Moro no centro do ringue: o temor dos três Poderes.
Manipulam
informações, usam de manobras jurídicas antiéticas, quando não ilegais,
procuram desmoralizar Moro e os que o defendem. Merval Pereira para O Globo:
O
ex-juiz Sergio Moro não consegue chegar a dois dígitos nas pesquisas
eleitorais para presidente da República, mas provoca reações raivosas em
seus adversários. É “canalha”, segundo Lula; “ladrão e desonesto”, para
Ciro Gomes, e “traidor”, para Bolsonaro. Mobiliza altas rodas do
Judiciário, e centenas de advogados criminalistas reunidos na guilda
autointitulada “Prerrogativas”, que querem vê-lo destruído moralmente e,
se possível, atrás das mesmas grades em que colocou o ex-presidente
Lula.
Tentaram
de tudo. A ponto de um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU),
Bruno Dantas, ter pedido uma investigação sobre os ganhos auferidos por
Moro no ano em que trabalhou na consultoria internacional Alvarez &
Marsal. Um processo totalmente irregular, que teve um procurador do
Ministério Público escolhido a dedo, com objeto alheio à competência do
TCU, pois tratava-se de uma relação privada entre o ex-juiz e a
consultoria, sem envolver dinheiro público.
O
caso terminou melancolicamente para Dantas, surpreendido pelo pedido,
do próprio procurador que escolhera, para arquivar o processo, por falta
de objeto. Dantas é muito ligado ao ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Gilmar Mendes e ao senador Renan Calheiros, dois dos mais
ferrenhos adversários de Moro.
Mais
ridículo ainda, também uma CPI foi arquitetada pelo PT para investigar a
mesma coisa, uma suposta mirabolante conexão entre as empreiteiras que
foram atingidas pela Operação Lava-Jato e os contratos fechados por elas
com a Alvarez & Marsal na recuperação judicial. Moro, ao “quebrar”
as empreiteiras brasileiras, teria aumentado os lucros da consultoria
internacional, e estaria sendo recompensado agora com um contrato
fajuto, que seria apenas “propina” pelos favores do ex-juiz. A coisa era
tão rocambolesca, e tão claramente vingativa, que não foi adiante.
Ninguém quer lembrar que as empreiteiras quebraram porque envolveram-se
em esquemas de licitações fraudulentos, confessados amplamente.
Fazem
com Moro o que o acusam de ter feito contra Lula. Manipulam
informações, usam de manobras jurídicas antiéticas, quando não ilegais,
procuram desmoralizar Moro e os que o defendem. O advogado de Lula,
Cristiano Zanin, quer fazer crer que ele foi, sim, inocentado pela
Justiça, com uma interpretação jurídica distorcida: “A Constituição
considera todos inocentes, a menos que haja condenação transitada em
julgado”. Como se os processos não tivessem existido, e nem as
confirmações das condenações pelo TRF-4 e pelo Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
Só
é considerado inocente pela Justiça o réu absolvido por falta de
provas, ou porque ficou provado que o crime não aconteceu, ou que ele
não foi o autor do crime. No caso de Lula, seus processos foram
transferidos de jurisdição porque o Supremo considerou que a Vara de
Curitiba não era competente, e um deles foi anulado por Moro ter sido
considerado um juiz parcial.
Em
decorrência, vários deles estão sendo arquivados, por prescrição, o que
significa que não há mais tempo hábil para o Estado processar o réu.
Por que um sujeito que é “insignificante e não tem futuro na política”,
como disse recentemente Lula, torna-se o centro da campanha
presidencial, foco dos ataques dos candidatos mais bem colocados?
Talvez
por verem nele um potencial de votos que ainda não se revelou nas
pesquisas de opinião. E talvez nem se revele, diante de uma
possibilidade concreta de os eleitores terem que votar contra alguém,
para impedir o outro de ganhar. Provavelmente, durante a campanha,
quando começarem os programas eleitorais no rádio e televisão, e os
debates entre os candidatos, os temas mais prejudiciais a Lula, como os
casos de corrupção acontecidos em seu governo, e a assombração da
esquerda manipulada eleitoralmente, possam estancar sua arrancada rumo à
Presidência. Moro terá também que enfrentar a acusação de que perseguiu
Lula com intenções políticas.
Lula
já ensaia não comparecer aos debates, criticando o formato em que são
feitos. Bolsonaro também não é muito chegado a um debate, prefere falar
sozinho. Moro, por sua vez, tem dificuldades para fechar acordos
políticos, muito por suas qualidades, mas também por inexperiência no
jogo eleitoral. Até abril, prazo fatal para definições partidárias sobre
as candidaturas, o quadro ficará mais claro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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