Em entrevista, o ministro da Economia mostra que não vai abrir mão da
responsabilidade fiscal em nome da paranoia pandêmica. E que, por isso, é
o homem certo para cuidar do país. Reportagem da Revista Oeste:
“Vai dar tudo certo!” Foi assim que o ministro da Economia, Paulo
Guedes, começou uma live de duas horas no canal do banco de
investimentos BTG Pactual no YouTube ontem, segunda-feira 20, um dia
antes de Brasília, cidade de onde falava, completar 60 anos.
“Tenho enorme confiança na capacidade da democracia brasileira”,
continuou, antes de relembrar a situação crítica em que encontrou a
pasta no começo de 2019. Depois de 14 anos de desmazelos populistas do
PT, que deixou uma herança de recessão, inflação acima da meta e juros
elevados, Guedes acredita que o governo Bolsonaro teve um bom primeiro
ano, com aperfeiçoamento institucional.
Com isso, mesmo sob dúvidas, foi possível entregar logo de cara a tão
esperada e necessária Reforma da Previdência. Para Guedes, apesar de
não ter saído como ele queria, proporcionou como resultado uma economia
aos cofres públicos de R$ 1 trilhão.
“O presidente é um democrata, se vê uma passeata com uma bandeira do
Brasil ele entra, grita. Somos liberais-conservadores, que merecemos,
temos o direito de seguir com o mandato, mas o presidente é resiliente e
tem muita gente nos ajudando, inclusive muita gente que aparentemente
está brigando”, confessa Guedes.
Durante a entrevista, o ministro focou principalmente quatro temas: o
isolamento social; a eficácia das medidas do governo para mitigar a
crise do coronavírus; o plano para recuperação da atividade econômica; e
a retomada do processo de reformas estruturais, juntamente com os
custos do impacto fiscal da crise sobre elas.
Isolamento social
“O isolamento social tem nosso total apoio”, declarou o ministro.
“Mas há duas dimensões críticas. A primeira é a da saúde e a segunda é a
da economia, em que é preciso manter o máximo de teletrabalho,
fornecimento de energia — enfim, atividades econômicas que permitam que
as pessoas possam continuar a comer e a viver no mínimo de normalidade.
Nunca houve descaso com a saúde, mas não pode haver desconsideração de
nenhum dos lados.”
Eficácia das medidas do governo para mitigar a crise do coronavírus
“Desenhamos o Cadastro Único em alta velocidade para ajudar a quem
nunca precisou do governo, mas agora precisa”, comentou o ministro.
Ele enumerou cada uma das medidas aplicadas pelo governo e fez
questão de frisar a preocupação do presidente Jair Bolsonaro com aqueles
a quem chamou de “invisíveis” — trabalhadores informais que, não fosse o
recurso emergencial de R$ 600, não teriam como sobreviver durante a
pandemia. “O que pediu o presidente? Preservar vidas e empregos. ‘Temos
que trabalhar as duas ondas [vidas e empregos], temos que preservar os
sinais vitais da economia, como um urso hibernando, não pode virar uma
Grande Depressão’”, lembrou o ministro.
Guedes também apontou a importância de proteger as pequenas empresas
com a MP 936, que trata da manutenção de emprego e renda, e de não
permitir que sindicatos se envolvam nas negociações feitas sob a medida.
“Se você faz a empresa procurar o sindicato antes de negociar com o
trabalhador, ela demite”, defendeu.
Plano de ação para retomada da atividade econômica
O ministro afirma que o governo federal desenha uma saída em “V” para
o país. Isso porque o Brasil, ao contrário dos demais países, passava
por um momento de crescimento sustentável, com reformas estruturais em
andamento, quando a pandemia desembarcou por aqui.
“Vamos de novo surpreender o mundo.”
Paulo Guedes diz que não quer vender sonhos, mas que a tentativa tem
de ser sair da crise já de novo no crescimento, contrariando previsões
como a do FMI, que espera uma queda no PIB brasileiro de 5,3% para este
ano. “Se tentarmos duramente, poderemos sair em U. Se não tentarmos
nada, poderemos ficar no L mesmo”, expõe, referindo-se à curva de
crescimento da economia.
Para ele, a covid-19 é a variável desconcertante, tudo é muito
incerto. “O que se dizia lá fora é que um terço do colapso seria causado
pela quebra das cadeias globais de comércio, e o restante,
autoinfligido, com as pessoas parando de trabalhar por causa da crise”,
pontuou o ministro, que então comentou que, apesar de termos perdido
receitas em turismo e em serviços, passamos a ganhar em agronegócios e
exportações, principalmente para a China.
Segundo Guedes, o novo ministro da Saúde já está estudando uma saída
planejada do isolamento. Além disso, o ministro anunciou que um
microcrédito de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões deverá ser facilitado a
pequenas e médias empresas para que voltem a funcionar e um consórcio de
bancos privados está sendo formado para proteger cadeias produtivas.
Retomada do processo de reformas e como arcar com os custos do impacto fiscal da crise
“Tudo o que os governadores pediram ao presidente foi dado. É injusto
dizer que o presidente negou o que quer que seja”, apontou o ministro
antes de contabilizar um parrudo pacote que, no total, já chega a R$ 88
bilhões entre transferência de fundos, repasses e rolagens de dívida.
“Teve um governador do Nordeste que chegou a comentar que o ICMS
podia cair 59% que a rolagem da dívida já cobria a crise. Duas semanas
depois, voltam pedindo R$ 220 bilhões no cálculo do Mansueto. Isso não é
republicano! Não vamos transformar uma crise de saúde em uma farra
eleitoral, uma crise fiscal perpétua.”
Guedes afirma, no entanto, que o governo não fechou as portas ao
diálogo com os governadores em nenhum momento, ao contrário do que
muitos vêm tentando mostrar.
“Não cruzo o rio da irresponsabilidade fiscal.”
“Todos os níveis da federação devem se comprometer a não dar aumento
salarial ao funcionalismo neste ano e no ano que vem; essa é a
contrapartida que o Senado tem a responsabilidade de pedir”, afirmou o
ministro.
Ele disse que poderia exigir que os servidores públicos tivessem uma
redução de jornada e de vencimentos de 30%, já que estão todos em casa,
mas que isso causaria perda no poder de compra de todos, o que não é o
que deseja no momento. Para o ministro, o congelamento de salários do
funcionalismo público é a terceira torre a destruir para que o Brasil
continue a crescer. A primeira foi a queda dos juros, a segunda foi a
Reforma da Previdência e, agora, chegou a vez do funcionalismo, que, de
acordo com ele, chegou a ter aumentos de até 50% nos últimos dois anos e
pode ficar o mesmo período sem o acréscimo.
Indagado, ao final da entrevista, sobre uma possível Reforma Tributária, o ministro foi enfático:
“Não queremos aumentar os impostos. Acreditamos que o Brasil tem impostos demais, é um cipoal, é um manicômio tributário! O Brasil é hostil aos empreendedores, é hostil à criação de empregos. Inclusive, não desisti de atacar o problema de impostos sobre a folha de pagamento”.
Paulo Guedes também disse que pode empurrar a dívida bruta para cima e
continuar a estratégia que deu certo no ano passado, com a
desalavancagem de bancos públicos e vendas de reservas para diminuir o
endividamento do país. E avisou que no segundo semestre já quer retomar a
segunda onda de privatizações para sair melhor do lado de lá da crise
do que entrou.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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