Segundo livro de tetralogia será lançado na Flip 2024, com bate-papo com a jornalista Paula Jacob no dia 11 de outubro
“Mais
uma vez Veronica conseguiu escrever uma história com a dose certa de
mistério e intrigas para nos fazer ficar completamente ligados ao
andamento da narrativa. Eu, que já tinha gostado de Isabel em ‘Verão’,
agora me sinto ainda mais próxima dela, como se tivesse passado o tempo
da leitura com uma amiga. Adorei especialmente a maneira como o inverno
aparece pontualmente no romance, cheio de significado.”
Tamlyn Ghannam (@literatamy), influenciadora literária, no texto da quarta capa
Fruto
de uma relação interracial, mas criada unicamente pela parte branca da
família, Isabel é uma mulher em busca de sua própria identidade. A
piauiense Veronica Botelho (@verobotelho) apresenta “Inverno” (e-Galáxia,
178 págs.), seu novo livro de “As Estações”, série não sequencial que
começou com o romance “Verão”, publicado em 2023. A
obra será lançada durante a Festa Literária Internacional de Paraty
(Flip) 2024 no dia 11 de outubro, às 18h30, na Casa Escreva, Garota!,
com uma mesa de debate com a jornalista Paula Jacob, colunista da Vogue,
sobre “A (des)obrigação de ser genial: Reflexões Sobre Criatividade,
Expectativas e a Liberdade de Errar”, seguida de sessão de autógrafos.
O
racismo desde o ambiente familiar é o ponto de partida da história de
Isabel. Longe de ser apenas um artifício ficcional, o preconceito em
famílias inter-raciais é uma realidade presente em muitas casas
brasileiras. A psicóloga social Lia Vainer Schucman, especialista em
estudos de branquitude, investiga as tensões entre cor e amor a partir da ideologia do embranquecimento que aponta branco como “melhor” ou superior e determina também a hierarquia do indíviduo negro no ambiente familiar.
Em
“Inverno”, Isabel sente na pele essas tensões. Na relação com avó
branca, por exemplo, que condiciona o afeto que destina a garota ao
“apesar” de sua cor. Mesmo na interação Madalena, mãe amorosa de Isabel,
o racismo aparece em pequenos elementos do cotidiano, como a própria
defesa da avó racista.
Apesar de ser uma história totalmente independente, “Inverno”
se passa no mesmo universo de “Verão”. Rebecca, protagonista do
primeiro livro, é personagem também na nova história — a amiga próxima
de Isabel desempenha um papel central no processo de autodescoberta e os
conflitos resultantes desse relacionamento.
Uma mulher a procura de si
Isabel
cresceu com a família materna em Maceió (AL), em um lar marcado por
tensões raciais e silêncios que desvalorizam seu esforço em se encaixar.
Criada pela mãe Madalena, sem saber quase nada sobre a origem do pai, a
única referência que tem do mesmo é o relato de um abandono paterno,
enfatizado constantemente pelo racismo da própria avó.
A
personagem inicia sua jornada de autodescoberta a partir da revelação
de cartas escritas pelo pai que contradizem a narrativa de sua origem
que a acompanha desde o nascimento. A jornada de se aproximar do pai
Renato e, principalmente, da tia Clotilde, transforma-se em um mergulho
em suas raízes e na descoberta de sua ancestralidade, que foi sempre
negada ao viver em um lar predominantemente branco.
Nesse
processo, Isabel se muda para Aracaju (SE) e posteriormente para a
Itália, onde, na companhia de Rebecca e outras amigas, busca entender
quem realmente é, enquanto lida com a solidão, o peso da expectativa
familiar e a descoberta de sua sexualidade.
Por
vezes a solidão é o principal antagonista de Isabel, uma personagem com
dificuldade de expressar-se livremente e entender seus próprios
sentimentos. Nesse contexto, a personagem se envolve com Regina, uma
mulher tão fascinante quanto complicada que interfere diretamente no
amadurecimento de Isabel e também nas relações que ela estabelece a
partir disso.
A tensão dos relacionamentos familiares, de amor e amizade estão no centro da história de “Inverno”.
Passando por inúmeros episódios onde o afeto se torna uma ferramenta
abusiva e limitadora, Isabel precisa entender qual é o seu próprio
caminho independente das pessoas que a cercam.
Da psicologia à escrita: conheça Veronica Botelho
Natural
de Floriano, no Piauí, Veronica Botelho é licenciada em Psicologia
Social e das Organizações e atualmente cursa mestrado em Psicologia e
Neurociência da Saúde Mental. Seu primeiro livro de ensaios, “Meias
Verdades”, foi publicado em 2016. A autora viveu no Brasil, Costa do
Marfim, Inglaterra, Bolívia, Argentina, Espanha, Itália e Catalunha,
onde teve experiência na atenção e inclusão de refugiados.
Os
estudos de Veronica sempre foram direcionados a entender as diferenças,
inicialmente com foco no universo acadêmico. “O que escrevia, estudava,
tinha um único intuito: como podemos conviver pacificamente aceitando
as nossas diferenças”, explica. O primeiro livro da autora, “Meias
Verdades” é um compilado de crônicas que refletem sobre o tempo, amor,
racismo, xenofobia e ética política.
A
autora lembra de sempre ter escrito muito para si mesma. “Minha avó
dizia que eu escrevi a minha primeira poesia quando tinha 4 anos”,
recorda-se. Ela passou por agendas e diários, chegou a escrever peças de
teatro na escola, além de participar de um jornal escolar. Morando
fora, o hábito de enviar cartas para família e amigos também compôs sua
experiência na escrita.
Desde
a escrita de “Verão”, sua primeira incursão pela ficção, Veronica já
sabia que faria uma tetralogia. “As histórias se interconectam. São
histórias que se encaixam, sem serem sequenciais”, explica, apontando
que suas personagens também têm muito em comum com suas próprias
experiências. Como Rebecca, protagonista de “Verão”, a autora perdeu o
pai na infância. Aborda também sua experiência de imigração,
“bilinguismo”, retratada em “Inverno”.
Do Inverno ao florescer de Isabel
Frisando a importância das amizades e das conexões, Veronica acredita que “Inverno”
tem como mensagem os relacionamentos que nos moldam e como o passado
faz parte da construção do presente. Com seu estilo de escrita intimista
e reflexivo, a autora entrega uma narrativa fragmentada que se usa da
não linearidade para transitar em diferentes tempos e espaços.
Como
primeiro romance, a escrita de “Verão” começou quase como uma
brincadeira, sugestão do parceiro da autora. “Escrevê-lo foi uma das
experiências mais fascinantes da minha vida”, conta Veronica, que
chegava a passar sete ou oito horas escrevendo sem parar. “Entrava em
estado de flow. Aquele hic et nunc onde os insights surgem, se interconectam, e a arte nasce.”
A
autora descreve esse estado como hipnótico e destaca a importância de
respirar literatura nesse processo: “Quando não estava escrevendo o
livro, estava lendo”. Veronica levou apenas dois meses e meio para
escrever “Verão”, durante o inverno na cidade província de Girona na
Espanha, parte da comunidade autônoma da Catalunha. A escrita de “Inverno” é uma curiosa resposta ao primeiro livro, que escreveu durante o verão na mesma cidade.
Veronica
conta que suas influências são diversas, seja na arte ou nas conversas
que escuta dentro de ônibus, bares, etc., em seu dia a dia. Na
literatura, reconhece que sua iniciação foi marcada por homens brancos.
“Luis Fernando Veríssimo por muitos anos foi o meu maior ídolo. Li
praticamente tudo o que ele publicou”, comenta, citando outros nomes de
referência, como Nelson Rodrigues e Caio Fernando de Abreu. Mas a autora
também pontua a importância de escritoras como Clarice Lispector,
Rosamunde Pilcher e Isabel Allende.
Atualmente
consumindo bastante literatura contemporânea brasileira, a escritora
destaca autores como Giovana Madalosso, Jeovanna Vieira, Carla Madeira,
Julia Dantas, Tiago Ferro e Nara Vidal em sua prateleira. A experiência
no exterior também marcou sua formação com a descoberta de autoras como
Toni Morrison, Maya Angelou e Chimamanda Adichie.
Confira um trecho do livro:
“Naquele
instante, Isabel se viu como o piso da sua avó, os tecidos da sua tia, e
aquele vaso de Florença: pedaços de muitos lugares, algumas cicatrizes
que eram apenas marcas que a tinham feito mais forte, e outras que se
abriam em carne viva, como as goteiras do teto da casa de sua mãe.”
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