segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Apagão na Ilha de SC completa 10 anos e população relembra caos


Incêndio deixou a cidade sem luz durante 55 horas em 2003.
Moradores contam momentos vividos; Celesc investiu em obras no setor.

Do G1 SC
 Era uma quarta-feira de outubro de 2003 quando técnicos da empresa de energia elétrica faziam manutenção de rotina em cabos de alta tensão que ficam na Ponte Colombo Salles, que liga a Ilha de Santa Catarina ao continente. Eles usavam maçarico alimentado por um botijão de gás, que explodiu. Depois disso, mais de 130 mil unidades consumidoras da Ilha  ficaram sem luz por 55 horas. O episódio ficou conhecido como apagão e completa 10 anos nesta terça-feira (29). Os moradores que presenciaram os mais de dois dias inteiros sem luz contam algumas histórias trágicas e outras curiosas sobre os momentos vividos, conforme mostra a reportagem especial feita pelo Estúdio Santa Catarina (veja vídeo acima).
A ponte Hercílio Luz, cartão postal de Florianópolis, ficou parcialmente apagada (Foto: Reprodução RBS TV)A ponte Hercílio Luz, cartão postal de Florianópolis,
ficou parcialmente apagada
(Foto: Reprodução RBS TV)
Em poucos minutos, a cidade parou. Com os semáforos desligados, acidentes começaram a acontecer. Os túneis foram interditados pela falta de ventilação e pelo risco de assaltos. Lojas e escolas fecharam as portas e, além de não ter energia, a população também ficou sem água. O policiamento foi reforçado nas ruas e a população não tinha noção de quando poderia voltar à rotina.
Lucas nasceu durante o apagão e completa 10 anos nesta terça-feira (29) (Foto: Reprodução RBS TV)Lucas nasceu durante o apagão e completa 10 anos
nesta terça-feira (29) (Foto: Reprodução RBS TV)
A dona de casa Luciane Espíndola Rogério estava na sala de parto da maternidade, pronta para dar a luz ao terceiro filho, quando a cidade ficou às escuras. O procedimento foi interrompido momentaneamente, mas o menino Lucas nasceu em meio ao apagão e na próxima terça-feira completa 10 anos.
"Já tinham colocado o soro, eu estava com dores e estava tudo pronto. Então ficou tudo escuro, o soro parou e as dores pararam também. O médico não percebeu na hora e só depois tomei toda a medicação de novo e ele nasceu", relembra a mãe.
A história também foi feliz para Larissa Padilha e André Mafra. Na primeira noite do apagão, com as aulas da faculdade canceladas, Larissa decidiu ir ao shoppping. André teve a mesma idéia e os se conheceram. Depois disso, começaram a namorar e se casaram. Atualmente, a família ainda inclui o filho do casal, Enzo, de 5 anos.
Larissa e Andre se encontraram no shopping, na primeira noite do apagão (Foto: Reprodução RBS TV)Larissa e Andre se encontraram no shopping, na
primeira noite do apagão (Foto: Reprodução RBS TV)
"Vi ela de longe e levei um bilhete pra ela, mas ela nem deu bola, conta o empresário. "A gente nunca ia se encontrar, não tínhamos amigos em comum, nem faculdade, nem lugares que frequentávamos. Estava 'esculhambada' e era final de noite. Nunca imaginava que aquele dia iria encontrar o homem da minha vida e o pai do meu filho", complementa Larissa.
Para a maioria dos moradores da Ilha, porém, as lembranças não são de comemorações. No segundo dia sem energia elétrica, os prejuízos aumentaram. Estimativas do comércio local dão conta que o setor deixou de arrecadar cerca de R$ 20 milhões. Os postos deixaram de vender mais de 500 mil litros de combustível.
"Foi um caos total. Nós imaginávamos que a energia voltaria logo em seguida. Mas o tempo foi passando, uma, duas, três horas, e nada. Foi uma calamidade geral", disse o administrador Joel Fernandes.
Para os comerciantes de alimentos e bebidas, que precisavam de refrigeração para manter a mercadoria, o prejuízo foi inevitável. O comércio ficou fechado por três dias. O apagão teve repercussão nacional e autoridades se mobilizaram para ajudar. Com medo de um novo apagão, comerciantes investiram em geradores.
O acidente
Após a explosão do botijão de gás, três trabalhadores conseguiram correr. Outros dois se jogaram no mar de uma altura de 20 metros e foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros.
O  ex-diretor técnico da Celesc Eduardo Sitônio, que coordenou as ações na época, acredita que ocorreu uma fatalidade. Segundo ele, a manutenção que estava sendo feita nos cabos no momento do acidente era um procedimento comum. "Até hoje, após diversas investigações, ninguém conseguiu concluir que foi isso ou aquilo. As pessoas que estavam lá eram treinadas e a equipe que estava ali era a melhor que nós tínhamos. Não tinha nada de diferente e ainda era um cabo de baixa tensão", disse ele.
Para reestabelecer o sistema, Sitônio lembra que o maior desafio foi organizar as funções para os 500 funcionários e colocar em prática o que teria sido apontado como a solução para o problema. Nunca havia acontecido nada semelhantes antes. Cabos provisórios foram montados ao lado da ponte na tentativa de reestabelecer o sistema. "Quando tentamos ligar, os cabos encostaram na passarela da ponte e tivemos que desligar. Quando finalmente conseguimos, foi um orgulho muito grande", afirmou ele, emocionado.
Melhorias no sistema
Local onde ocorreu o acidente tem monitoramento eletrônico (Foto: Reprodução RBS TV)Local onde ocorreu o acidente tem monitoramento
eletrônico (Foto: Reprodução RBS TV)
Dez 10 anos depois, a equipe da RBS TV voltou à galeria da Ponte Colombo Sales, onde o acidente ocorreu. Como só os técnicos podem ter acesso ao local, uma câmera foi entregue a eles, para que registrassem a atual situação. O trecho onde houve a explosão é mais escuro e fica exatamente no vão central da ponte. No corredor que fica embaixo da ponte, há uma rede com nova tubulação e monitoramento eletrônico.
A partir desse acidente, a Celesc investiu em novas obras para melhorar as condições de abastecimento. Entre as inovações está uma conexão elétrica submarina entre o continente e a ilha, duas linhas de transmissão subterrâneas e esta subestação, que fica no Bairro da Agronômica.
"Aqui na Ilha, especificamente, nós teremos até 2019 mais três subestações. Vamos aumentar em 30% a nossa capacidade de distribuição de energia. Para ter um novo apagão, nós teríamos que perder as duas fontes alimentadoras, ou seja, tanto o cabo submarino quanto o cabo da ponte ao mesmo tempo. O que é muito difícil, salvo algo maior", explicou o diretor-presidente da Celesc, Cleverson Siewert.
Decisão judicial
Na última terça-feira (22), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou a sentença que condenou a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) ao pagamento de R$ 5 milhões de indenização aos consumidores da Ilha de Santa Catarina pelo apagão.
A sentença da Justiça Federal de Florianópolis considerou a estatal culpada pela falta de precauções durante a obra na Ponte Colombo Salles, que liga a Ilha ao continente. O desembargador federal Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, relator do processo, a responsabilidade pelos danos à população é da Celesc. “Não há dúvidas de que o rompimento dos cabos de fornecimento de energia elétrica foi proveniente da atuação dos funcionários da empresa, que utilizaram um liquinho na produção de um maçarico para realizar o conserto”, argumentou ele. A decisão cabe recurso.

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