quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Dois papas, dois presidentes e duas ideologias.

 



No dia em que celebramos o legado de João Paulo II, Francisco assina acordo com o Partido Comunista Chinês. Ana Paula Henkel para a Oeste:


Nesta quinta-feira, 22 de outubro, a Igreja Católica comemorou o Dia de São João Paulo II. Foi nessa data que, em 1978, Karol Wojtyla celebrou sua primeira missa como papa, iniciando seu pontificado.

João Paulo II faleceu em 2005, mas o legado de João de Deus, como era carinhosamente chamado pelos cristãos brasileiros, não foi deixado apenas para os que vivem na fé católica, mas também para os que entendem o real significado da palavra liberdade. Há muitas evidências nas ações desse homem fantástico, respeitado por pessoas de todas as religiões e, inclusive, agnósticos, de que o mundo em que vivemos hoje talvez não seria tão livre e próspero se não fosse por diversas de suas obras com seus aliados, Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Ronald Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher tinham a verdadeira perspectiva histórica e defendiam os temas que estão na civilização ocidental desde os tempos greco-romanos e mesmo bíblicos. Eles entenderam que a liberdade não é o estado natural nem normal da sociedade, mas algo que é estabelecido por meio de um contrato social. Um contrato social no qual seus valores fundamentais devem ser reforçados e, quando necessário, protegidos contra as pressões do estatismo, como o da União Soviética, e as forças do mal, como o comunismo.

John Lewis Gaddis, professor de História Militar da Universidade de Yale, uma vez escreveu que, ao beijar o chão no Aeroporto de Varsóvia em 2 de junho de 1979, em sua primeira viagem como papa, João Paulo II iniciou o processo pelo qual o comunismo na Polônia — e finalmente em todos os lugares — chegaria ao fim.

Gaddis, que não é católico, mostra por que sua perspectiva sobre a queda do comunismo começa naquele dia de junho. Um milhão de poloneses se reuniram dentro e ao redor da Praça da Vitória em Varsóvia para uma missa pública — impensável na Polônia comunista, exceto pelo fato de que não pôde ser negada a um papa polonês. Enquanto João Paulo pregava a verdadeira história de seu país — a história de um povo formado por sua fé —, um canto rítmico ecoava pelas ruas até a praça: “Queremos Deus! Queremos Deus!”. Era a voz da Polônia, parte do bloco comunista, onde a guerra da doutrina marxista-leninista contra a religião imperava, gritando para o mundo todo ver e ouvir que a fé e a esperança não sucumbiriam ao comunismo, regime fortalecido quando o ateísmo se inicia.

Mas a ideologia nefasta que já havia matado milhões pelo planeta tinha um problema pela frente, um baita problema. Ronald Reagan e João Paulo II eram homens do mesmo tempo. Ambos ficaram horrorizados com a guerra nuclear, odiavam o comunismo e o regime da União Soviética. Os dois foram baleados, sobreviveram e perdoaram seus agressores. Cresceram pobres, foram atletas e, curiosamente, atores. E foi exatamente a vida teatral que lhes forneceu a entonação correta nos discursos, a conexão com o coração de quem os via e ouvia suas palavras, e a naturalidade para estar diante de grandes audiências. O papa e o presidente tinham o poder de hipnotizar as massas com seus discursos cheios de verdade, amor e uma fé tremendamente inspiradora.

Em suas primeiras observações da varanda da Basílica de São Pedro, o papa deixou claro o que pensava dos soviéticos. Reagan não apenas criticou o comunismo durante anos, mas foi o primeiro líder mundial a chamar o regime do que ele realmente é: “Evil empire”, ou império do mal.

O mais importante, e talvez o que tenha ligado tão profundamente o papa e o presidente norte-americano, é que ambos acreditavam piamente que foram chamados por Deus para fazer grandes ações pela liberdade do mundo. E, de fato, João Paulo II disse em 1982 que “a América era chamada, acima de tudo, para cumprir sua missão” e que “as condições indispensáveis de justiça e liberdade, verdade e amor, que são os fundamentos de uma paz duradoura, eram características da América”. Em sua primeira encíclica, escreveu que a liberdade religiosa era o direito humano essencial, um tiro direto nos soviéticos. João Paulo II também começou a rebaixar ou mesmo expulsar aqueles que sempre queriam “acomodar” comunistas dentro da igreja.

Para Reagan, que foi presidente do Sindicato dos Atores de Hollywood (Screen Actors Guild) e já conhecia todos os tentáculos do comunismo desde quando a ideologia tentava se infiltrar no cinema norte-americano nos anos 1950, não havia nada mais importante que a derrota da União Soviética. Quando ficou evidente que o Vaticano estava se unindo na luta contra o “comunismo sem Deus”, e isso deve ter causado arrepios nos antigos coletivistas do Politburo, o comitê central do partido comunista soviético, Reagan sabia que sua contraofensiva pesada ao Kremlin contaria com a colaboração da cúpula da Igreja. E isso foi crucial para a derrota do império do mal.

Na mesma semana em que celebramos o legado de João de Deus, o atual papa segue surpreendendo — e desapontando — fiéis pelo mundo. Depois de não perder tempo em se manifestar sobre pandemia, racismo, queimadas na Amazônia, união homoafetiva e capitalismo malvadão, entrando para o time do aplauso fácil, Francisco, até a conclusão deste texto, ainda não havia se pronunciado especificamente sobre as igrejas incendiadas pela extrema esquerda no Chile nesta semana.

A Igreja da Assunção, após ser invadida por vândalos encapuzados durante uma grande manifestação na capital chilena, foi tomada pelas chamas criminosas. Enquanto a estrutura era destruída, muitos dos criminosos filmavam as gigantescas labaredas e comemoraram o ataque: “Deixa cair, deixa cair!”. Quando uma das torres de uma das construções veio ao chão, em chamas, gritos da celebração atingiram altos decibéis. O silêncio do papa também continua ensurdecedor. Os protestos no Chile marcaram um ano das revoltas que aconteceram no país no fim do ano passado, quando manifestantes tomaras as ruas para reclamar das políticas econômicas do governo.

Não é apenas o silêncio do papa Francisco em relação aos incêndios criminosos em igrejas no Chile que incomoda os fiéis — e afirmo isso como uma católica praticante. Depois de recusar em setembro um pedido de encontro feito pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que representa a nação que mais defende a liberdade no mundo, o papa argentino decidiu renovar um acordo com o Partido Comunista da China sobre a nomeação de bispos. Na prática, a medida dá a Francisco a palavra final acerca da nomeação de lideranças católicas no país asiático. Antes do acordo provisório assinado em 2018 e renovado agora, a China se recusava a aceitar que a nomeação dos líderes religiosos viesse do Vaticano, uma vez que não reconhece o papa como chefe da Igreja Católica.

Não precisa ler novamente. Você leu isso mesmo. No dia 22 de outubro, quando celebramos o legado de São João Paulo II, que inclui a brilhante, essencial e espetacular luta contra o comunismo, o papa Francisco assinou um acordo com o Partido Comunista Chinês. A nota oficial do Vaticano diz que o acordo “pretende continuar o diálogo aberto e construtivo para promover a vida da Igreja Católica e o bem do povo chinês”.

Entre as recentes declarações no mínimo estranhas do papa Francisco, há duras críticas à visão de que o liberalismo econômico possa ser a resposta para os problemas sociais do mundo. Ele também afirmou que as limitações do capitalismo foram expostas pela crise provocada pela pandemia de coronavírus, mas que aqui vamos chamar de — Vossa Santidade, tape os ouvidos — vírus chinês. E por falar em capitalismo, o papa argentino ainda não se pronunciou sobre a excepcional economia socialista de Alberto Fernández em seu país.

João Paulo II e Reagan trabalharam juntos para pôr fim ao comunismo soviético ateu. Os dois tinham um plano divino para impedir o império soviético que estava envolvido em uma guerra contra a religião e as liberdades individuais. O trabalho de um papa e de um presidente ajudou a provocar o colapso do comunismo e gerou mais liberdade e oportunidades para as pessoas em todo o mundo.

A ascensão do capitalismo, junto com o colapso do socialismo, melhorou espetacularmente as condições de vida das pessoas em todo o planeta. Dados do Banco Mundial mostram que a parcela da população global que vivia na pobreza era de 42,3% durante o primeiro ano da Presidência de Ronald Reagan. Em 2018, caiu para 4,8%. Isso significa que quase 1,25 bilhão de pessoas saíram da extrema pobreza. Graças à liberdade e ao capitalismo. Shhh… fale baixo, seu herege.

Os (poucos) fiéis que ainda tentam defender as declarações progressistas de Bergoglio insistem que o silêncio sobre as igrejas queimadas no Chile, a perseguição a cristãos no mundo, os campos de concentração de uigures na própria China, e tantos outros eventos sérios que não mereceram a palavra da Santidade, é um silêncio sábio e humilde, inspirado por Deus para “não colocar mais lenha na fogueira” da discórdia. Fogo que merece lenha do papa, só o da Amazônia. E com os aplausos de Hollywood. Esse papa é pop.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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