconhece o valor de nada, para citar a frase de Oscar Wilde. Ele sempre age com um distanciamento sarcástico. Os cínicos da Antiguidade receberam esse nome porque os gregos diziam que eles vivam como os cães. Cão, em grego, é cyno. O desapego deles era diferente do desprezo dos cínicos de hoje. Diógenes criticava a sociedade em que vivia e mostrava que era possível viver de outras formas. Ele também disse que o mais importante na vida é a esperança.

O senhor escreve sobre o sofrimento causado pela solidão, mas eu gostaria de lhe perguntar sobre outra coisa que também pode tornar nossa vida infeliz: o confronto permanente de visões políticas, que abala amizades e até famílias. Como tolerar os outros quando eles são o inferno?

Acho que a resposta, nesse caso, está em apontar aquilo que a filosofia não faz bem. Pessoas cerebrais tendem a superestimar o poder da persuasão. Diante de uma divergência, filósofos tendem a reagir com mais diálogo ainda. Tudo bem, mas não devemos ser muito otimistas com essa abordagem. Na política, em vez de conquistar as mentes para fazer mudanças, o melhor caminho pode ser o da ação. Lidere, realize coisas, transforme o mundo e deixe que isso convença os seus adversários. Avanços políticos dependem de pragmatismo, de uma dose de realpolitik, e não de buscar sem descanso um consenso que, realisticamente, não pode ser alcançado.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche disse que toda grande filosofia é uma espécie de autobiografia. O senhor concorda? Se isso for verdade, por que devemos nos ocupar das obras de um neurastênico, como o próprio Nietzsche, ou de um autoritário, como era Platão?

Eu tendo a concordar que a filosofia, especialmente a filosofia moral, tem elementos de autobiografia, talvez seja moldada até mesmo pelo temperamento do autor. Essa é uma das razões para nunca tratar um filósofo como um guru ou autoridade infalível, e sim como o proponente de uma visão do mundo que você precisa avaliar por si mesmo. Algumas visões de mundo, mesmo que personalíssimas, trazem revelações surpreendentes sobre a realidade.

O senhor menciona com frequência a inglesa Iris Murdoch, que começou a publicar como filósofa, mas se tornou muito mais conhecida como romancista. O que a obra filosófica de Murdoch tem a oferecer?

O Reino Unido viu surgir uma geração extraordinária de filósofas nos anos em torno da Segunda Guerra. Iris Murdoch, Elizabeth Anscombe, Philippa Foot, eram todas amigas que conviviam em Oxford. Elas despontaram em um momento em que o sexismo estrutural das universidades estava em suspenso, porque os homens haviam sido convocados para lutar na guerra. Não sei se devemos dizer que elas tiveram sorte. Iris, em particular, foi revolucionária. Depois, sua fama como romancista eclipsou sua obra filosófica. Ela vem sendo redescoberta nos últimos 20 anos por filósofos analíticos como eu. O que ela tinha de mais peculiar era não apreciar em argumentações puramente abstratas. Sua filosofia é descritiva. Ela mostra aos seus estudantes que o esforço para descrever com precisão uma realidade já é, por si só, uma espécie de trabalho filosófico. Quando você chega a uma descrição adequada, percebe que já avançou bastante na solução do problema inicial. Para entender do que estou falando, pense na maneira como todos nós conversamos com nossos amigos ou parentes quando estamos diante de situações difíceis. Meus pais estão sendo autoritários comigo ou apenas um pouco invasivos, porque se preocupam com meu bem estar? Não dizemos “deixe eu lhe apresentar alguns argumentos sobre isso”, mas narramos episódios e descrevemos comportamentos. Esse método descritivo é o que tenho procurado usar em meus livros. Boa parte do trabalho é pôr em evidência o significado da solidão ou da dor física em nossas por meio do relato de situações concretas. As teorias filosóficas vêm depois, juntamente como a deliberação sobre como podemos reagir aos nossos problemas. Tudo isso é inspirado em Murdoch. Quem quiser conhecê-la, deve ler a sua obra-prima, The Sovereignty of Good (A Soberania do Bem). Ele é um pouco datado no começo, é fácil se aborrecer com as 20 primeiras páginas, mas se você perseverar verá que é um dos poucos livros filosóficos que você pode ler para obter tanto apoio intelectual quanto apoio emocional.
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O que podemos aprender com as derrotas da vida

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI


Muitas vezes não sabemos lidar com o sofrimento, com as derrotas da vida, com nossos próprios erros. E com isso deixamos de aprender. Fernando Schüler para a Veja:


O ano vai terminando, tem o novo governo, a melancolia do pessoal que perdeu, tem o verão abrindo seus braços. E muita coisa para pensar nesses dias em que cada um faz o seu balanço. Então resolvi fazer uma pergunta à simpática moça do café, no bar da faculdade: sobre o que eu deveria escrever na minha primeira crônica do ano? Ela não pensou muito: “Sobre a felicidade, professor, não tem coisa mais importante”. A resposta me pareceu evidente. Não que o debate político não seja importante. Mas, o.k., talvez seja uma boa hora para dar um tempo. Topei.

Há muitas teorias sobre a felicidade. Angus Deaton e Daniel Kahneman trabalharam com uma montanha de dados e chegaram a uma interessante conclusão: a partir de um ganho anual de 75 000 dólares, na média, não há acréscimos significativos da felicidade, entendida como “bem-estar subjetivo”. Tentei traduzir em termos brasileiros. Significa o seguinte: você ganha mal, mas vai progredindo. Cresce na empresa ou abre um negócio, e vai subindo. Em tese, sua felicidade vai aumentando. Algum conforto, viagens, condições de dar uma boa vida à família. Quando chega a 25 000 ou 30 000, a coisa estabiliza. Você não começa a entristecer, não se preocupe. Só não há um ganho de felicidade apenas pelo fato de você continuar engordando a sua conta bancária todos os meses.

Há muitas explicações para isso. Uma delas é dada por Steven Pinker e se chama “esteira hedônica”. As pessoas tendem a se adaptar ao progresso. E as pessoas comparam. De modo que alguém pode melhorar de vida, mas se os demais melhoram um pouco mais isso pode, ao menos em tese, reduzir seu grau de contentamento. Pinker provoca dizendo que seria a maior piada chegarmos à conclusão de que o “grande enriquecimento”, de que fala Deirdre McCloskey, que multiplicou a renda e mais do que duplicou a expectativa de vida no último século, não acrescentou nada muito verificável à felicidade humana. Na verdade, acrescentou. O ponto é que o ganho material faz apenas uma parte do serviço. Ele nos leva do térreo a um andar intermediário, como sugeriram Kahneman e Deaton, mas a vida é como um daqueles edifícios gigantes de Camboriú. Para chegar aos andares mais altos, é preciso trocar o segredo. Substituir a busca da felicidade pela produção do sentido. Trocar a obsessão do bem-estar pela aventura da realização humana. E aí as coisas se complicam um pouco.

Quem formulou isso bem foi Contardo Calligaris. Lembro de um texto dele dizendo: a questão não é tanto ser feliz, mas viver uma vida interessante. Uma vida que envolva risco e incerteza. E algum sofrimento. E infinitas trocas entre a satisfação, no curto prazo, e a realização de coisas maiores logo ali à frente. Jordan Peterson foi na mesma batida. Ele busca a imagem do yin e yang, do tao chinês. Vê ali a tensão entre o caos e a ordem. O caos como “aquelas coisas que não conhecemos nem entendemos”; a ordem como “os trens que partem na hora, o lugar em que o comportamento do mundo se iguala às nossas expectativas”. Ambos podendo ser ótimos, mas também desesperadores. Nossa melhor alternativa, diz, é percorrer o caminho estreito entre esses dois universos. Uma tarefa nada trivial. Diria a “grande tarefa” que não pode ser delegada e que só pode ser feita por tentativa e erro. Algo que ele recomenda que as pessoas façam “de cabeça erguida, com as costas eretas e os ombros para trás”. Seu ponto me pareceu o mesmo do Contardo. A felicidade não tem fórmula e possivelmente seja o alvo errado. O desafio é o significado. O tipo de “caráter”, diz Jordan, que forjamos diante do sofrimento. E, para isso, algumas grandes histórias do passado podem nos ajudar.

Todos temos nossas histórias preferidas. Escolhi duas. Uma delas fala sobre o caos: é a história de Oscar Wilde. Ele era o grande dramaturgo irlandês e a celebridade mais vistosa do mundo cultural londrino naquele fim de século XIX. Em um dado momento, foi condenado por sua relação com Bosie, o jovem aristocrata, numa época em que a homossexualidade era crime. Terminou na prisão de Reading, posto para empurrar a roda de um moinho, como um animal. Ele vai ao fundo do inferno, e em um momento ele ensaia uma virada. Ela vem na forma de uma longa e dolorida carta a Bosie: o De Profundis. Ele não acreditava na justiça de sua condenação, e tinha a consciência do absurdo que vivia. Era esse o sentimento insuportável. Se vivemos vidas absurdas, malogramos no único ponto em que não poderíamos malograr: a incapacidade de viver uma vida que faça sentido. Foi aí que Wilde decidiu domar o caos. Reconheceu a própria perda de controle, sua relação doentia com Bosie, a vergonha de Constance, sua arrogância no tribunal, a perda dos filhos. Tudo isso parecia oferecer um estranho sentido a sua punição. Ele aceita, então, o seu destino, e de algum modo reconhece que mesmo a prisão de Reading era uma decorrência da vida que ele próprio decidiu viver. E que agora, em meio ao abandono e ao sofrimento, lhe abria novas possibilidades. A partir daí ele é o herói de Jordan Peterson e pode, reconciliado consigo mesmo, seguir em frente.

A segunda história diz respeito à ordem. E sobre como ela pode nos esmagar. Seu herói é Nietzsche, que havia lido Montaigne logo após o Festival de Bayreuth, em 1876, andava com a saúde abalada, cansado da vida universitária, na Basileia, e recebe o convite sedutor de Malwida von Meysenbug para passar o inverno em Sorrento, na costa do Mediterrâneo. O convite era para formar uma pequena comunidade filosófica, que ele vê como a chance de “tirar umas férias da própria vida”. Ele topa. Troca uma posição razoavelmente estável, que envolvia uma posição, na instituição, pela vida incerta do pensador errante. A partir daí, ele também é o herói de Jordan Peterson. Aquele que decide “barganhar com o tempo”. Isto é, trocar a segurança de hoje pela incerteza e sua “potência”. Nietzsche, de certo modo, ganhou sua aposta. Foi o seu próprio profeta Zaratustra, que viria muitos anos depois, e aceitou o risco de caminhar em uma “corda estendida sobre um abismo”. Com isso se tornou Nietzsche. Em seu primeiro entardecer em Nápoles, diz lhe ter escapado uma lágrima “por ter começado a vida sendo velho”, e porque soube salvar a si mesmo, “no último instante”.

Wilde e Nietzsche não são modelos para nada. Hoje eles são heróis de nossa cultura, mas no momento dessas histórias estavam na pior. Nietzsche doente, exaurido da vida acadêmica; Wilde no quinto dos infernos. Talvez por isso suas histórias nos dizem algumas coisas. Dizem que muitas vezes não sabemos lidar com o sofrimento, com as derrotas da vida, com nossos próprios erros. E com isso deixamos de aprender. E que em outros momentos simplesmente afundamos lentamente pelo medo de arriscar um pouco na corda bamba. No fundo é disso que é feito o herói de Jordan Peterson. O herói democrático, que qualquer um pode encarnar. Aquele que não transfere. Que simplesmente assume o risco da decisão e aceita suas consequências. Que anda nesse território incerto que é a vida com as “costas eretas e os ombros para trás”. O melhor jeito, não tenho dúvidas, que temos para encarar este 2023 novinho em folha que temos pela frente.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper
Publicado em VEJA de 4 de janeiro de 2023, edição nº 2822
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Da mania natureba à maia do "é tudo terapia"

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

Até lavar louça já virou terapia. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:


Certa feita, resolvi fazer um teste com uma senhora que me aborrecia. O motivo do aborrecimento era ela olhar dicas de saúde e beleza num site natureba e pontificar sobre as coisas que dão câncer. Esse conhecimento era aprimorado pelas amigas. Assim, fui informada de que beber água quente dá câncer e beber água gelada também. Eu é que não vou discutir. Em vez disso, resolvi entrar no jogo e dizer que coisas aleatórias davam câncer. Comecei pela mais modesta, o cigarro na mão dela. Ela concordou e eu segui distribuindo pílulas de conhecimento. Meus comentários de “dá câncer” só geraram protesto quando eu falei que vinho dá câncer.

Foi uma falha elementar, essa. Pois dia sim, dia também, produz-se algum texto ou vídeo sobre os benefícios do vinho à saúde. Algum médico é ouvido e diz que deve-se tomar uma quantia X (sempre modesta) todos os dias, porque faz bem à saúde. O vídeo ou texto é mostrado por uma pessoa à outra, que comenta algo como: “Mas só uma taça”. E vai espalhando pelas redes.

Antes das redes sociais, já era assim com o jornalismo tradicional. Às vezes jornalistas e cientistas ficavam obcecados com alguma comida em particular, tais como a margarina e o ovo. A margarina foi tão amada quanto o vinho, mas caiu em desgraça depois de a gordura trans entrar em cena. Margarina é uma pasta de gordura vegetal, coisa dependente de tecnologia e bem propensa a ter gordura trans. (Depois de aparecer a gordura trans, os governos fizeram regulamentações para reduzir sua quantidade nas margarinas.)

É uma pena que não tenham se ocupado em fazer retratações quanto à pasta de gordura animal que difamaram, a manteiga. Quanto ao ovo, caiu no anonimato. Depois de não conseguirem se decidir se é panaceia ou veneno, deixaram-no para lá.

Causa real da preocupação natureba

Recentemente surgiu a ideia de “produção de conteúdo”. Há tempos existiam blogues e sites, mas eram coisa da diminuta parcela que costumava usar a internet para lazer e informação. A situação mudou com a difusão das redes sociais, quando os blogues e sites passaram a dividir o espaço com jornais tradicionais e disputar leitores. Isso foi impulsionado pelo smartphone na palma das mãos.

Há coisas previsíveis na “produção de conteúdo”. Nos sites naturebas, aprendemos que limão e alho têm propriedades mágicas. Mil dicas prometem deixar você alcalino, embora nenhuma recomende comer pilhas Duracell.

Não é o caso de crer que os smartphones tornaram as pessoas interessadas em naturebices místicas. A verdade é que esses sites, páginas e similares só se tornaram coqueluche porque supriam um interesse do público. E tanto no anárquico mundo online, como no jornalismo tradicional, não é difícil descobrir a causa da coqueluche: preocupação com o peso e doenças associadas à obesidade. Tive muita ocasião de observar que gente do povo come pão integral firme na crença de que esse não engorda, porque é “saudável”. O mesmo se dá com madames às voltas com a balança, que já vi trocarem sal normal por sal rosa “do Himalaia”, que é “saudável”. Se você tiver a chance de crer que basta acrescentar um ingrediente com propriedades mágicas à sua alimentação, irá agarrá-la com todas as forças. Não precisará repensar seu estilo de vida, nem lidar com compulsões ou paladar infantil. Comer coisas “saudáveis”, então, ganha um ar de mandinga ou promessa religiosa: você faz penitência comprando coisas caras e/ou comendo coisas que não são gostosas à espera de alcançar as graças do emagrecimento e da saúde.

Mas o que eu queria registrar é que, por mais despirocados que sejam os remédios, eles apontam para um problema real: mais da metade dos brasileiros estão acima do peso. Nosso povo está gordo, e não será de admirar se a nossa expectativa de vida seguir a tendência dos EUA e começar a cair.

Tudo agora “é terapia”

Atinei que, se eu quisesse, daria para repetir o jogo do “dá câncer”, trocando por “é terapia”. Em vez de dizer que coisas aleatórias dão câncer (água, carne, ovo, cigarro, vinho…), basta trocar por atividades úteis executadas por vontade espontânea. Cozinhar é terapia. Caminhar é terapia. Bordar é terapia. Cuidar das plantas é terapia. Até faxina é terapia!! Com maior ou menor grau de empenho científico, prova-se que qualquer atividade quotidiana ordinária “é terapia”.

Dois apontamentos a serem tirados daí. 1) Tal como a coqueluche natureba, a coqueluche da terapia reflete um problema real, que é o da difusão de doenças mentais como ansiedade e depressão. 2) Essas atividades ordinárias, agora consideradas “terapia”, são extraordinárias para muita gente. Afinal, é possível viver sem cozinhar (comprando comida pronta ou comendo besteira o dia inteiro), sem caminhar (andando de carro ou transporte público) e sem faxinar (pagando uma faxineira). As pessoas deixam de fazer atividades e economizam tempo. Agora, a pergunta de 1 milhão de dólares: o que elas fazem com o tempo economizado?

Se perguntados, a resposta será: "me mato de trabalhar!" Mas, ainda que os workaholics existam, há motivos para receber a resposta com ceticismo. Por exemplo: das muitas atividades ordinárias das quais se diz que “é terapia”, olhar o Instagram não é uma delas. Na verdade, é justo o contrário. Há uma montanha de estudos tratando de efeitos negativos do uso de redes sociais sobre a saúde mental, em geral das mulheres jovens.

Então eu creio que as pessoas parem de fazer atividades que, bem ou mal, levem a um grau de introspecção (não dá para cozinhar distraído) e passem o dia inteiro recebendo e buscando estímulos visuais e sociais, coisas nas quais os sites de pornografia e as redes sociais são pródigas. Daí o povo endoida, e qualquer interrupção nesse ritmo doido é interpretado como “terapia”, já que faz bem.

Diferenças dos sexos?

Naturalmente, boa parte desse cenário que descrevi se refere às fêmeas da espécie. (Especifiquemos enquanto ainda não é proibido dizer que a espécie humana tem macho e fêmea.) No entanto, vale notar que as fêmeas se diferenciam dos machos por falar mais sobre problemas pessoais.

Homens e mulheres ficam deprimidos, mas as mulheres falam muito mais de depressão. O fato de as mulheres reclamarem mais não altera o fato de que os homens se suicidam mais. Do mesmo jeito, as mulheres falam mais de peso, mas o sobrepeso e a obesidade são um problema unissex. Quanto ao abuso das redes sociais, as pesquisas costumam focar nas adolescentes – mas não é difícil imaginar que os meninos tenham problemas análogos com estímulos visuais. Basta supor, por exemplo, que as meninas fiquem idealizando a vida alheia em coisas como o Instagram, onde todos são bonitos e felizes, enquanto que os meninos arranjem um monte de problemas ligados ao âmbito sexual por causa da overdose de pornografia oferecida por sites gratuitos e inesgotáveis como o Pornhub.

Ninguém nega que a conexão proporcionada pelas redes sociais é algo sem precedentes. É preciso notar que, embora a pornografia seja velhíssima, esse modelo viciante de pornografia é algo sem precedentes, de modo que a preocupação com ele não pode ser tachada de puritana.

Qualquer problema ligado à liberação sexual que não possa ser assimilado pelo feminismo é cercado de tabus progressistas. Felizmente, porém, a ciência já estuda os da efeitos negativos do vício em pornografia sobre a saúde mental masculina, em vez de focar somente na saúde mental das mulheres filmadas.

Raiz do problema?

Voltemos às “terapias”. O que mais me chamou a atenção nesse jargão é que ele apaga a ideia de passatempo, distração ou hobby. Eu digo coisas como: “Eu gosto de cozinhar”, “Eu gosto de caminhar” e “Eu gosto de cuidar das plantas”. No jargão atual, o correto seria eu dizer: “Cozinhar é uma terapia para mim”; “Ai, miga, caminhar é terapia!” e “Mana, cuidar das plantas faz bem à saúde mental”.

A diferença entre o que eu digo e o que o jargão diz é que a razão primária para eu cozinhar, caminhar e cuidar das plantas não é a minha “saúde mental”, mas sim, respectivamente, a comida, a locomoção e a as ervas. Todas essas atividades demandam de mim um grau de introspecção que não me permite ficar olhando para o Instagram, que eu nem tenho. (Já escrever, como qualquer trabalho feito no computador, me permite dar umas olhadelas no Twitter e em aplicativos de mensagem. Na verdade, até demanda.)

Mas todas essas atividades que exigem uma introspecção maior podem se transformar em lazer com uma certa facilidade: posso pensar em aprimorar as receitas; posso escolher a padaria em função da beleza do trajeto até ela; posso cuidar de plantas curiosas das quais não tenho a menor necessidade. A transformação em lazer está aí, no desnecessário.

Me pergunto se, quando uma mulher conclui que tal coisa é terapia, ela consegue continuar extraindo prazer daí. Porque se for terapia, é necessário; e se algo é percebido como necessário, aí não há lazer. Deixe um homem fazer um caminho bonito espontaneamente, e ele poderá criar uma rotina por se acostumar a sentir esse prazer. Se a rotina for quebrada, ele sentirá falta. Mas diga a esse homem que ele está obrigado a fazer esse caminho sempre do mesmo jeito até o fim dos seus dias, e com certeza sua capacidade de sentir prazer com isso será afetada.

A vida dessas pessoas ansiosas seria mais simples se elas se acostumassem ao conceito de lazer e arranjassem hobbies que demandam introspecção.
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