sábado, 28 de junho de 2014

Plano Real comemora 20 anos em 1º de julho com novos desafios pela frente


Combater a alta inflação é o maior problema para resolver atualmente

Plano Real comemora 20 anos em 1º de julho com novos desafios pela frente /Divulgação
Zefiro Giassi, presidente do Giassi, tinha a missão de coordenar a troca de preços durante a hiperinflação Foto: Divulgação
Etiquetar semanalmente 40 mil itens era um dos menores problemas do empresário Zefiro Giassi, presidente da rede de supermercados catarinense que leva o seu nome, no período de hiperinflação. Assim como centenas de empresários do Estado, ele teve de superar períodos em que as altas de preços chegavam a 80% ao mês no início dos anos 90 e havia desabastecimento.

— No intervalo da soneca do meio-dia já perdíamos dinheiro. Os rótulos dos produtos rasgavam de tanto que trocávamos as etiquetas — relembra Giassi, que na época tinha cinco lojas.

Do outro lado do balcão, Daltro Soldatelli, engenheiro agrônomo aposentado e pai de cinco filhos, era o responsável pelas compras da família. Sem saber quanto um produto poderia custar no dia seguinte, o jeito era investir em um rancho mensal e estocar produtos em casa.

Com a chegada do Plano Real, em julho de 1994, e o controle do dragão que assolava o bolso dos brasileiros, empreendedores como Giassi e clientes como Soldatelli conseguiram ganhar confiança e aos poucos mudar a forma como se consome e faz negócio no país. Com a estabilidade da moeda, as compras passaram a ser feitas quase todos os dias e em pequena quantidade. Empreendedores ganharam confiança para traçar planos de expansão e ampliar a oferta de produtos e serviços.

Agora, prestes a completar 20 anos na terça-feira, o real entra em nova fase de desafios. Depois de andar afastada dos noticiários, a inflação começou a atrair atenção a partir de 2010, quando se aproximou do teto da meta anual de 6,5% estabelecida pelo Banco Central (BC).

Para o ex-presidente do BC Gustavo Franco, que fez parte da equipe que criou o real, o principal problema da economia brasileira hoje está ligado à política fiscal.

— Eu adoraria que o BC não tivesse de subir o juro de novo. O ideal seria se a gente tivesse criado uma política fiscal consistente com juro baixo, isso seria o sonho.
A definição do nível de juro nunca é feita isoladamente da política fiscal, é o reflexo dela — afirma.

Política de preços precisa de revisão
José Álvaro de Lima Cardoso, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em SC, afirma que é necessário haver a desindexação dos preços, ou seja restringir o uso de índices de inflação para reajustar valores.

— A cultura inflacionária é muito latente, tem de estar vigilante. A política monetária deve ser adequada, além de um sistema de acompanhamento de preços — avalia.

O professor da Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) João Rogério Sanson reforça que a inflação não está controlada, embora hoje a economia reaja mais à política econômica, monetária e fiscal do que antes do real. Ele alerta que se continuar próximo ao teto da meta, fica cada vez mais difícil o índice voltar para o centro.  

DIÁRIO CATARINENSE

Nenhum comentário:

Postar um comentário