BLOG ORLANDO TAMBOSI
Após décadas de constantes campanhas de culpabilização do homem branco, muitos ingleses, escoceses, galeses abrem os cordões às bolsas para comprar indulgências por pecados que não cometeram. João Pedro Marques para o Observador:
O
Reino Unido é, na Europa, o país onde o wokismo é mais visível, mais
contundente e absurdo nos seus exageros. O que nesta área lá se passa é,
por um lado, excepcional, pelo peso desmesurado que os woke lá têm,
mas, por outro lado, é um farol ou um aviso do que, ainda que de forma
mais atenuada e protelada no tempo, poderá vir a passar-se noutros
países da Europa Ocidental.
Vem
este preâmbulo a propósito do seguinte: há mais de 20 anos que
activistas woke, tanto a título individual como associados em
organizações — nomeadamente a Caricom, que agrupa 15 países das Caraíbas
—, pressionam o governo de Londres para que peça oficialmente desculpa
pelo envolvimento britânico na escravatura e para que pague reparações
por esse facto. Londres continua a não dar ouvidos a esse tipo de
pressões. Inquirido no Parlamento, o primeiro-ministro britânico, Rishi
Sunak recusou frontalmente o pedido de desculpas e, evidentemente, as eventuais reparações.
Mas
enquanto o governo britânico resiste muito compreensível e
adequadamente à pressão e à chantagem moral que os acólitos do wokismo
exercem sobre o país, há várias entidades e cidadãos(ãs) britânicos(as) a
pôr a corda ao pescoço, a vestir o hábito de penitente e a ceder
jubilosamente a essa pressão e chantagem. Em Fevereiro de 2023, uma conhecida pivô e jornalista da BBC,
tornou público que iria doar 100 mil libras para projectos comunitários
na ilha de Granada como forma de reparação pela ligação de remotos
familiares seus à escravatura e a plantações de cana-de-açúcar na ilha. E
fez mais: abandonou a BBC para dedicar o seu tempo a campanhas públicas
em favor de reparações pela escravatura. No seguimento da sua decisão,
mais de 100 famílias britânicas com antepassados envolvidos no sistema
escravista comprometeram-se publicamente
a disponibilizar importantes quantias como forma de se purgarem desse
pecado e de ajudarem as antigas colónias britânicas nas Caraíbas.
Acresce que a Igreja Anglicana criou um fundo de 100 milhões de libras para ajudar esses países e que, no início de Novembro, a Lloyd’s de Londres, a maior seguradora do mundo,
veio assumir publicamente que iria despender 52 milhões de libras em
programas de apoio como forma de reparações pela ligação que, no
passado, a companhia teve com o tráfico transatlântico de escravos e a
escravidão.
É
verdade que tudo isto frustra um pouco as intenções dos activistas
woke, visto não ser exactamente aquilo que exigiam. Na verdade,
preferiam ter sido eles a decidir os montantes das reparações e queriam,
em vez de programas de apoio social ou educativo, dinheiro vivo pago
directamente aos descendentes de escravos ou a quem os representasse,
como algumas cidades norte-americanas fizeram ou irão fazer. Preferiam,
além disso, ter chegado a um acordo global com o governo britânico em
vez de serem polvilhados por estas medidas parcelares de particulares.
Porém, se tudo isso é verdade, por outro lado esta disponibilidade de
muita gente no Reino Unido para pagar compensações por situações
ocorridas há dois, três ou quatro séculos, abre-lhes um manancial de
inesperadas oportunidades.
Não
surpreende por isso que os activistas woke queiram agora assumidamente
contornar o Estado britânico que, ano após ano, resiste às suas
pressões, para irem literalmente bater a outra porta, isto é, pressionar
directamente famílias e organizações privadas — bancos, colégios,
universidades, seguradoras, firmas comerciais ou industriais, etc. — que
tiveram uma qualquer forma de envolvimento e de ganho material com a
escravatura. E vão começar pelo topo, exigindo reparações à família real
britânica. Como diz um dos advogados
encarregados de defender os interesses dos woke da ilha de Granada, nas
Caraíbas, “ele (Carlos III) deve disponibilizar algum dinheiro. Não
dizemos que deva privar-se, e à sua família, de comida, mas também não
estamos a pedir ninharias. Acreditamos que podemos sentar-nos à roda de
uma mesa e conversar sobre formas de reparação justas.”
Em
conformidade, o rei receberá, até ao fim deste mês de Dezembro, um
pedido oficial para iniciar conversações. O mesmo acontecerá a outras
pessoas e entidades. Os woke acreditam que, por essa via, ultrapassando o
governo pela berma da estrada e podendo formalizar acordos
indemnizatórios com várias individualidades e instituições britânicas,
acabarão por condicionar o próprio governo a ceder e a fazer, também
ele, um acordo. Ou seja, no que desde já se anuncia como um ano farto,
preparam-se para colher o que semearam. Após décadas de constantes
campanhas de culpabilização do homem branco e de doses massivas de
acusações despejadas para dentro da sociedade britânica, viram tudo isso
frutificar nas cabeças de muitos ingleses, escoceses, galeses, que
agora se flagelam, agitam bandeiras brancas e abrem os cordões às bolsas
para comprar indulgências por pecados que não cometeram. Com tão fraca
gente, com tanto precedente aberto, é evidente que o governo britânico
vai perder força política e será provavelmente apanhado por trás pela
quebra da sua retaguarda.
Esta
nova estratégia woke deve pôr-nos de sobreaviso. Portugal é muito
diferente do Reino Unido, bem sei. O nosso governo não está, para já,
sujeito a uma pressão similar nem temos por cá, felizmente, um número
perigoso de fanáticos do wokismo. Mas não é absolutamente garantido que
fique assim para sempre. O que se vê na casa dos outros deve fazer-nos
redobrar esforços para contrariar este veneno ideológico. Como o exemplo
britânico mostra, esse é um combate que se vence — ou se perde — no
campo da opinião pública. E para o vencer é necessária uma narrativa
que, ao contrário da narrativa woke, seja historicamente informada e
equilibrada, estruturalmente verdadeira e pelo menos tão convincente
como ela.
Será esse o tema do meu próximo artigo.
Postado há 3 days ago por Orlando Tambosi
Após décadas de constantes campanhas de culpabilização do homem branco, muitos ingleses, escoceses, galeses abrem os cordões às bolsas para comprar indulgências por pecados que não cometeram. João Pedro Marques para o Observador:
Pela porta dos fundos
Após décadas de constantes campanhas de culpabilização do homem branco, muitos ingleses, escoceses, galeses abrem os cordões às bolsas para comprar indulgências por pecados que não cometeram. João Pedro Marques para o Observador:
O
Reino Unido é, na Europa, o país onde o wokismo é mais visível, mais
contundente e absurdo nos seus exageros. O que nesta área lá se passa é,
por um lado, excepcional, pelo peso desmesurado que os woke lá têm,
mas, por outro lado, é um farol ou um aviso do que, ainda que de forma
mais atenuada e protelada no tempo, poderá vir a passar-se noutros
países da Europa Ocidental.
Vem
este preâmbulo a propósito do seguinte: há mais de 20 anos que
activistas woke, tanto a título individual como associados em
organizações — nomeadamente a Caricom, que agrupa 15 países das Caraíbas
—, pressionam o governo de Londres para que peça oficialmente desculpa
pelo envolvimento britânico na escravatura e para que pague reparações
por esse facto. Londres continua a não dar ouvidos a esse tipo de
pressões. Inquirido no Parlamento, o primeiro-ministro britânico, Rishi
Sunak recusou frontalmente o pedido de desculpas e, evidentemente, as eventuais reparações.
Mas
enquanto o governo britânico resiste muito compreensível e
adequadamente à pressão e à chantagem moral que os acólitos do wokismo
exercem sobre o país, há várias entidades e cidadãos(ãs) britânicos(as) a
pôr a corda ao pescoço, a vestir o hábito de penitente e a ceder
jubilosamente a essa pressão e chantagem. Em Fevereiro de 2023, uma conhecida pivô e jornalista da BBC,
tornou público que iria doar 100 mil libras para projectos comunitários
na ilha de Granada como forma de reparação pela ligação de remotos
familiares seus à escravatura e a plantações de cana-de-açúcar na ilha. E
fez mais: abandonou a BBC para dedicar o seu tempo a campanhas públicas
em favor de reparações pela escravatura. No seguimento da sua decisão,
mais de 100 famílias britânicas com antepassados envolvidos no sistema
escravista comprometeram-se publicamente
a disponibilizar importantes quantias como forma de se purgarem desse
pecado e de ajudarem as antigas colónias britânicas nas Caraíbas.
Acresce que a Igreja Anglicana criou um fundo de 100 milhões de libras para ajudar esses países e que, no início de Novembro, a Lloyd’s de Londres, a maior seguradora do mundo,
veio assumir publicamente que iria despender 52 milhões de libras em
programas de apoio como forma de reparações pela ligação que, no
passado, a companhia teve com o tráfico transatlântico de escravos e a
escravidão.
É
verdade que tudo isto frustra um pouco as intenções dos activistas
woke, visto não ser exactamente aquilo que exigiam. Na verdade,
preferiam ter sido eles a decidir os montantes das reparações e queriam,
em vez de programas de apoio social ou educativo, dinheiro vivo pago
directamente aos descendentes de escravos ou a quem os representasse,
como algumas cidades norte-americanas fizeram ou irão fazer. Preferiam,
além disso, ter chegado a um acordo global com o governo britânico em
vez de serem polvilhados por estas medidas parcelares de particulares.
Porém, se tudo isso é verdade, por outro lado esta disponibilidade de
muita gente no Reino Unido para pagar compensações por situações
ocorridas há dois, três ou quatro séculos, abre-lhes um manancial de
inesperadas oportunidades.
Não
surpreende por isso que os activistas woke queiram agora assumidamente
contornar o Estado britânico que, ano após ano, resiste às suas
pressões, para irem literalmente bater a outra porta, isto é, pressionar
directamente famílias e organizações privadas — bancos, colégios,
universidades, seguradoras, firmas comerciais ou industriais, etc. — que
tiveram uma qualquer forma de envolvimento e de ganho material com a
escravatura. E vão começar pelo topo, exigindo reparações à família real
britânica. Como diz um dos advogados
encarregados de defender os interesses dos woke da ilha de Granada, nas
Caraíbas, “ele (Carlos III) deve disponibilizar algum dinheiro. Não
dizemos que deva privar-se, e à sua família, de comida, mas também não
estamos a pedir ninharias. Acreditamos que podemos sentar-nos à roda de
uma mesa e conversar sobre formas de reparação justas.”
Em
conformidade, o rei receberá, até ao fim deste mês de Dezembro, um
pedido oficial para iniciar conversações. O mesmo acontecerá a outras
pessoas e entidades. Os woke acreditam que, por essa via, ultrapassando o
governo pela berma da estrada e podendo formalizar acordos
indemnizatórios com várias individualidades e instituições britânicas,
acabarão por condicionar o próprio governo a ceder e a fazer, também
ele, um acordo. Ou seja, no que desde já se anuncia como um ano farto,
preparam-se para colher o que semearam. Após décadas de constantes
campanhas de culpabilização do homem branco e de doses massivas de
acusações despejadas para dentro da sociedade britânica, viram tudo isso
frutificar nas cabeças de muitos ingleses, escoceses, galeses, que
agora se flagelam, agitam bandeiras brancas e abrem os cordões às bolsas
para comprar indulgências por pecados que não cometeram. Com tão fraca
gente, com tanto precedente aberto, é evidente que o governo britânico
vai perder força política e será provavelmente apanhado por trás pela
quebra da sua retaguarda.
Esta
nova estratégia woke deve pôr-nos de sobreaviso. Portugal é muito
diferente do Reino Unido, bem sei. O nosso governo não está, para já,
sujeito a uma pressão similar nem temos por cá, felizmente, um número
perigoso de fanáticos do wokismo. Mas não é absolutamente garantido que
fique assim para sempre. O que se vê na casa dos outros deve fazer-nos
redobrar esforços para contrariar este veneno ideológico. Como o exemplo
britânico mostra, esse é um combate que se vence — ou se perde — no
campo da opinião pública. E para o vencer é necessária uma narrativa
que, ao contrário da narrativa woke, seja historicamente informada e
equilibrada, estruturalmente verdadeira e pelo menos tão convincente
como ela.
Será esse o tema do meu próximo artigo.
Postado há 3 days ago por Orlando Tambosi
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