O educador financeiro Augusto Bastos recomenda um uso mais consciente dos recursos como luz e água
As contas fixas, como a de energia
elétrica e água, devem ficar até 15% mais caras na Bahia este ano. A
previsão é dos especialistas no setor energético e de economistas, com
base no cenário de 2015 e projeções de juros e inflação para este ano
que começa.
Segundo o boletim Focus,
do Banco Central (BC), a mediana das estimativas para o Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2016 saiu de 6,80% para 6,87%.
O mercado financeiro acredita que o Banco Central vai elevar a taxa
básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 14,75%, ainda em
janeiro. Em abril, os juros terão chegado a 15,25% ao ano. A taxa
ficaria nesse nível até outubro e seria reduzida a 14,75% em dezembro.
Nesse
contexto, o consumidor continuará a sofrer com aumento da energia em
2016 - que deve seguir o mesmo patamar de 2015, podendo ter uma alta de
15%. Pelo menos é o que acredita o engenheiro elétrico Sérvulo Ramos,
que também é coordenador do Curso de Engenharia Elétrica na Faculdade
ÁREA 1 Devry Brasil.
Jorge Soares pretende cortar os gastos domésticos para driblar os aumentos
(Foto: Evandro Veiga/Correio) |
“Depende
de uma série de fatores, mas não acredito que as tarifas devam aumentar
mais. O patamar deve ser o mesmo”, afirma Ramos. Em 2015, o aumento
médio da tarifa pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia
(Coelba) foi de 10,45% (para baixa tensão) e 13,34% (para alta tensão).
Com relação à energia, o Banco Central estima que a alta será de 4,6% ao
longo de 2016. Mesmo tendo forte influência do cenário econômico do
país, o reajuste médio das tarifas de energia em 2016 ainda está sujeito
a variáveis, entre elas o ritmo das chuvas e o efeito sobre o sistema
de bandeiras tarifárias.
Segundo Ramos, um ponto importante para um menor
preço da energia para o consumidor final seria o desligamento das usinas
térmicas. As empresas elétricas têm tido grandes gastos com a geração a
partir dessas usinas, utilizadas nos últimos anos para compensar o
baixo nível nos reservatórios das hidrelétricas.
De acordo com o administrador, contador e educador
financeiro pela Fundação Getulio Vargas (FGV) Augusto Bastos, as
dificuldades previstas para este ano devem ser parecidas ou piores do
que as enfrentadas no ano passado. “Tanto nas contas de água, luz, gás,
etc, podemos esperar que as concessionárias realinhem os preços para, no
mínimo, o mesmo nível da inflação”, afirma ele, que ensina na
pós-graduação da Universidade de Salvador (Unifacs).
Bastos especula que os aumentos de energia e de água
no estado devem ser bem próximos dos repassados em 2015. “A inflação
pressiona esses preços fixos, que são insumos não só para as famílias
como para o setor produtivo. Para que sejam feitos novos investimentos,
inevitavelmente, o preço será repassado”, fala.
A economista e professora da Universidade Federal da
Bahia (Ufba) Gisele Ferreira Tiryaki ressalta que o cenário econômico
deve continuar difícil este ano. “Apesar da redução na atividade
econômica e no desemprego reduzirem as pressões inflacionárias,
espera-se ainda inflação de custos (energia elétrica e combustíveis),
alguma inflação inercial (ajustes de preços e salários, realinhando
perdas anteriores e incorporando expectativas de aumento futuro), e
pressão de preços por conta dos elevados gastos públicos”, analisa.
No âmbito energético, Gisele considera que, apesar
da melhora nos reservatórios de hidrelétricas com as últimas chuvas, a
população ainda paga elevadas tarifas. “Quanto à água, o reajuste
depende da inflação e de custos fixos da Embasa, dos quais a energia
elétrica tem um peso importante”, explica. Em 2015, o reajuste foi de
12% na Bahia.
Contas variáveisCom
a expectativa de inflação acima do teto, entre 6,9% e 7%, a Associação
dos Executivos de Finanças (Anefac) projeta que a alta em custos
variáveis, como serviços e combustível, seja menor do que em 2015.
“Temos um fator a favor de aumentos, que é a inflação ainda considerada
alta. Com o dólar batendo na casa dos R$ 4, a economia apresenta um
risco maior, principalmente no setor de bens duráveis, o que pressiona
os custos. Inflação alta é sinônimo de juros maiores”, diz o diretor da
Anefac Miguel de Oliveira.
Com uma economia menor, há uma retração nas vendas.
“O baixo consumo deve fazer com que empresas não repassem todos os
custos. Provavelmente, terão que reduzir os custos internos para
continuar vendendo”.
A economista Gisele Tiryaki também espera uma
manutenção ou elevação no preço da gasolina. “Não vejo a redução no
preço internacional sendo repassada para o mercado interno, em virtude
das dificuldades enfrentadas pela Petrobras”, indica.
As projeções dela para os preços dos bens de consumo
são positivas. “Não espero elevação de preços de bens de consumo ou
serviços, por conta da demanda desaquecida. O padrão aquecido do Natal
não será mantido”.
O que fazer?Com
as projeções de aumentos para os custos fixos e de alguns dos custos
variáveis, a recomendação do educador financeiro Augusto Bastos é que os
consumidores aproveitem para ter um uso mais consciente dos recursos
como luz e água. “Não tem só a ver com uma redução de custos”, diz o
especialista.
Para quem não
previu aumentos no orçamento de 2016, ele recomenda que se faça uma
análise financeira e coloque uma margem em todas as despesas, de janeiro
a dezembro. “O importante é começar a diminuir o consumo dessas coisas e
usar de forma racional. Evite desperdícios e só use o que for
necessário”, sugere.
Para fechar a conta do orçamento de 2016, a
estratégia do administrador Jorge Soares, de 52 anos, vai ser manter a
contingência de gastos. “Vou ter que colocar tudo no papel, definindo o
que é prioritário e o que não é. Só vou comprar o que efetivamente for
preciso comprar”, revela.
O peso das despesas fixas no orçamento familiar,
inclusive, já fez com que o administrador projetasse os reajustes que
devem ocorrer nos gastos que mais apertam o orçamento, como água, luz e
alimentação. “Calculei uma média aritmética em cima do que venho
consumindo nos últimos seis meses. Isso me deu uma ideia de mais ou
menos quanto devo gastar a mais com esses reajustes, e, principalmente,
com a inflação”, conta. Com as contas organizadas em uma planilha, o
orçamento familiar para 2016 deve ter um aumento médio de 34%. “Em todas
as despesas, coloco uma projeção de segurança, com mais 5% para
emergências”.
O engenheiro mecânico Francisco Moura, 56, confessa
que, se as projeções dos especialistas se concretizarem, o jeito vai ser
mesmo cortar despesas. “É difícil cortar, mas todo mundo vai ter que
fazer, porque não tem outra opção. Esses aumentos pesam no condomínio,
na conta de luz (que representa 3,5% dos custos fixos), no combustível
(que hoje representa 10% do orçamento) ”, afirma.
Planilhas de controle
O economista e educador financeiro Edisio Freire disponibilizou três planilhas para que você, leitor, coloque na ponta do lápis todas as suas contas. Com elas dá para fazer o diagnóstico financeiro, controlar o orçamento doméstico e até as dívidas. Aproveite e faça uma previsão dos aumentos este ano. Para baixá-las, clique nos links a seguir.
O economista e educador financeiro Edisio Freire disponibilizou três planilhas para que você, leitor, coloque na ponta do lápis todas as suas contas. Com elas dá para fazer o diagnóstico financeiro, controlar o orçamento doméstico e até as dívidas. Aproveite e faça uma previsão dos aumentos este ano. Para baixá-las, clique nos links a seguir.
Colaborou Priscila Natividade
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