Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, dia 2 de junho:
A
direita se aglomerou em motos e carros para louvar Bolsonaro, a
esquerda se aglomerou a pé para vaiar Bolsonaro, o novo coronavírus foi
às duas manifestações. O centro, provavelmente majoritário, mas ainda
sem ter candidato, ficou em casa – preocupado com a perspectiva de ter
de escolher entre o inimigo das vacinas e o amigo e financiador das
ditaduras. A direita arriscou a vida em aglomerações para retribuir a
uma merreca: a isenção do pedágio das motos em rodovias federais. A
esquerda arriscou a vida em aglomerações para mostrar que as ruas não
pertencem aos bolsonaristas, que mobiliza gente e que também tem votos
(o que as pesquisas já mostravam). Direita e esquerda contribuíram para
ampliar a desgraça da Covid 19.
Vi
bons amigos felizes com o sucesso das aglomerações (e vi um inimigo
mais feliz ainda, o coronavírus). Mas poucos perceberam que cada uma das
manifestações trazia seu próprio equívoco, e contribuíram para que
ambos os lados acreditassem em sua própria propaganda. Bolsonaro e seus
pazuellos de estimação parecem acreditar que carros e motos votam,
quando apenas ocupam espaço. A esquerda, vestida de vermelho, mostrou
claramente que não consegue atrair ninguém que saiba que Dilma não é
Angela Merkel. Em 2018, quem queria tirar o PT do poder votou em
Bolsonaro; quem queria evitar aquele a quem Geisel chamou de “mau
militar” votou no PT. Em 2022 pode ser diferente.
General que luta a guerra passada perde a guerra atual.
Maioria silenciosa
Donald
Trump foi atropelado por dois fatos imprevisíveis: manifestações dos
Black Lives Matter que se espalharam pelo país e a pandemia. Mesmo
assim, teve a maior votação já dada a um candidato presidencial
americano. O que o derrotou foi o trabalho dos democratas para levar às
urnas a maioria silenciosa. Boa parte dos trompistas era militante; boa
parte dos adversários não tinha entusiasmo suficiente para ir votar se
chovesse muito no dia das eleições. O trabalho foi levá-los a votar com,
digamos, mais conforto: pelo Correio, por exemplo, ou, onde era
permitido, alguns dias antes da eleição. Conseguiram mais votos que o
espetacular número obtido por Trump. E quem garante que os Black Lives
Matters, com confusões e destruições, não deram a Trump mais votos do
que tiraram? O trabalho silencioso da oposição foi a chave da vitória.
Trump lutou (bem) a guerra anterior. Biden, a atual.
Dias de ira
Pode
ser que, repetindo a eleição anterior, predomine o voto contra: vota em
Lula quem quer se livrar de Bolsonaro, vota em Bolsonaro quem quer se
livrar de Lula. Mas pode ser que o jogo mude, abrindo caminho para
alguém que tenha algo a propor, e não apenas critique o que os outros
propõem.
Palavras exatas
Da senadora Simone Tebet, MDB: “é importante entender o silêncio dos que não foram às ruas”.
Do jornalista Josias de Souza, do UOL: “Bolsonaro diz que é imorrível, imbrochável e incomível, mas é só incompetente”.
Excelente notícia
Um
laboratório israelense está iniciando agora os testes em larga escala
de um remédio contra a Covid – um remédio de efeito rápido, custo baixo e
que permite alta escala de produção. Não é vacina, não previne: cura. A
reportagem saiu num jornal sério, o Jerusalem Post.
Veja o que já foi publicado (e a reportagem na íntegra) em https://go.shr.lc/3cbjeyx
Sem pão – haverá circo?
A
Argentina, onde seria jogada a Copa América, decidiu não realizá-la,
por causa da pandemia. A Colômbia foi a segunda opção, mas rejeitou a
proposta, por causa da pandemia. A Conmebol, então, decidiu na base do
“na falta de tu vai tu mesmo”, e acertou com o presidente Bolsonaro
realizar no Brasil a Copa América. Mas há alguns problemas: o Governo
Federal não tem estádios, e os Estados não querem o torneio. Primeiro,
quando não há leitos para brasileiros em UTIs, como garantir os leitos
para as seleções de outros países? Com novas variedades do vírus
surgindo pelo mundo, é hora de convidar centenas de estrangeiros? E para
que? Normalmente, essa Copa dá lucro para o país que a realiza:
turistas, hotéis cheios, movimento em bares e restaurantes. Na pandemia,
virão turistas gastar dinheiro? E, se trouxerem dinheiro, valerá a pena
facilitar a entrada de mais vírus? Ninguém se dispôs ainda a ceder
estádios. Já há ações pedindo à Justiça que proíba a tal Copa.
JBS vira alvo
A
filial americana da JBS sofreu forte ataque de hackers, que provocou a
paralisação de três frigoríficos. Os hackers dominaram os computadores e
exigiram resgate (não se sabe ainda se foram ou não atendidos). A JBS,
em contato com a Casa Branca, informou que os ataques parecem ter vindo
de criminosos com base na Rússia. O Governo americano está em contato
com o Governo russo, verificando as providências que podem ser tomadas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário