"Em meio às intoleráveis
dificuldades impostas à liberdade de expressão nos anos 60 e 70, a
juventude daquela época viveu um engajamento que hoje não se observa em
quaisquer faixas etárias. Nada representa melhor a apatia política da
juventude brasileira na Era Lula do que os fones de ouvido". Artigo de
Percival Puggina, publicado em seu blog:
Há poucos dias fiz
aniversário. Embora costume brincar sobre o tema da minha idade dizendo
que tenho 73 anos, mas "de banho tomado fico como novo", o fato é que
algumas coisas mudaram na percepção que tenho da minha realidade
existencial. Assim: quando eu era jovem, contemplava o futuro como um
horizonte móvel. Ele se ampliava e se distanciava a cada passo dado.
Agora, eu o percebo fixo. A distância entre mim e ele encurta a cada
velinha soprada.
Um dos fascínios da
vida, aqui de onde eu a vejo, é a possibilidade de ouvir o que os jovens
falam e o que alguns dizem aos jovens. Nessa tarefa instigante de
ouvir, comparar e meditar volta e meia me deparo com a afirmação de que
os anos 60 e 70 produziram uma geração de jovens alienados. Milhões de
brasileiros teriam sido ideologicamente castrados em virtude das
restrições impostas pelos governos militares que regeram o Brasil
naquele período. Opa, senhores! Estão falando da minha geração. Esse
período eu vivi e as coisas não se passaram deste modo.
Bem ao contrário.
Nós, os jovens daquelas duas décadas, éramos politizados dos sapatos às
abundantes melenas. Ou se lutava pelo comunismo ou se era contra o
comunismo. Os muitos centros de representação de alunos eram disputados
palmo a palmo. Alienados, nós? A alienação sequer era tolerada na minha
geração! Havia passeata por qualquer coisa, em protesto por tudo e por
nada. Surgiu, inclusive, uma figura estapafúrdia - a greve de apoio, a
greve a favor. É sim senhor. Os estudantes brasileiros dos anos 70
entravam em greve por motivos que iam da Guerra do Vietnã à
solidariedade às reivindicações de trabalhadores. Havia movimentos
políticos organizados e eles polarizavam as disputas pelo comando da
representação estudantil. O Colégio Júlio de Castilhos foi uma usina
onde se forjaram importantes lideranças do Rio Grande do Sul. As
assembléias estudantis e os concursos de declamação e de retórica
preparavam a moçada para as artes e manhas do debate político. Na
universidade, posteriormente, ampliava-se o vigor das atuações. O que
hoje seria impensável - uma corrida de jovens às bancas para comprar
jornal -, era o que acontecia a cada edição semanal de O Pasquim, jornal
de oposição ao regime, que passava de mão em mão até ficar imprestável.
Agora, leitor,
compare o que descrevi acima com o que observa na atenção dos jovens de
hoje às muitas pautas da política. Hum? E olhe que não estou falando de
participação. Estou falando apenas de atenção, tentativa de compreensão.
Nada! As disputas pelo comando dos diretórios e centros acadêmicos,
numa demonstração de absoluto desinteresse, mobilizam parcela ínfima dos
alunos. Claro que há exceções nesse cenário de robotização. Mas o
contraste que proporcionam permite ver o quanto é extensa a alienação
política da nossa juventude num período em que as franquias democráticas
estão disponíveis à vitalidade da dimensão cívica dos indivíduos.
Em meio às
intoleráveis dificuldades impostas à liberdade de expressão nos anos 60 e
70, a juventude daquela época viveu um engajamento que hoje não se
observa em quaisquer faixas etárias. Nada representa melhor a apatia
política da juventude brasileira na Era Lula do que os fones de ouvido.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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