domingo, 23 de outubro de 2022

Estudo identifica perfis de brasileiros sob o ponto de vista de como se comunicam e dialogam

 



Ufanismo versus complexo de vira-lata - Blog do Ari Cunha

Charge do Nani (nanihumor.com)

Merval Pereira
O Globo

É inescapável constatar pelas pesquisas de opinião, e pelo debate político nas redes sociais, que o país está dividido, e qualquer candidato que vença a eleição terá problemas para governar. O ex-presidente Lula continua numericamente à frente de Bolsonaro depois do primeiro turno, mas a diferença está se estreitando.

O Congresso eleito, no entanto, é mais conservador, e talvez mais reacionário, do que o eleito em 2018, o que faz prever que Lula vencendo, encontrará uma forte barreira ideológica que limitará suas ações.

ORÇAMENTO SECRETO – As possibilidades de barganha com o Congresso estarão bloqueadas pelo controle do orçamento secreto, que não será apenas do Centrão, mas do grupo ideológico que apoia Bolsonaro.

O ex-presidente terá problemas para acabar com ele, mas poderá ter o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), o que, por outro lado, provocará a reação da maioria governista, uma novidade no Senado, órgão responsável pelo impeachment de ministros do STF.

O controle do Poder Judiciário deverá ser o objetivo maior de um governo Bolsonaro renovado, um golpe parlamentar semelhante ao que já aconteceu em países de esquerda como a Venezuela. Paradoxalmente, esse receio de um golpe esquerdista é a bandeira maior da candidatura Bolsonaro. Como não se cansa de defender o golpe militar de 1964, é fácil entender que Bolsonaro não é contra ditaduras, desde que sejam de extrema-direita.

TEMPOS TURBULENTOS – Vencendo Bolsonaro, terá praticamente metade do país na oposição, o que prenuncia tempos turbulentos pela frente. A frente ampla da sociedade civil está se delineando no apoio a Lula, em defesa dos princípios democráticos que vêm sendo afrontados explicitamente pelo atual presidente.

As surpresas permanentes com a força popular do bolsonarismo, reveladas no resultado das urnas de 2 de outubro e nas pesquisas eleitorais no segundo turno, mostram que o país está dividido porque a sociedade vive em bolhas que não se conhecem porque não se comunicam.

O estudo “Brasil de Bolhas” da Koga, nova unidade de estudos comportamentais e estratégia da agência Dojo de São Paulo, é fruto de uma pesquisa quantitativa e qualitativa com 2 mil pessoas que indicou cinco perfis da população sob o ponto de vista de como se comunicam e dialogam: contestadores (11,5%), isentos (43,1%), impositivos (4,5%), rígidos (13,3%) e idealistas (27,7%).

PERFIL CONTESTADOR –  De acordo com o estudo, 43,7% dos contestadores são os menos influenciados pelos familiares, e possuem uma baixa religiosidade (13,1% se consideram ateus/agnósticos/teístas – segunda maior taxa do estudo); acreditam na cultura como ferramenta de inserção social e no movimento de ocupar espaços públicos para furar bolhas e conectar diferentes perspectivas; são muito ativos nas redes sociais.

Os isentos não gostam, e evitam, a qualquer custo, se envolver em discussões polêmicas, independentemente do ambiente. Quando o fazem, geralmente é em família, por se sentirem mais confortáveis e seguros.

Os isentos ainda são mais evangélicos do que a média, sendo influenciados por conceitos religiosos em assuntos de ordem moral e política; são os menos ativos nas redes sociais.

OUTRO PERFIL – Os impositivos buscam combater grupos opostos e, mesmo sendo o menor perfil, se destacam nas discussões, sendo os mais viscerais de todos.

Este perfil também é o segundo mais influenciado pela família em relação ao seu posicionamento, e leva os conceitos da religião para discussões políticas; um público que se conecta culturalmente com aqueles que compartilham a mesma visão política, e usa seus critérios morais para apoiar ou boicotar qualquer ato cultural e ações sociais, fazem campanhas contra causas em que não acreditam e usam o WhatsApp e o Telegram para se informar e dialogar.

Para eles, a religião, a família e a tradição são questões fundamentais (48,5% são evangélicos/protestantes), que ocupam um lugar central em todos os âmbitos de sua vida, incluindo a cultura.

COM MAIS DIÁLOGO – Os de perfil rígido costumam ter mais contato com diferentes perfis de pessoas, o que traz uma noção maior da importância da inclusão e diversidade como solução para furar bolhas.

Nas redes sociais, procuram fazer campanha sobre as causas nas quais acreditam; possuem maior vínculo de diálogo com seus amigos, sendo mais influenciados por estes do que pela família em assuntos sociopolíticos; têm a menor taxa de religiosidade (19,2% – maior número – de ateus/agnósticos/teístas); são mais ativos nas redes sociais do que a média, mas as utilizam menos na hora de se informar.

Os idealistas são mais abertos, reflexivos e ponderados. Têm contato com perfis diferentes, fazem campanha nas redes sociais, são mais influenciados por amigos, são menos religiosos, são mais ativos nas redes sociais. Em qual dos perfis você se encaixa?

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