Vai-se o 2017 cheio de emoções, vem um 2018 repleto de incógnitas. Coluna de Dora Kramer na revista Veja desta semana:
Vamos lá encarar mais
um ano desta era de turbulências brasileiras. Apesar de todos os
pesares, perturbações muito bem-vindas e extremamente didáticas.
Começamos logo pelo julgamento que poderá condenar à prisão um
ex-presidente que, ainda assim, se diz disposto a disputar de novo o
cargo, animado pelo primeiro lugar nas pesquisas eleitorais a despeito
da enorme folha corrida de dívidas com a Justiça. Coisas do Brasil.
Vai-se o 2017 cheio
de emoções, vem por aí um 2018 repleto de incertezas e agitação. Há a
retrospectiva e a perspectiva. A primeira, no balanço do ano que se
encerra, poderia ser retratada graficamente por meio de aclives e
declives sucessivos, à moda das montanhas-russas. Nenhum momento de
sossego, o sobressalto permanente. A segunda, indicativa do futuro,
tampouco autoriza o desenho de cenários seguros: a incógnita permeia o
ambiente. Não é para menos, levando-se em conta que duas denúncias de
corrupção contra o presidente ungido por força do impeachment da
antecessora são algo inédito, nacional e internacionalmente falando. Já
os métodos de compra e venda de votos para impedir que avançassem as
investigações seguiram a malfadada tradição do fisiologismo, em versão
mais recentemente ampliada para a chantagem explícita contra
governadores, na tentativa de aprovar a reforma da Previdência,
prejudicada justamente por atos do presidente que resultaram nas
denúncias.
Se lhe salvou o
mandato, a metodologia não angariou a Temer respeito por parte dos
cidadãos. A quase totalidade do país o rejeita. Daí termos por óbvio que
a hipótese de Michel Temer se candidatar à reeleição, conforme ele
mesmo andou insinuando, é nula. Assim como não é crível que ele venha a
atuar como cabo eleitoral “substancioso”, para usar palavra dele em
momento de otimismo delirante.
Tomemos, então, a
alegada candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como
representante do governo em 2018. Por ora uma fantasia. Muito mais
destinada a pressionar o tucano Geraldo Alckmin a aderir às condições de
apoio do PMDB do que qualquer outra coisa.
Em abril, prazo final
para sua desincompatibilização do cargo, veremos se o ministro da
Fazenda fala sério ou se participa de uma falácia. Em princípio trata-se
da segunda hipótese. Aguardemos. Até lá, consideremos o seguinte:
Meirelles não tem apelo popular, charme pessoal ou capital de serviços
prestados à economia nem de longe parecido com o que possibilitou a
Fernando Henrique sair da Fazenda para o Planalto.
No campo eleitoral, o
governo ainda está a pé. Com a única vantagem de que não conta com
adversários consolidados como favoritos no cenário. Lula pendurado em
vários fios da lei, Bolsonaro na corda bamba do próprio despreparo,
Alckmin na linha de tiro da desconfiança do eleitorado em seu partido e o
resto por ora é o resto que também aguarda o desenrolar dos
acontecimentos, à espera da solução para a incógnita da complicadíssima
equação político-policial-jurídico-eleitoral desse 2018 nesta altura
ainda insondável.
Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2017, edição nº 2563
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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